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Método desenvolvido na Unesp permite limpar água contaminada por glifosato (38 notícias)

Publicado em 28 de agosto de 2023

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram uma estratégia para remover da água resíduos de glifosato — um dos herbicidas mais vendidos no mundo. Idealizada de acordo com os conceitos da economia circular, a técnica usa como matéria-prima o bagaço da cana-de-açúcar, um detrito gerado nas usinas durante a produção de açúcar e de etanol.

Isoladas e funcionalizadas quimicamente, as fibras de celulose do bagaço podem ser empregadas como material adsorvente [superfície sólida insolúvel, geralmente porosa, à qual moléculas dispersas em um meio líquido ou gasoso podem aderir], retendo em sua superfície as moléculas do glifosato. Dessa forma, é possível remover, por filtração, decantação ou centrifugação, o contaminante da água”, conta à Agência Fapesp Maria Vitória Guimarães Leal, primeira autora do artigo publicado na revista Pure and Applied Chemistry.

Devido ao baixo custo e alto potencial para intensificar a produtividade agrícola, o glifosato tem sido amplamente empregado no controle de ervas daninhas em diversas culturas agrícolas. Contudo, estudos apontam possíveis impactos à saúde humana, sobretudo aumento no risco de câncer. A aplicação de produtos contendo glifosato foi restringida ou banida em países como Alemanha, Áustria, Dinamarca, Bulgária, Grécia, Colômbia, Costa Rica e El Salvador, entre outros. No Brasil, porém, são usadas 173.150,75 toneladas ao ano — sendo parte desse montante carregada pelas chuvas, podendo contaminar rios, riachos, poços e outros ambientes aquáticos.

Com apoio da Fapesp por meio de três projetos (14/50869-620/06577-1 e 21/09773-9), pesquisadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Unesp, em Presidente Prudente, buscaram uma forma para remover o produto do meio aquoso. O trabalho foi coordenado pelo pós-doutorando Guilherme Dognani e pelo professor da FCT-Unesp Aldo Eloizo Job.

Passo a passo

Dognani detalha o procedimento: “Depois de triturar o bagaço, é preciso isolar a celulose, separando-a da hemicelulose e da lignina, que também compõem o resíduo da cana-de-açúcar. Isolada a celulose, o passo seguinte é funcionalizar as fibras, agregando grupos de amônia quaternária em sua superfície, conferindo carga positiva ao material, e possibilitando assim obter microfibras catiônicas de celulose (cCMF, da expressão em inglês cationic cellulose microfibers), que se ligam facilmente ao glifosato”, relata.

Leal acrescenta que algumas condições podem favorecer o processo. É o caso da variação do pH, que foi o foco do estudo.

Ao variar o pH, tanto o material adsorvente quanto o glifosato apresentam diferentes configurações moleculares. O pH 14 é o mais eficiente para a interação entre eles, gerando uma maior adsorção e, consequentemente, melhor remoção”, afirma.

Para avaliar a capacidade de adsorção, a partir de uma solução única de glifosato, foram preparadas frações com pH 2, 6, 10 e 14, ajustadas com auxílio de pHmetro. Em seguida, foram adicionadas a cada fração quantidades idênticas de microfibras de celulose funcionalizadas. Os frascos com a solução contaminada por glifosato mais a celulose foram mantidos sob agitação por 24 horas.

Seguindo o procedimento descrito na literatura, as soluções foram aquecidas em banho-maria para que a reação ocorresse, resfriadas à temperatura ambiente e então analisadas por espectrofotometria na região do espectro visível. A eficiência de remoção foi calculada de acordo com a relação entre a concentração final e a concentração inicial de glifosato em cada amostra. E a capacidade de adsorção em função do pH foi calculada em seguida.

O artigo pH dependence of glyphosate adsorption from aqueous solution using a cationic cellulose microfibers (cCMF) biosorbent pode ser acessado em: www.degruyter.com/document/doi/10.1515/pac-2022-1205/html.

Por José Tadeu Arantes/Agência Fapesp

Fonte: GizModo