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Microplásticos no cérebro: o impacto invisível de um poluente onipresente (48 notícias)

Publicado em 19 de janeiro de 2025

Estudo inédito da USP revela partículas microscópicas de plástico no bulbo olfatório humano, levantando preocupações sobre os efeitos na saúde

Pequenos demais para serem vistos a olho nu, os microplásticos estão em todos os lugares: alimentos, bebidas, solo, ar e até no corpo humano. Agora, cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) detectaram essas partículas no cérebro humano pela primeira vez, especificamente no bulbo olfatório, estrutura responsável por processar cheiros.

O estudo, conduzido por Thais Mauad, Luís Fernando Amato Lourenço e Regiani Carvalho de Oliveira, analisou amostras de oito pessoas que viveram por pelo menos cinco anos em São Paulo. Utilizando protocolos rigorosos para evitar contaminações e técnicas avançadas de análise no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, os pesquisadores encontraram de uma a quatro partículas de microplásticos por fragmento de bulbo analisado, com tamanhos variando entre 5,5 e 26,4 micrômetros.

A maior parte das partículas identificadas era composta por polipropileno (PP), amplamente utilizado em embalagens e equipamentos médicos. Também foram detectados polietileno e outros polímeros. Os resultados, publicados na revista JAMA Network Open , reforçam a preocupação com os efeitos dos microplásticos em um órgão tão protegido como o cérebro, uma vez que esses materiais precisaram atravessar a barreira hematoencefálica, um filtro natural que impede a entrada de compostos prejudiciais.

Estudos anteriores já haviam associado os micro e nanoplásticos a inflamações, morte celular e outros problemas em experimentos com animais. Além disso, uma pesquisa italiana recente sugeriu que a presença desses materiais em placas de gordura nas artérias pode estar ligada a um aumento significativo no risco de infarto e AVC.

Com o aumento exponencial da produção de plásticos desde a década de 1950, é impossível eliminar totalmente a exposição a micro e nanoplásticos. No entanto, especialistas recomendam medidas individuais, como reduzir o uso de utensílios plásticos e evitar alimentos embalados nesse material.

Embora os impactos precisos na saúde humana ainda sejam estudados, o consenso entre os cientistas é claro: a presença de microplásticos no cérebro é um alerta de que os limites da poluição plástica já foram ultrapassados, exigindo ações urgentes para mitigar seus efeitos.