A média de idade dos primeiros pacientes diagnosticados com a Covid-19 no Brasil, de 39 anos, foi mais baixa do que a observada em outros países.
Esse fator, associado ao trajo de que, na tempo inicial da epidemia no Brasil, grande segmento desses pacientes pertence às classes sociais mais elevadas, pode ter contribuído para o país ter registrado uma taxa de hospitalização equivalente à metade da média internacional —de 10% contra 20% de outros países.
As conclusões são de um estudo internacional, liderado por pesquisadores brasileiros. Os resultados preliminares da pesquisa, apoiada pela Fapesp (Instauração de Sustento à Pesquisa do Estado de São Paulo) no contextura do Cadde (Meio Conjunto Brasil-Reino Uno para Invenção, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus), foram descritos em item publicado na plataforma medRxiv, ainda em versão pré-print (sem revisão por pares).
“A exigência econômica desses primeiros pacientes infectados permitiu que tivessem maior chegada a testes diagnósticos, por exemplo, facilitando inicialmente o isolamento social e a subtracção do contágio”, diz à Dependência Fapesp Julio Henrique Rosa Croda, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores analisaram as características epidemiológicas, demográficas e clínicas dos casos confirmados de Covid-19 durante o primeiro mês da epidemia no Brasil.
Para isso, usaram principalmente a base de dados REDCap, criada pelo Ministério da Saúde no início do surto da doença para notificação de casos.
As análises dos dados indicaram que, entre 25 de fevereiro e 25 de março, foram confirmados 1.468 casos de Covid-19 no Brasil, dos quais quase a metade (48%) foi de pessoas entre 20 e 39 anos de idade.
Desse totalidade de casos registrados à idade, 10% necessitaram de internação e apresentaram porquê fatores de risco associados à hospitalização doenças cardiovasculares e hipertensão.
“Pode ser que a média de idade dos pacientes com Covid-19 hospitalizados no Brasil seja menor do que a média mundial porque teriam maior prevalência de comorbidades em confrontação com a população na mesma fita etária de outros países. Mas essa hipótese ainda não foi confirmada”, afirma Croda.
A menor média de idade de pacientes infectados e hospitalizados no Brasil em confrontação com outros países também pode estar relacionada ao trajo de que esse grupo etário, entre 20 e 39 anos de idade, representa uma parcela expressiva —de 32%— da população brasileira, ponderam os pesquisadores.
Classes
Para determinar se os primeiros casos notificados de infecção pelo Sars-CoV-2 estavam relacionados ao perfil socioeconômico dos pacientes, os pesquisadores analisaram os casos registrados na Região Metropolitana de São Paulo, com base em dados de geolocalização do endereço dos pacientes.
As análises revelaram que as regiões com maior renda per capita média apresentaram maiores taxas de testagem.
“Constatamos que há uma disparidade socioeconômica no chegada ao teste de diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus no Brasil que persiste à medida que o número de casos da doença tem se expandido”, avalia Croda.
Os pesquisadores também observaram que, durante o primeiro mês da epidemia de Covid-19 no Brasil, unicamente 33,1% dos casos foram confirmados em laboratórios de saúde pública e o restante em laboratórios privados.
“Inicialmente, a doença ficou mais restrita à população mais rica do país e, no final de março, ocorreu uma transição e passou a atingir a população mais pobre”, analisa Croda.