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Menos erros e redução do uso do VAR dependem de treinamento, afirmam especialistas (4 notícias)

Publicado em 15 de julho de 2022

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Por Tatiana Furtado

A introdução da tecnologia no futebol revolucionou a arbitragem, reduziu o número de erros em lances capitais, segundo pesquisas das principais ligas, mas ainda é colocada em xeque a cada polêmica. Nas últimas semanas, por exemplo, linhas descalibradas do VAR colocaram em dúvida as marcações de impedimento no jogo entre Bragantino e Botafogo, pelo Brasileiro, e as imagens do árbitro de vídeo em River Plate e Vélez Sarsfield, pela Libertadores, não eram claras quanto ao toque de mão de Suárez no gol do River e mudaram a decisão do campo — só uma foto, no dia seguinte, mostrou a infração.

Mas onde está o problema: a tecnologia atual ainda não é capaz de ter imagens definitivas para determinar impedimentos e mão na bola ou o uso dela por mãos e olhos humanos está longe do ideal? Pelos especialistas ouvidos pelo GLOBO, pesa mais para o lado da utilização.

É claro que a tecnologia está em constante evolução, e novos mecanismos podem ser introduzidos a depender de investimentos, como câmeras com melhores resoluções. Porém, o que se tem hoje na Europa e no Brasil já é o suficiente para redução de erros nos lances em que o VAR deve ser acionado: impedimento, pênaltis, cartão vermelho e os lances que precedem o gol — ou seja, qualquer fato novo que não foi visto com exatidão ou passou despercebido pelo árbitro de campo.

Educação científica

A Fifa também introduziu nas duas últimas Copas tecnologias que certificam se a bola cruzou ou não a linha do gol. Na Rússia, por exemplo, a bola tinha um chip e as traves eram observadas por 14 câmeras que informavam a arbitragem por meio de sinal eletrônico. Tais equipamentos não são utilizados por aqui. O segundo gol de Arrascaeta sobre o Atlético-MG, pela Copa do Brasil, em que o goleiro Everson tenta salvar a bola, foi marcado em campo e validado pelo VAR via câmeras.

— É necessário investir em educação científica para que as pessoas que vão operar os equipamentos saibam interpretá-los. Precisam conhecer os conceitos na hora de traçar linhas de impedimento, saber ajustar os ângulos das câmeras em cada estádio para pegar todos os movimentos dos jogadores. E temos todo esse conhecimento aqui no Brasil, não precisa trazer de fora — afirma Sergio Cunha, doutor em Ciência do Esporte pela Unicamp e pesquisador da Fapesp no campo da análise da biomecânica.

A CBF, por exemplo, pretende especializar os árbitros de vídeo, assim como é feito com os assistentes, e criar ferramentas para que os outros atores envolvidos no jogo, como dirigentes, torcida e imprensa, tenham a informação correta do uso da tecnologia.

— O árbitro responsável pelo VAR não pode ser alguém só com experiência no campo. Faremos treinamentos específicos. Também haverá um simulador de VAR como uma espécie de aquecimento antes do jogo. É um desafio internacional estabelecer uma linha mais próxima do protocolo da Fifa para diminuir a interferência do VAR — disse o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme, na apresentação dos planos da área.

Mas, veja bem: todos citam reduzir erros, nunca zerá-los, por mais avançada seja a tecnologia. As câmeras e linhas atuais que definem a posição do impedimento, por exemplo, têm algumas limitações por trabalharem com imagens 2D e pela velocidade que não capta o movimento humano com exatidão (50 frames por segundos). O chamado erro de medida que, dentro de uma margem, é aceitável, pois é igual a todos.

Novidades no Catar

Com a tecnologia atual, o erro pode chegar a 30 centímetros. Ou seja, se a imagem não captar o momento exato do toque na bola e a posição do jogador que vai recebê-la e se houver alguma medição previamente desajustada, não é possível afirmar categoricamente se há ou não impedimento. Nesses casos, as entidades do futebol devem determinar os critérios e quais margens são aceitáveis.

Para aumentar a precisão e acurácia, na Copa do Catar, a Fifa vai introduzir o sistema de impedimento semiautomático utilizando Inteligência Artificial, que determinará o posicionamento dos jogadores em 3D por meio dos dados enviados pelas câmeras, e uma bola com sensor, que identificará o momento do toque também pelo envio de dados. A expectativa é que o tempo de tomada de decisão da arbitragem caia de 70 segundos, em média, para 25 segundos. O processo será mostrado na TV e nos estádios.

Será, então, o fim das polêmicas? Claro que não.

—O mundo do futebol tem que aceitar isso. Vai diminuir muito o erro, não acabar. Se não tem imagem que esclareça totalmente o lance, a decisão do árbitro de campo é soberana — afirma o ex-árbitro Sálvio Spínola, comentarista da TV Globo

O Globo