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Jornal da Unesp

Menos água no plantio de arroz (1 notícias)

Publicado em 01 de agosto de 2013

Por José Tadeu Arantes, da Agência FAPESP

Uma pesquisa brasileira sobre o cultivo de arroz em condições não alagadas, com o fornecimento de água pelas chuvas e complementado por sistema de irrigação por aspersão nos períodos secos, vem despertando forte interesse internacional. O estudo, coordenado por Carlos Alexandre Costa Crusciol, professor titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, e realizado com apoio da FAPESP, foi publicado recentemente pelo periódico Agronomy Journal, com expressiva repercussão, principalmente na Ásia.

O motivo é fácil de entender: o cultivo de arroz pelo sistema tradicional de irrigação por inundação (no qual os cultivares recebem uma lâmina de água de cerca de 7 a 10 centímetros por até 120 dias) consome de 24% a 30% de toda a água doce disponível no mundo. E a água doce tornou-se um dos recursos mais preciosos do planeta, disputado não apenas pelos diferentes países, mas também no interior de cada país, entre o campo e as cidades, entre as atividades produtivas e o consumo individual, entre a agropecuária e a indústria. "Nossa pesquisa mostrou que é possível alcançar um nível de produtividade elevado, com grande economia de água", disse Crusciol à Agência FAPESP.

O cultivo de arroz em condições aeróbicas do solo, isto é, em chão firme (os termos técnicos para esse tipo de cultura são "arroz de sequeiro" ou "arroz de terras altas"), não constitui novidade no Brasil. Isso tem sido feito há muito tempo, principalmente na região do Cerrado. O fato novo, resultante da pesquisa, foi alcançar um alto patamar de produtividade graças à complementação hídrica mediante a irrigação por aspersão. "Sem a complementação hídrica, a média de produtividade é aproximadamente 2.700 quilos por hectare, enquanto que no cultivo inundado é possível chegar em média a 7.000 kg/ha. Com a complementação hídrica à cultura, temos obtido produtividades de até 6.000 kg/ha, gastando muito menos água", afirmou o pesquisador.

No experimento conduzido por ele, a irrigação por aspersão respondeu por apenas 8,7% da água fornecida aos cultivares durante o primeiro ano, sendo o restante originário das chuvas. E o aumento de produtividade foi de 54,4%. No ano seguinte, a irrigação por aspersão forneceu 14,5% da água, obtendo-se um incremento de 48,1%.

Além da irrigação complementar, um fator adicional que contribuiu para o êxito do experimento foi a alta qualidade do arroz brasileiro.

É claro que a irrigação por aspersão implica custos com a aquisição dos equipamentos (pivô central, aspersores etc.) e com o consumo de energia elétrica (para o bombeamento da água). E o arroz é um produto muito barato, cujo preço, por impactar fortemente a cesta básica, merece atenção especial do governo, que o controla mediante mecanismos reguladores.

Esse binômio - custo mais alto para produzir e preço baixo do produto final - tende a intimidar os agricultores. A solução, segundo Crusciol, é alternar a rizicultura com outros cultivos agrícolas, como grãos (feijão, soja, milho doce), fibras (algodão) ou hortaliças (batata, tomate, pimentão etc.), com maior valor agregado, otimizando o uso dos equipamentos e obtendo vantagens adicionais com a rotatividade das culturas.

Fonte: Agência FAPESP