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Diário da Saúde

Melatonina tem efeito cardioprotetor, mas exige cuidados (29 notícias)

Publicado em 09 de junho de 2020

A melatonina - substância popularmente conhecida como o "hormônio do sono" - protege o coração contra arritmias, doença arterial coronariana, hipertensão e outros distúrbios cardiovasculares.

A conclusão é de pesquisadores brasileiros que revisaram os dados de 162 ensaios clínicos feitos em várias partes do mundo.

"A ação do hormônio sobre a pressão arterial e a frequência cardíaca se dá tanto de maneira periférica nos vasos e no coração, como de modo central no hipotálamo e em outras estruturas do sistema nervoso central. Estudos mostraram o efeito do hormônio até mesmo sobre as mitocôndrias das células, importantes na regulação do sistema cardiovascular," explica o professor José Cipolla Netto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Além de dados de trabalhos clínicos e ensaios experimentais sobre o papel cardioprotetor da melatonina, os pesquisadores listaram substâncias capazes de imitar a função do hormônio - tecnicamente chamadas de agonistas dos receptores de melatonina.

"De um conjunto imenso de moléculas, encontramos 780 com ação cardiovascular supostamente semelhante à da melatonina," disse José Cipolla, ressaltando que esses dados vão ajudar no desenvolvimento de novas drogas para doenças cardiovasculares.

Melatonina e diabetes

O professor José Cipolla coordena um projeto que vem estudando a ação do hormônio do sono em distúrbios metabólicos, tendo mostrado recentemente que a baixa produção de melatonina pode causar sintomas variados, pois a substância interage com vários sistemas do corpo, como o cardiovascular, imunológico, reprodutor, sistema nervoso central e também o metabolismo energético.

E o hormônio tem efeitos noturnos e diurnos distintos, o que explica porque os cientistas o consideraram por muito tempo como diabetogênico.

"À noite, quando o hormônio é fisiologicamente secretado, ele de fato reduz a produção de insulina e induz resistência insulínica, pois nessa fase o indivíduo está dormindo e, portanto, em jejum. A melatonina produzida e que atua à noite, por outro lado, determina, durante o dia, aumento da sensibilidade insulínica, aumento da secreção de insulina pelo pâncreas, estimulada pelas incretinas, o que é necessário para a fisiologia do dia."

Dessa forma, tomar melatonina à noite pode gerar uma melhora no controle glicêmico. "Isso precisava ser esclarecido. Havia dados, mas permaneciam algumas confusões de interpretação sobre a questão de ela ser pró-insulínica ou anti-insulínica," disse o pesquisador.

Cuidados com a reposição hormonal

O pesquisador alerta que a ação ampla da substância no organismo - seja na regulação do sono, no sistema cardiovascular ou na regulação do metabolismo - só reforça a necessidade de que a reposição hormonal seja cuidadosamente calculada de maneira personalizada.

"É uma atenção a mais que se deve ter. Por isso, faço questão de dizer que melatonina não é uma substância inócua que possa ser tomada ao bel-prazer. Ela é um hormônio e a sua administração deveria ser rigorosamente controlada," ressalta José Cipolla.

Faltam padrões para uso da melatonina com fins terapêuticos

Checagem com artigo científico:

Artigo: Cardioprotective Melatonin: Translating from Proof-of-Concept Studies to Therapeutic Use

Autores: Ovidiu Constantin Baltatu, Sergio Senar, Luciana Aparecida Campos, José Cipolla-Neto

Publicação: International Journal of Molecular Sciences

Vol.: 20(18), 4342

DOI: 10.3390/ijms20184342

Artigo: New insights into the function of melatonin and its role in metabolic disturbances

Autores: Fernanda Gaspar do Amaral, Jéssica Andrade Silva, Wilson M. T. Kuwabara, José Cipolla Neto

Publicação: Expert Review of Endocrinology & Metabolism

Vol.: 14, Issue 4

DOI: 10.1080/17446651.2019.1631158

Com informações da Agência Fapesp