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Medicina de precisão: duas iniciativas que prometem fortalecer a abordagem no Brasil (1 notícias)

Publicado em 13 de novembro de 2018

Os avanços tecnológicos vêm proporcionando, em várias áreas, um atendimento cada vez mais personalizado. E isso não seria diferente no caso da medicina. Estilo de vida, fatores ambientais, predisposição genética, peso, idade, gênero – tudo isso pode desempenhar um papel importante na forma como doenças desenvolvem e no modo como o organismo reagirá ao tratamento. Levar todas essas informações em conta, com o auxílio de ferramentas de análise de dados, pode revolucionar a forma como prevenimos, diagnosticamos e tratamos problemas de saúde. Esse é o raciocínio que subsidia a Medicina de Precisão.

Trata-se de uma abordagem relativamente nova - o termo ganhou evidência em 2015, quando Barack Obama, então presidente dos EUA, lançou a Precision Medicine Iniciative. No Brasil, iniciativas importantes ganharam espaço nos últimos anos. Uma delas é o BIPMed (Brazilian Initiative on Precision Medicine), lançado também em 2015. Outra é a criação da Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão, no ano passado.

O BIPMed foi idealizado por pesquisadores de cinco Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), com o apoio da FAPESP, com o intuito de criar uma plataforma computacional para abrigar dados genéticos gerados pelos cinco centros, além de outros grupos no país.

“Os bancos genômicos do BIPMed são os primeiros a disponibilizar publicamente dados genômicos e genéticos da população brasileira. Neles estão incluídos dados da população normal e de pacientes com doenças específicas (ex. câncer de mama, epilepsia, malformações cranio-faciais etc.)”, comenta Iscia Lopes-Cendes, porta-voz do BIPMed e responsável pelo laboratório de genética molecular da Unicamp, em São Paulo.

Ainda segundo ela, esses bancos são essenciais para qualquer profissional que trabalhe com doenças de base genética, para que ele possa obter um diagnóstico molecular correto. “Principalmente no que se refere a diferenciar variações normais, presentes na população brasileira (dados da população normal ou população referência) ou para verificar se a mutação encontrada em determinado paciente já foi encontrada antes em pacientes com a mesma doença, o que reforça a indicação de que se trata realmente da mutação que está causando a doença”, explica.

Laboratórios, públicos ou privados, que trabalham com diagnóstico molecular (ou exames genéticos) podem tirar proveito imediato das informações que já estão disponíveis nos bancos de dados genômicos públicos do BIPMed. “Se houver interesse, também podemos disponibilizar dados que estão sendo gerados por esses laboratórios no BIPMed, assim esses laboratórios podem contribuir para a construção de bancos genômicos públicos cada vez mais completos”, comenta Iscia Lopes-Cendes.

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Já a ABMPP busca, entre outras coisas, disseminar os conceitos da MPP entre médicos e estudantes, para que estes possam adotá-los em suas decisões clínicas. Como esclarece Rubens Harb Bollo, presidente da entidade, a medicina personalizada busca prever a suscetibilidade de uma pessoa a certas doenças, a partir de seu histórico e perfil genético. Com isso, é possível recomendar medidas preventivas específicas (como a realização de exames específicos para detecção precoce de determinado problema). A medicina de precisão, por sua vez, utiliza o perfil genético da doença detectada para a tomada de decisões e intervenções médicas, trazendo diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes.

“De maneira simplista, a medicina personalizada seria o acompanhamento médico na linha horizontal do tempo do paciente. E a medicina de precisão, a uma ação vertical, para um tratamento específico, para aquele paciente e no tempo certo”, compara dr. Bollos.

Os benefícios proporcionados por essa proposta já podem ser observados em todas as áreas médicas, com destaque para oncologia, psiquiatria, neurologia, cardiologia, reprodução humana, pré e neonatal, hematologia, genética médica, psiquiatria, endocrinologia, otorrino, oftalmo, nefrologia, gastroenterologia e dermatologia.

“Nos últimos cinco anos é bastante significativa a evolução das pesquisas e estudos na MPP, mas estes precisam ser melhor divulgados e difundidos não só entre os profissionais médicos, mas para toda a sociedade”, diz o presidente da ABMPP.

Nesse primeiro ano de atuação, a entidade realizou simpósios em São Paulo, Curitiba e interior de Minas, estabeleceu parcerias com profissionais e instituições que trabalham com essa causa, publicou conteúdo sobre a nova abordagem, entre outras medidas.

Mas, como reconhece dr. Bollos, a popularização da MPP ainda precisa vencer uma série de desafios, não só no Brasil. “O maior deles, no mundo todo, é a questão do prontuário médico único. O paciente possui várias informações sobre sua saúde, resultados de exames, porém, estas não convergem para a realização de procedimentos e práticas inteligentes, o que possibilitaria mais prevenção, ou diagnósticos e tratamentos mais eficazes e, portanto, uma medicina mais individualizada.”

Existe, ainda, a questão dos custos envolvidos e do acesso. Atualmente, a MPP já é uma realidade para o público que usa o tratamento particular e em algumas seguradoras. “Para pacientes do SUS, o acesso se dá quase que exclusivamente pelos centros de referências que conduzem pesquisas clínicas e que funcionam com financiamento da indústria farmacêutica”, afirma dr. Bollos.

Isso levanta questões que precisam ser debatidas com todos os setores envolvidos: governo, médicos, pacientes, indústria farmacêutica e planos de saúde. “Antes de se pensar sobre os custos é necessária uma discussão ética: justiça é um dos quatro princípios que norteiam a prática médica. Há diagnósticos e tratamentos que já estão disponíveis, trazem mais benefícios e prolongam a vida e o acesso é restrito, como é o caso de tratamentos oncológicos. Há pessoas, inclusive crianças, que não sabem, mas possuem predisposição genética para desenvolver doenças cardiológicas, neurológicas e câncer. Estas deveriam receber mais atenção que aquelas que não têm. Porém, isso não acontece. Há pacientes usando medicamentos que não fazem efeito pois não têm condições de processar a medicação. O resultado é progressão de doenças.”

Ainda segundo ele, a população mais informada vem recorrendo à judicialização para se incluir na MPP e obter acesso aos recursos financeiros. “Na prática, penso que seria bastante justo e eficaz incluirmos os conceitos da farmacoeconomia, para analisarmos os indicadores do quanto se economiza em vidas e recursos nos tratamentos baseados em MPP e isto ainda é incipiente. Isso seria um bom começo para apontar saídas viáveis para esse problema.”

Evento

Iniciativas em prol de uma maior eficiência do setor de saúde foram apresentadas e debatidas na edição da Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), principal evento do setor hospitalar no país. Com o tema “Eficiência: como o combate ao desperdício irá transformar o sistema de saúde”, o evento é realizado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), entre os dias 7 e 9 de novembro, em São Paulo. A GE Healthcare foi um dos patrocinadores do encontro. O tema do congresso é familiar para a companhia, que vem se consolidando, desde 2015, como consultora na área de saúde, ajudando seus parceiros a abraçar novas tecnologias, proporcionando melhores resultados para os pacientes, de modo economicamente sustentável.