A trajetória de Toninho, garoto que parte do interior do Maranhão para São Paulo em busca do pai, que ele acredita ter sido levado para a metrópole por um pássaro gigante, pode ser conferida em nova temporada da Cia O Grito
Após temporada de estreia no Sesc Belenzinho, o espetáculo infantil Menino Deus Dioniso, montagem da Cia O Grito volta em cartaz dia 5 de julho, sábado, às 12h, no Espaço Cultural Pinho de Riga. Dirigida por Roberto Morettho, a dramaturgia é assinada por Denise Alves, por meio de um processo colaborativo com o grupo.
Foi durante uma residência artística nos Estados Unidos que o diretor de Menino Deus Dioniso, Roberto Morettho fortaleceu as pesquisas que o auxiliaram durante o processo de montagem da peça. Enquanto fazia um mapeamento da cultura brasileira, mais especificamente sobre a figura do Bumba Meu Boi, Roberto conheceu artistas gregos que faziam um trabalho de resgate da cultura grega, semelhante ao que realizava sobre a cultura brasileira. O diretor, então, incorporou elementos que foram estudados com os demais membros da Cia O Grito na própria Grécia, em uma pesquisa de campo subsidiada pelo Ministério da Cultura. Aspectos como movimentos corporais e sonoridade foram vivenciados e traduzidos para o espetáculo.
O cenário e figurinos são de Telumi Hellen com assistência de Clau Carmo. A maquiagem é de Roberta Uip. A iluminação é de Grissel Piguillem. A trilha sonora original é de Mariane Mattoso. As toadas originais do Bumba Meu Boi tiveram trilha de Tião Carvalho, do grupo Cupuaçu. A fotografia é de Pablo Rodrigues, os bonecos foram confeccionados por Eric Bass, Inez Ziller e Roberto Morettho no ateliê da Sandglass Theater na cidade de Putney, Vermont, Estados Unidos. Os atores são Wilson Saraiva, Manuela Amaral, Caio Merseguel e Maggie Abreu.
Preocupados em levar temáticas relevantes as crianças, a Cia O Grito apresentou, no ano passado, o espetáculo Filhote de Cruz Credo. Baseada no livro homônimo do poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, a peça refletia sobre a forma com que a criança lida com a questão do feio na sociedade. Dessa vez, a força da montagem está na coragem e determinação do protagonista em cumprir seus objetivos de vida.
O espetáculo acompanha as aventuras de Toninho, um garoto que sai de uma pequena cidade do interior de Maranhão rumo a São Paulo para resgatar o pai, João Antônio, que ele acredita ter sido engolido por um peixe e levado por um grande pássaro. O acontecimento impediu que o pai e o padrinho, Benedito, realizassem a promessa que fizeram a São João Batista de promover a festa do Bumba Meu Boi por ocasião do difícil nascimento de Toninho.
Na trajetória, o rapaz conta com ajuda de um ser mágico, o Encantado, e Verinha, uma menina corajosa que o ajuda a enfrentar as dificuldades e decepções, como a de descobrir que os adultos nem sempre cumprem as promessas que fazem.
A saudade, as diferenças culturais e o estranhamento em um novo ambiente encorajam Toninho a seguir com sua missão de cumprir a promessa feita pelo pai, acreditando que assim salvará o seu destino e o da sua família. A história passa por uma reviravolta quando o padrinho Benedito revela um grande segredo a Toninho.
O espetáculo nasce de uma longa trajetória de estudos e interações culturais. Foram utilizadas as figuras mitológicas maranhenses do Bumba Meu Boi e do Encantado junto a características da cultura grega, como a Ta Anastenária e a sonoridade do Polifoniká.
É por meio da correlação de culturas e do sincretismo religioso que a peça transmite valores universais aos pequenos. O esforço de Dioniso em provar que era um deus em As Bacantes serviu de inspiração para retratar o esforço de Toninho em demonstrar a importância da tradição do Bumba Meu Boi na cidade de São Paulo, onde muitas pessoas não dão importância aos seus apelos.
“Antigamente, o teatro grego não era dissociado da religião, da vida e da cidade. A montagem traz essa função humanística de que é importante acreditar em algo e cumprir seus objetivos até o final. A ideia é que as crianças vejam como a crença e a esperança são importantes na vida”, explica o diretor Roberto Morettho.
A luz criada por Grissel Piguellin é lúdica e flexível. Ela estabelece o clima do entardecer maranhense com suas águas resplandecentes e cria rupturas com a luz seca e dura da cidade grande. O figurino, que muitas vezes parece se mesclar ao ambiente, elabora diferentes signos e significados.
Os bonecos confeccionados para a peça – o Encantado e uma lavadeira – foram criados pelo diretor Roberto Morettho em parceria com a Sandglass Theater, localizada na cidade de Putney, em Vermont, nos Estados Unidos da América. O trabalho conjunto surgiu de uma pesquisa sobre o bem e o mal, sombras e luz, espíritos bons e ruins, tomando como referência a cultura popular do Maranhão, numa residência artística financiada pela FUNARTE.
