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Notícias ao Minuto (Portugal)

Método usado na vacina do ébola pode ser eficaz contra novo coronavírus

Publicado em 25 março 2020

Por Liliana Lopes Monteiro

Um grupo de cientistas brasileiros sugere que a mesma perspetiva usada na elaboração da vacina contra o ébola pode ser útil para produzir um novo imunizante, desta feita contra a pandemia da Covid-19.

O método alternativo tendo como base a vacina contra o ébola está a ser produzido pela farmacêutica norte-americana Flow Pharma numa parceria conjunta com investigadores brasileiros. Espera-se que a técnica possa originar a criação de um imunizador contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, segundo informações divulgadas hoje pela revista Galileu.

O ébola é um vírus hemorrágico que ataca a imunidade do organismo e que se propagou na África Ocidental entre 2013 e 2016, sendo muitas fatal.

Os resultados dos testes do imunizador realizados em roedores foram descritos num artigo científico publicado no final de fevereiro no periódico bioRxiv.

“Uma abordagem semelhante à usada para desenvolver a vacina contra o ébola pode ser possivelmente aplicada contra o novo coronavírus”, disse à Agência FAPESP Edécio Cunha Neto, professor do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

A composição da vacina contra o ébola inclui partes de proteínas (peptídeos) do vírus, que por sua vez estimulam o sistema imunitário e tendem a propiciar uma resposta protetora.

Os investigadores usaram algoritmos computacionais, de modo a localizar as regiões da estrutura do vírus ébola nas quais existe uma maior probabilidade de identificação desses peptídeos que poderão ser empregados como antígenos para o desenvolvimento da vacina.

A Galileu explica que um dos critérios que estabeleceram para os algoritmos localizarem essas potenciais regiões na estrutura do vírus é que teriam de estar em perfeito estado de conservação. O que assegura que a vacina será eficaz mesmo contra variantes do patógeno. Mais ainda, outro critério é que as regiões escolhidas sejam capazes de serem reconhecidas pelo sistema imunitário da maioria da população.

“Esse critério é muito importante porque garante a cobertura ampla da vacina, uma vez que essas regiões do genoma viral mudariam muito pouco de um microrganismo que circula num determinado local em relação ao que está a surgir noutro, e o sistema imunitário dos pacientes induzirá a resposta contra a vacina”, elucidou Cunha Neto.

Os peptídeos selecionados foram testados em células de 30 pacientes sobreviventes do surto do ébola no Zaire, entre 2013 e 2016. Tendo como base os dados apurados, foi fabricada uma vacina experimental com a NP44-52 encapsulada em microesferas, na forma de um pó seco, estável à temperatura ambiente e biodegradável.

Os resultados da pesquisa apontaram que a vacina originou uma reação imune protetora nos animais 14 dias após uma única dose.

“A plataforma que desenvolvemos possibilita a fabricação e a implantação rápida de uma vacina de peptídeo para responder a uma nova ameaça viral”, afirmam os autores no artigo.

Vacina contra a Covid-19?

Os autores da pesquisa defendem que a mesma abordagem poderia ser aplicada à Covid-19, isto porque o vírus tem igualmente regiões conservadas, sendo possível identificar peptídeos potenciais para o desenvolvimento de uma candidata à vacina.

“Se agirmos agora, durante a pandemia de Covid-19, talvez seja viável recolher e analisar amostras de sangue e criar rapidamente um banco de dados de peptídeos ideais para inclusão numa vacina com cobertura potencialmente ampla, com desenvolvimento e fabricação rápidas”, afirmam.

“A ideia de usar a mesma estratégia da candidata à vacina do ébola para desenvolver um imunizante contra a Covid-19 é da farmacêutica norte-americana”, afirmou à revista Galileu.

O cientista e algumas das maiores autoridades mundiais em imunização, destacando-se Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), creem porém que o desenvolvimento de uma candidata à vacina contra a Covid-19 deverá levar entre um ano a um ano e meio.