O uso de como forma de combater a insônia e regular o sono vem ganhando força sem precedentes em todo o mundo. O que muita gente não sabe, é que especialistas defendem que essa deve ser a última cartada para a resolução do problema.
Questões associadas à má qualidade do , como exposição à luz e fatores comportamentais, devem ser abordadas em primeiro lugar. Além disso, se a for realmente indicada, a produção natural desse hormônio deve ser cuidadosamente levada em conta, para a definição da dose correta a ser administrada.
Então, profissionais da saúde passaram a levantar questões importantes relacionadas à segurança do uso do hormônio e seus efeitos, inclusive em crianças.
Dois pesquisadores brasileiros, José Cipolla-Neto, médico do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e Fernanda Gaspar do Amaral, professora da universidade, fizeram recentemente uma revisão aprofundada da literatura sobre a e sua utilização.
Eles também elaboraram recomendações relativas ao hormônio e sua administração, publicadas em dezembro último no periódico acadêmico Endocrine Reviews.
A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo organismo. “É o neurohormônio do sono”, diz Fábio Porto, neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
O médico afirma que, quando o sono chega, ele fica relativamente estável na maioria das pessoas. Então, o papel da é apenas inibir os neurônios de vigília, promovendo a mudança desse estado para o estado do sono.
Segundo os pesquisadores, tem sido demonstrado que a melatonina, para muito além do sono, influencia vários processos fisiológicos, com efeitos no metabolismo e nos sistemas cardiovascular, reprodutivo, imunológico, respiratório e endócrino.
Em um comunicado de imprensa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Cipolla-Neto comentou a respeito da complexidade dos estudos que envolvem a melatonina, uma vez que há inúmeras variáveis envolvidas no processo.
Além disso, uma determinada dose de melatonina pode alcançar diferentes níveis plasmáticos entre as pessoas, graças a particularidades de cada um em sua forma de absorção, distribuição, metabolização e eliminação – processos influenciados pela idade, pelo estado geral de saúde e pelo desempenho do trato gastrointestinal, fígado e rins, por exemplo.
Os autores afirmam, no estudo, que se esses fatores não forem adequadamente considerados, a eficácia clínica da melatonina é alterada.
“O tratamento adequado de reposição hormonal regular da melatonina só é alcançado quando a dose e a apresentação são criteriosamente escolhidas, adaptadas a cada paciente e controladas de modo a exercer o efeito clínico desejado”, observa Cipolla-Neto.
Uma das maiores questões envolvendo a melatonina é se ela deve ser tomada por pessoas que não têm diagnóstico de doença ou mesmo se esse é o tratamento mais adequado para os pacientes com indicação clínica.
O que a comunidade médica não questiona é que tomar à noite pode ajudar a adormecer, embora não haja evidências de que ela ajude a manter o sono por longos períodos caso o corpo já a produza naturalmente.
O Departamento Científico do Sono da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) informa que, oficialmente, a não faz parte do arsenal terapêutico para o tratamento do transtorno da insônia.
Segundo Porto, como a melatonina é produzida naturalmente pelo organismo ao cair do dia, quem tem a produção normal e se afasta de fontes luminosas (especialmente da luz azul) costuma ter um bom ritmo biológico.
Fora desses casos, portanto, antes de partir para o seu uso, deve-se considerar os fatores e comportamentos capazes de perturbar o sono. Lembrando que, em boa parte dos casos, a dificuldade de adormecer e/ou de acordar pela manhã esteja ligada a algo bastante simples: o relógio biológico está ajustado para adormecer em um horário muito mais tarde do que o adequado para as demandas diárias.
Para reajustar o relógio biológico para mais cedo, de modo a garantir mais horas de sono, é preciso contar com o apoio da luz, além de muita disciplina. Isso implica em se expor à luz do sol pela manhã e diminuir a exposição à luz durante a noite.
Smartphones, tablets e computadores contam com recursos para adequar a luminosidade e a temperatura da cor das telas, ajudando os usuários a combater a insônia ao reduzir a quantidade de luz emitida e, consequentemente, seu impacto nas funções cerebrais.
Melatonina em excesso, em pacientes que não têm indicação clínica para o seu uso, pode causar sonolência, cefaleia (dor de cabeça), enjoo e hipotermia. “Efeitos menos recorrentes, mas possíveis, são contrações musculares, irritabilidade, alterações cognitivas e diminuição da pressão arterial”, alerta Porto.