Sobre a Cia O Grito
A Cia. O GRITO foi criada em 2003 no Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP, a partir de um grupo de estudo sobre dramaturgia, encenação e movimentos culturais brasileiros, com experimentações entre cena e texto (Clovis Garcia, Jean-Pierre Ryngaert, Malu Pupo e Ingrid Koudela). Ao grupo juntaram-se artistas de diversas áreas do conhecimento. Como resultado dessas pesquisas o diretor Roberto Morettho desenvolveu projeto de mestrado que verificou a cena carioca e a cultura brasileira na Cia dos Atores. Em 2010 foi contemplado com bolsa da FUNARTE e fez residência artística com dois grupos norte-americanos de teatro: a SITI Company de Nova York e a Sandglass Theater de Vermont. Dessa residência surgiu projeto de intercâmbio Grécia/Brasil em 2011, apoiado pelo MINC. Junto dos grupos gregos de teatro, Kanigunda e O Ninho, e também na Universidade Aristotélica de Tessalônica foram ensaiadas as pesquisas Polifoniká e Ta Anastenária dos gregos e Bumba Meu Boi e Capoeira dos brasileiros. O grupo tem em seu histórico espetáculos como Caça aos Ratos, A Terra Onde Nunca se Morre, Marujo o Caramujo e a Minhoca Tapioca e O Caso da Casa.
Sobre o Diretor
Roberto Morettho é mestre e graduado em Artes Cênicas pela Depto de Teatro da USP (Formação do Ator) com pesquisa sobre a encenação contemporânea. Encenador desde 2003 da Cia O Grito da Cooperativa Paulista de Teatro com pesquisa na Grécia, em Atenas, e na Universidade Aristotélica de Tessalônica sobre “Polifoniká” e “Ta Anastenaria” em 2012. Desenvolve pesquisa sobre treinamento de ator baseado nos movimentos culturais brasileiros apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo. Bolsista da Funarte em 2010 com residência artística em Nova York com o grupo “Siti Company” e em Vermont com o grupo “Sandglass Theater”. Foi bolsista da FAPESP numa pesquisa na Escola de Comunicação e Artes da USP, sobre máscaras, bonecos e objetos que resultou na edição do livro: “O Ator e Seus Duplos”, da Dra. Ana Maria Amaral. Dirigiu os espetáculos “Poe, Edgar” baseado na vida e obra do escritor Edgar Allan Poe, “O Armário Mágico” de Paula Chagas Autran, “Caça aos Ratos” de Peter Turrni, “A Terra Onde Nunca Se Morre” baseado num conto de Ítalo Calvino, “Marujo, o Caramujo e a Minhoca Tapioca” e “O Caso da Casa”, de Hugo Possolo, todos pela Cia. O GRITO; “Interlúdio com Máscaras”, texto de sua autoria; “Paranapiacaba, de onde se avista o Mar”, de Solange Dias; “O Ócio”, de Denise Alves, com o qual participou do 11º Festival de Teatro de Curitiba. Indicado na categoria de melhor diretor no Prêmio Coca-Cola Femsa, com o espetáculo “O Caso da Casa”, em 2004. Atuou nos espetáculos “Navalha na Carne”, sob supervisão de Janô Januzelli; “Midnight Clown”, dos Doutores da Alegria; “Caça aos Ratos”, sob supervisão de Antônio Araújo; “A Flor e o Concreto”, com o diretor alemão Stephan Stroux e dramaturgia de Sebastião Milaré.
Para roteiro:
MENINO DEUS DIONISO – Reestreia dia 5 de julho, sábado, às 12 horas, no Espaço Cultural Pinho de Riga. Dramaturgia: Denise Alves. Direção: Roberto Morettho. Elenco: Wilson Saraiva de Moraes, Manuela Amaral, Caio Merseguel e Maggie Abreu. Cenário: Telumi Hellen e Clau Carmo. Maquiagem: Roberta Uip. Figurinos: Telumi Hellen e Clau Carmo. Iluminação: Grissel Piguillem. Confecção de bonecos: Eric Bass, Inez Ziller e Roberto Morettho. Trilha Sonora Original: Mariane Mattoso. Fotografia: Pablo Rodrigues. Produção Geral: Cia. O GRITO – Cooperativa Paulista de Teatro. Faixa etária: Livre. Duração: 55 minutos.
Espaço Cultural Pinho de Riga – Conselheiro Ramalho, 599 – Bixiga. Capacidade: 40 lugares. Preço: R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (meia). Temporada: Dias 5, 6, 9, 19 e 20 de julho. Sábado, domingo, quarta-feira, sábado e domingo, às 12 horas.