'É impossível que uma pessoa possa olhar nos olhos de um filho preso a uma cadeira de rodas e dizer-lhe que sua vida vale menos do que a de um embrião congelado'
Mayana Zatz, professora titular de genética, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto de Biociências da USP e presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (SP), enviou a seguinte carta à 'Folha de SP':
'Foi com muita alegria que tomei conhecimento da preocupação dos bispos da CNBB com a necessidade de somar esforços para atender sempre melhor os que sofrem de doenças degenerativas e os portadores de necessidades especiais ('As células-tronco a serviço da vida', Opinião, pág. A2, 26/6), pois é isso o que move os cientistas de 63 países que buscam nas pesquisas com células-tronco a esperança de tratamento para inúmeras doenças.
Esses pesquisadores certamente gostariam que células-tronco adultas -inclusive as obtidas de cordão umbilical- tivessem o potencial terapêutico necessário para substituir os vários tecidos, mas sabem que só as células-tronco embrionárias têm o potencial de diferenciar-se em todos os tecidos humanos.
A vida que queremos preservar não é a de embriões congelados, mas, sim, aquela dos inúmeros pacientes que estão morrendo vítimas de doenças degenerativas ainda sem tratamento.
Esses pacientes não têm tempo para esperar! É impossível olhar para uma criança que está morrendo e para um embrião congelado que vai ser descartado (e que, mesmo que fosse implantado em um útero, teria uma chance baixíssima de se tornar uma vida) e acreditar que se trate da mesma vida humana.
É impossível que uma pessoa possa olhar nos olhos de um filho preso a uma cadeira de rodas e dizer-lhe que sua vida vale menos do que a de um embrião congelado.
O que nos move não são interesses econômicos. O que os cientistas estão pedindo ao Senado é a oportunidade de fazer no Brasil as mesmas pesquisas que são feitas hoje na maioria dos países da Europa, no Japão, na Coréia do Sul, no Canadá, na Austrália e em Israel.
O que esses cientistas querem é poder olhar nos olhos desses pacientes com a certeza de que se está tentando o melhor.'
(Folha de SP, 29/6)
JC e-mail 2554, de 29 de Junho de 2004.
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