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Megacruzamento de dados da população tenta desvendar histórico da covid (164 notícias)

Publicado em 20 de junho de 2020

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O esforço para compreender os efeitos do novo coronavírus (Sars-CoV-2) e encontrar tratamentos para combatê-lo ganhou um novo estímulo na quarta-feira, 17, com o lançamento da plataforma Covid-19 Data Sharing/BR. Resultado de uma articulação coordenada pela Fapesp envolvendo a Universidade de São Paulo (USP), o Grupo Fleury e os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, a iniciativa tem por objetivo promover o compartilhamento de dados laboratoriais e demográficos de pessoas diagnosticadas com a doença em todo o Brasil, além de informações clínicas de indivíduos diagnosticados em São Paulo.

O repositório abrigará, inicialmente, informações de 75 mil pacientes, além de 6.500 dados de desfecho de casos — como recuperação ou óbito — e mais de 1,6 milhão de exames clínicos e laboratoriais realizados desde novembro de 2019. Ainda que o primeiro caso da doença no Brasil tenha sido registrado em fevereiro, o período de cobertura dos dados permitirá que os pesquisadores analisem o histórico de saúde dos pacientes e identifiquem evidências de sintomas da Covid-19 em indivíduos atendidos anteriormente.

"A plataforma, em breve, também deverá compartilhar dados de imagens associadas à doença, como radiografias e tomografias", explicou o neurocientista Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp, durante o evento online de lançamento da iniciativa. "A expectativa é que essas informações possam ser usadas no aprimoramento do diagnóstico, em estudos sobre fatores relacionados à evolução da doença no Brasil, e mesmo em investigações sobre candidatos a medicamentos e vacinas."

Todas as informações serão compartilhadas preservando a identidade dos pacientes — apenas informações sobre sexo, ano de nascimento e região de residência ficarão disponíveis. Qualquer pesquisador, de instituições do Brasil e do exterior ou tomador de decisão, poderá acessar a plataforma.

O novo repositório funcionará com base em uma estrutura computacional desenvolvida pela Superintendência de Tecnologia da Informação da USP. Desde dezembro de 2019 ela está sendo usada na sustentação da Rede de Repositórios de Dados Científicos do Estado de São Paulo, que reúne informações geradas em pesquisas em sete instituições públicas de ensino e pesquisa paulistas: as três universidades estaduais (USP, Unicamp e Unesp), as três federais (Unifesp, UFSCar e UFABC) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), além, também, da Embrapa Informática Agropecuária (ver Pesquisa Fapesp nº 287).

"O fato de já termos essa estrutura pronta nos ajudou a acelerar a implementação da nova plataforma para compartilhamento de dados clínicos e laboratoriais da Covid-19", destacou o físico Sylvio Canuto, pró-reitor de Pesquisa da USP. Segundo ele, ao facilitar o acesso a esse tipo de informação, a plataforma Covid-19 Data Sharing/BR deverá impulsionar parcerias de pesquisa e gerar conhecimento novo relacionado ao Sars-CoV-2.

"A iniciativa reforça nosso compromisso com essa nova forma de produzir conhecimento", disse Luiz Fernando Lima Reis, diretor de Ensino e Pesquisa do Sírio-Libanês. "A pesquisa hoje, mais do que nunca, precisa ser empreendida de modo colaborativo e envolvendo instituições públicas e também privadas", reforçou Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de Pesquisa da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. A instituição atualmente desenvolve 68 projetos de pesquisa sobre a Covid-19 e outros 113 prestes a serem iniciados.

Na avaliação da cientista da computação Claudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora da criação da Rede de Repositórios, uma das principais vantagens da nova plataforma é compartilhar dados referentes a pacientes brasileiros com Covid-19. "Essas informações deverão ser bastante úteis para que os pesquisadores possam identificar características específicas associadas à dinâmica da doença no nosso país e entender melhor os seus padrões de evolução", ela diz. "Da mesma forma, os resultados de pesquisas produzidas a partir desses dados, abertos para o mundo, poderão auxiliar na tomada de decisão e no manejo adequado da pandemia no Brasil e, até mesmo, no enfrentamento de outras crises de saúde."

Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico do Grupo Fleury, explicou que a iniciativa vai atender à demanda crescente de pesquisadores e startups por dados clínicos e laboratoriais. "Há meses recebemos pedidos de pesquisadores interessados nesses dados para uso em suas pesquisas", disse. "Esperamos que essa iniciativa dê conta de atendê-los."

Em um primeiro momento, apenas um pequeno conjunto de dados ficará disponível para consulta. A proposta é que a plataforma seja avaliada pela comunidade científica, que poderá apontar problemas e sugerir melhorias no sistema de busca, consulta e acesso aos dados. O conjunto completo de informações será disponibilizado no dia 1º de julho. "A partir daí", explica Mello, "a ideia é que as instituições participantes alimentem o repositório com novos dados periodicamente". A USP já treinou uma equipe técnica responsável por disponibilizar os dados na plataforma. "Já as instituições participantes se comprometeram a criar equipes internas, responsáveis pelo levantamento, tratamento e padronização das informações antes que elas sejam inseridas na plataforma", explicou João Eduardo Ferreira, superintendente de Tecnologia da Informação da USP.

Ainda que o foco da nova plataforma sejam dados de pacientes com a Covid-19, ela poderá ser ampliada no futuro para outras enfermidades. Da mesma forma, espera-se que outras instituições, públicas e privadas, juntem-se à iniciativa e que alimentem a plataforma com mais dados.