Tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Unicamp encontrou compostos químicos que podem representar danos à saúde
A N-nitrosodimetilamina, uma das nitrosaminas conhecidas por aumentar o risco de câncer, foi incluída em maio deste ano na lista de subprodutos de desinfecção formados durante o processo de tratamento de água que devem ser monitorados por representar danos à saúde.
Estudo feito por pesquisadores do LQA-IQ-Unicamp (Laboratório de Química Ambiental do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas) é um dos primeiros a criar um método para esse monitoramento no Brasil.
Em artigo publicado na revista científica Environmental Science and Pollution Research, o grupo mostra a eficácia dessa ferramenta desenvolvida e validada, de acordo com as especificações do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), para detectar sete nitrosaminas em níveis de concentração traço (nanograma por litro) em água tratada para abastecimento público.
O trabalho contou com o apoio da Fapesp em dois projetos de pesquisa - um sobre contaminantes aquáticos e outro sobre o uso de líquidos iônicos em processos fermentativso – e do INCTAA (Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas).
O método foi usado para analisar 18 amostras de água coletadas em maio de 2019 em sistemas de 13 cidades da Região Metropolitana de Campinas. O resultado: a NDMA foi a mais frequentemente detectada (em 89% das amostras) e teve o maior nível de concentração (67 ng L?1). Além dela, foram identificadas NMEA, NPYR, NDEA, NPIP, NDPA e NDBA.
A análise também mostrou que todas as amostras continham pelo menos duas nitrosaminas diferentes. Três delas – NDMA, NPYR e NPIP – foram encontradas em mais de 70% das amostras recolhidas.
“As concentrações de nitrosamina relativamente altas podem ser atribuídas à baixa qualidade da água e aos maiores níveis de atividade humana na região. Como as informações para nitrosaminas na água potável brasileira ainda são muito limitadas, este estudo pode fornecer os primeiros dados sobre possíveis tendências de ocorrência e riscos potenciais associados. É também de grande importância para investigações mais aprofundadas em todo o país”, escrevem os pesquisadores no artigo, cuja primeira autora é a doutoranda Beatriz de Caroli Vizioli.
Orientadora da pesquisa, a professora Cassiana Carolina Montagner, que é coordenadora do LQA-IQ-Unicamp, cita a importância prática do trabalho diante da necessidade de os laboratórios se enquadrarem à nova portaria publicada pelo Ministério da Saúde (nº 888, de 4 de maio de 2021). “Mostramos que o método funciona. O gargalo pode ser o custo, que ainda é alto por causa da fase extratora usada no preparo das amostras”, afirma.
Na pesquisa foi utilizado um cartucho, cuja fase extratora é feita de carvão ativado de fibra de coco, que funciona como um filtro para reter as nitrosaminas. Depois, percola-se um solvente orgânico (como o diclorometano) pelo cartucho para isolá-las.
O enriquecimento da amostra e a limpeza da matriz por extração em fase sólida (SPE, sigla em inglês para Solid Phase Extraction) foram realizados usando o método US EPA 521 com esse cartucho. Isso permitiu a identificação e a quantificação confiável de nitrosaminas na água em níveis de nanograma por litro. A validação foi realizada em três níveis de concentração (20, 100 e 200 ng L?1) em amostras de água ultrapura e de água tratada coletada antes da etapa de desinfecção.
No estudo também foi utilizada a cromatografia gasosa, uma técnica para separar e analisar misturas de substâncias voláteis. A amostra é vaporizada e introduzida em um fluxo de um gás (gás de arraste), que passa por um tubo contendo a fase estacionária (coluna cromatográfica), onde ocorre a separação da mistura.