Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), mostrou que o uso do medicamento P-Mapa (abreviação de agregado polimérico de fosfolinoleato-palmitoleato de magnésio e amônio protéico) em animais infectados com leishmaniose reduziu drasticamente a carga parasitária. O estudo, realizado entre os anos de 2009 e 2012, foi publicado recentemente na revista Acta Tropica – publicação internacional, que abrange ciências biomédicas e da saúde.
A professora da faculdade e coordenadora do projeto, Valéria Marçal Felix de Lima, disse que pensou em realizar o estudo depois de ter conhecimento sobre experimentos com animais, feitos por universidades do País e do exterior com o P-Mapa. Esses trabalhos confirmaram a eficácia do produto como um imunomodulador, ou seja, capaz de reequilibrar o sistema imunológico abalado pelos ataques de tumores, vírus, bactérias ou protozoários, tornando-o mais forte para combatê-los.
RECURSOS
Foi então que Valéria criou um projeto e o enviou à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) com o objetivo de solicitar recursos para a pesquisa. O projeto foi aprovado e iniciado em 2009 com 20 cães do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Araçatuba, todos doentes. “A gente reformou um espaço dentro da Unesp e fez um canil protegido com uma tela bem fina, já que os cães estavam com leishmaniose. Coloquei também as coleiras com repelente”, disse a coordenadora.
Para a escolha dos animais, o grupo de pesquisadores determinou todos possuírem três ou mais sinais clínicos da doença, como baixo peso, feridas pelo corpo, principalmente na ponta das orelhas, e áreas sem pelo.
Os 20 cães foram vermifugados (já que os vermes interferem na resposta imunológica) e separados em dois grupos de dez animais cada. Metade foi tratada com injeções intramusculares de P-Mapa durante 45 dias, intervalo de três dias cada aplicação. A outra metade recebeu apenas placebo durante o mesmo período.
“Fizemos avaliações imunológicas no início e no final do tratamento. Vimos que as lesões diminuíram, assim como o ganho de peso foi nítido. Os animais que receberam o P-Mapa tiveram uma cura clínica e alguns quase zeraram a carga parasitária”, explicou. No entanto, como no Brasil é obrigatório realizar a eutanásia em animais com leishmaniose, todos tiveram que ser sacrificados.
PRÓXIMA ETAPA
Segundo a coordenadora, a próxima etapa da pesquisa seria associar a aplicação do P-Mapa a uma droga leishmanícida em um grupo com maior quantidade de animais, todos doentes. “É repetir o mesmo protocolo experimental, com o objetivo de saber se há a cura parasitológica. De repente, teremos a cura total”, ressaltou. No entanto, Valéria afirmou que não vai realizar esta etapa porque teve dificuldades práticas na primeira. “Eu tive que lavar, por muitas vezes, o canil. É claro que os funcionários me ajudavam. Também chegaram a cortar a tela do canil. Só que isso não impede outros grupos de fazer este estudo.”
Além de Valéria, participaram do projeto a aluna de doutorado Maria Emília Santiago; os alunos de mestrado Luiz Silveira Neto e Mariana Macedo Andrade; os alunos de iniciação científica Eduardo Costa Alexandre e Marcos Arruda Somenzari; os professores colaboradores Danísio Prado Munari e Paulo César Ciarlini; a técnica do laboratório de imunologia celular, Juliana Perosso, e também o fornecedor da droga, Iseu Nunes.
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