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Menor que uma moeda: espécie de mini sapo é protagonista de documentário gravado no interior de SP (4 notícias)

Publicado em 24 de maio de 2025

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Série documental produzida pelas biólogas Júlia Checchinato e Juliane Lopes busca conscientizar as pessoas a respeito da preservação dos anfíbios. No primeiro episódio, elas acompanharam os sapos-pingo-de-ouro na Serra do Japi, em Jundiaí (SP). Mini sapo é protagonista de documentário gravado na Serra do Japi em Jundiaí

Pequeninos, coloridos e "carismáticos". Os sapos-pingo-de-ouro podem passar despercebidos devido ao tamanho, mas se tornaram os personagens principais de um documentário gravado na Serra do Japi, em Jundiaí, no interior de São Paulo.

O projeto surgiu da curiosidade das biólogas Júlia Checchinato e Juliane Lopes, que trabalharam durante dois meses na produção do primeiro episódio da série documental, chamada "Fascínio e Declínio dos Anfíbios da Mata Atlântica".

Menor do que uma moeda de R$ 1, sapo-pingo-de-ouro é considerado o menor anfíbio terrestre do mundo

Neste primeiro capítulo, "Pingo de Floresta", os protagonistas são os sapinhos pingo-de-ouro, uma espécie que chama a atenção pelo tamanho. Menores que uma moeda, estes animais são os menores vertebrados terrestres do mundo.

"São sapinhos muito especiais e 'carismáticos'. Eu sempre fico impressionada com o tamanho e a cor deles. E, quanto mais eu leio sobre eles, mais fantástico acho o processo de evolução deles. Os ossos brilham sob luz UV. Além disso, são surdos ao próprio canto, têm coração de peixe e, o mais sinistro, têm o mesmo veneno dos baiacus. Parecem seres de outro mundo", explica Juliane.

Como esperado, as biólogas tiveram dificuldades para encontrar um ser tão pequenino. Júlia explica que foi preciso "mergulhar" na Serra do Japi e procurar minuciosamente pelos sapos, como garimpeiros atrás de ouro.

Além disso, a bióloga explica que, como a espécie só sai da serapilheira (solo da mata onde há folhas secas e material orgânico) quando chove, a estiagem se tornou um empecilho ainda maior durante a produção do documentário.

"Procurar os sapos é difícil, mas mais complexo ainda é registrar todos os momentos sem ter experiência jornalística. Foi aí que apareceu em nosso caminho a Bruna Lucheze, uma cinegrafista profissional. Ela nos ajudou a conseguir imagens maravilhosas", conta.

"Apesar da falta de chuva, não desanimei. Eu ia com a Juliane Lopes para a fazenda onde eram feitas as gravações, e, quando o tempo estava favorável, nós fazíamos a maior quantidade possível de imagens. Foi difícil estabelecer uma rotina em meio a essa imprevisibilidade climática", completa.

Em meio à dificuldade para encontrar os sapos, Júlia conta que a dupla acabou, por acaso, encontrando uma pesquisadora que iria devolver alguns animais para a natureza. "Estava chovendo muito nesse dia e demos sorte de encontrá-la. Ela nos 'emprestou' alguns sapinhos para que pudéssemos gravar", lembra.

As biólogas montaram um cenário fiel ao habitat natural dos pingos-de-ouro, que se tornou um ambiente mais controlado para captar imagens dos anfíbios de forma eficiente. Depois de conseguir o material, os animais foram soltos na natureza.

"A natureza segue um ritmo diferente do que a gente planeja, por isso nós não perdíamos muito tempo para fazer nosso trabalho, pois as coisas acontecem em questão de segundos", comenta.

Por que pingo-de-ouro?

Os sapos pingos-de-ouro têm coloração amarelada e fazem parte do gênero Brachycephalus, que tem espécies diferentes. "As outras espécies vivem só em montanhas, agindo principalmente com as neblinas da Mata Atlântica. E esse isolamento foi o que deu origem às espécies diferentes", explica Juliane.

"A espécie da Serra do Japi (Brachycephalus rotembergae) só foi 'descoberta' em 2021 – já se sabia que ela existia lá, mas acreditava-se que era outra espécie, da família dos Brachycephalus ephippium –, e, além do Japi, só ocorre em outro ponto específico da Serra da Mantiqueira", comenta.

O nome pingo-de-ouro dos sapinhos foi dado por ele se parecer com o minério que é encontrado nas minas de ouro. "Eles variam de cores, podem ser amareladas ou mais alaranjadas, daí o nome! Eles são minúsculos e as suas cores se destacam no chão da floresta, como se fossem uma pepita de ouro!", explica.

Um trabalho que nunca acaba

O objetivo da série "Fascínio e Declínio dos Anfíbios da Mata Atlântica" é conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação e conservação das espécies, principalmente com o avanço das mudanças climáticas.

"A ideia do documentário não é apenas mostrar a vida selvagem, mas fazer um apelo pela preservação e conservação da espécie. Essa situação que os anfíbios enfrentam devido à seca, às queimadas, e o fato de muita gente fora das universidades não saber o quanto é difícil eles sobreviverem em locais que passam por algum evento extremo, como altas temperaturas e incêndios florestais", explica.

Júlia conta que este é somente o primeiro de muitos documentários que pretende fazer. "Eles ainda não têm nomes, mas eu quero muito fazer algo sobre as onças pintadas do contínuo (faixa da Mata Atlântica) de Paranapiacaba e também sobre as pererecas polinizadoras, que foram descobertas recentemente em restingas no Rio de Janeiro. Mas eu também queria muito me envolver em produções maiores."

A produção da série documental foi feita por meio do edital Comunicar Ciência, com uma bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com o Canal Futura, da Fundação Roberto Marinho.

"Para mim, cada vez que volto para casa olhando no horizonte a Serra do Japi, não vejo apenas a minha casa, mas a de tantos outros seres vivos que moram neste planeta, que cada vez mais estamos destruindo e esquecendo que é uma cadeia, e um precisa do outro", conclui Júlia.

Sapo pingo-de-ouro tem a mesma tóxina que o peixe baiacu

Bruna Lucheze/Arquivo pessoal

*Colaborou sob supervisão de Júlia Martins

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Fonte da Reprodução:

https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2025/05/24/menor-que-uma-moeda-especie-de-mini-sapo-e-protagonista-de-documentario-gravado-no-interior-de-sp.ghtml