Uma avaliação realizada pelo Ministério da Educação considerou insuficientes ou sem condições de funcionamento 77 cursos de mestrado e 14 de doutorado em todo o país, cujos alunos não terão seus diplomas reconhecidos. Entre os cursos condenados pelo MEC, dez funcionam no Rio: dois no Instituto Militar de Engenharia, dois na Universidade Gama Filho, dois na PUC, dois na UFRJ, um na UFF e um na Universidade Católica de Petrópolis. Ò levantamento sobre a qualidade do ensino de pós-graduação do país foi feito pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e abrangeu 1726 cursos de mestrado e doutorado em 113 instituições de ensino público e privado. Do total, 180 não tiveram nota. Os cursos, receberam conceitos A (excelente), B (bom), C (regular), D (insuficiente mas recuperável) e E (desestruturado e sem condições de funcionamento). O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, acha que o não reconhecimento dos diplomas contribui para o fechamento dos piores cursos.
MEC REPROVA 91 CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
ELIANA LUCENA
Entre os 1.546 mestrados e doutorados examinados, 63 são fracos e 28, péssimos
BRASÍLIA — O Ministério da Educação vai deixar de reconhecer os diplomas de 77 cursos de mestrado e 14 de doutorado — 91 ao todo - no país. Esses cursos foram classificados como "insuficientes mas recuperáveis" ou "desestruturados e sem condições de funcionamento". Os que receberam nota D (insuficientes) contarão com o apoio do próprio ministério para que possam se recuperar. Os outros (nota E) terão que, se reestruturar por conta própria.
Foram avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) 1726 cursos de mestrado e doutorado, de 113 instituições de ensino, que receberam conceitos que vão de Á a E, mas 180 não receberam classificação. Sessenta e três cursos de mestrado e doutorado tiveram o conceito D (insuficientes). Outros 28 cursos apresentaram um quadro ainda pior de ensino e receberam o conceito E (desestruturados).
Rigor — A proporção dos cursos que em anos anteriores tiveram conceito A (excelente) diminuiu na última avaliação. Nos cursos de doutorado, a proporção que chegou a atingir 55,9% em 1992, caiu para 52,8% em 1994, e 51% neste ano. Nos cursos de mestrado, a queda foi semelhante: 42,3% em 92; 41,4% em 94 e 39% na última avaliação. O ministro Paulo Renato Souza afirmou que os resultados refletem o maior rigor das avaliações, que são feitas há 20 anos.
No Rio de Janeiro, cinco cursos foram reprovados com D e outros cinco com E. Com D, ficaram dois cursos do Instituto Militar de Engenharia (mestrado em Computação e em Engenharia Nuclear), um da Universidade Federal do Rio de Janeiro (mestrado em Ginecologia) e dois da Universidade Gama Filho (doutorado e mestrado em Educação Física). Foram totalmente reprovados (receberam conceito E) cinco cursos: dois oferecidos pela Pontifícia Universidade Católica — os de mestrado em Cirurgia Plástica e Otorrinolaringologia —; o mestrado em Educação, oferecido pela Universidade Católica de Petrópolis; o mestrado em Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e o mestrado em Medicina Gastroenterológica da Universidade Federal Fluminense.
"O MEC não tem mecanismos para fechar os cursos piores (conceito E), mas como os resultados das avaliações são públicos e os diplomas não são reconhecidos, elas acabam fechando", afirmou o ministro Paulo Renato.
Excelência — Paulo Renato acentuou que a qualidade dos cursos de mestrado e doutorado começa a ser fiscalizada por setores das próprias universidades, como e o caso da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dos 1.128 mestrados avaliados, a maior parte recebeu conceitos A e B, o que demonstra, segundo o ministro, a qualidade do ensino oferecido pelas instituições brasileiras. Foram considerados excelentes 408 cursos de mestrado e 258 de doutorado. Foram enquadrados no conceito B (bom) 378 cursos de mestrado e 195 de doutorado, e no conceito C (regular), 173 cursos de mestrado e 43 de doutorado.
Sobre os critérios cada vez mais rígidos que estão sendo adotados pela Capes em suas avaliações, o ministro disse que um dos pontos que contam, de forma decisiva, na avaliação é a produção de trabalhos pelo corpo docente. Além disso, a Capes tem sido rigorosa nos casos em que não há dedicação exclusiva dos professores. "A excelência acadêmica não pode parar de crescer", afirmou Paulo Renato, ao anunciar que o modelo de avaliação adotado pela Capes já atraiu o interesse de outros países latino-americanos.
TESTES PARA FORMANDOS
BRASÍLIA — Os 44 mil universitários das áreas de administração, direito e engenharia civil que se formam no final do ano, serão os primeiros a passar pelo exame nacional de avaliação do Ministério da Educação. O teste, que vai incluir instituições públicas e particulares será estendido a todos os cursos de graduação. A partir desta 'semana, o MEC lança campanha nacional para explicar os objetivos do exame, marcado para 10 de novembro. "Nosso objetivo não é avaliar o aluno e sim o ensino que está sendo oferecido pelas escolas", disse ontem o ministro Paulo Renato Souza.
Segundo o MEC, cerca de 4 mil estudantes de engenharia civil, de 100 instituições de ensino, farão a prova. Na área de administração são 20 mil alunos de 400 instituições e na área de direito, 20 mil de 200 faculdades. A União Nacional dos Estudantes (UNE) é contra a aplicação do exame, e sustenta que um único exame não avalia o desempenho do aluno. Mas o ministro, explica que "uma prova não avalia um aluno, mas milhares de provas avaliam uma escola".
A partir de agora, a cada cinco anos, de acordo com as normas do Conselho Nacional de Educação, as instituições precisarão se recredenciar junto ao MEC. Dependendo dos resultados das avaliações, que serão anuais, a Escola poderá não obter renovação de credenciamento.
Em 1997, estudantes de outros três cursos serão submetidos à prova de avaliação: veterinária, odontologia e engenharia química. As notas obtidas pelos alunos não irão constar do currículo. O aluno será informado sobre o resultado e, se quiser, poderá fazer novo exame no ano seguinte.
"O diploma de um estudante de medicina no Acre, vale em todo o país, por isso precisamos lutar para garantir à qualidade do ensino", explicou o ministro. Para o primeiro exame, em novembro, as comissões especiais que estudam os conteúdos das provas preparam um relatório divulgado ontem pelo MEC.
Para cada área, os especialistas consultados pelo MEC estabelecem os pontos que serão levados em conta na avaliação e o formato das provas. A prova de direito terá duas partes: a primeira destinada a medir não só o conhecimento, mas principalmente a capacidade de aplicação desse conhecimento. A segunda abrangerá as habilidades a serem avaliadas. Serão apresentados três casos jurídicos dentre os quais o formando deverá escolher um sobre o qual elaborará um parecer.
Para a engenharia, o exame vai apresentar um conjunto de dados a ser sistematizado pelo aluno e informações técnicas que compreendidas e interpretadas, darão subsídio ao aluno para construir e avaliar modelos, formular problemas e propor soluções. A prova de administração será composta de três partes: a primeira com questões objetivas; a segunda com questões abertas e discursivas. Na terceira parte, o exame vai exigir a abordagem de tópicos e questões da administração.
Notícia
Jornal do Brasil