Com um potencial hidrelétrico praticamente esgotado, o estado de São Paulo vem buscando alternativas para alcançar a autossuficiência em geração de eletricidade. Atualmente, o estado é cerca de 51% autossuficiente em produção de energia, dependendo da importação, via Sistema Interligado Nacional (SIN), para complementar o atendimento pleno da demanda interna pelo insumo. Essa dependência só não aumentou nos últimos anos devido a uma participação crescente – embora lenta – da cogeração de energia com biomassa de cana.
Uma redução a médio e longo prazo desse quadro está basicamente nas mãos da iniciativa privada e na melhoria do grau de atratividade econômica de projetos, tanto de geração de energia renovável – solar e biomassa de cana – como de gás natural e biogás, aponta Reinaldo Almança, assistente técnico da Secretaria de Energia e Mineração do estado.
“Nossa capacidade de oferta é bastante limitada. A autoprodução aumenta, mas de maneira gradual, por volta de 1,5% a 2% ao ano”, diz.
Entre as fontes que tendem ser mais exploradas, está a cogeração com biomassa, associada à instalação de plantas fotovoltaicas, grandes usinas termelétricas movidas a gás natural e também a unidades de menor porte, em geração distribuída, alimentadas com biogás. A expansão por hidrelétricas, no entanto, deve perder espaço nesse cenário, visto que as opções remanescentes, 1.800 MW de PCHs e CGHs, possuem viabilidade econômica mais complicada.
No caso do desenvolvimento de usinas fotovoltaicas, há investimentos representativos em grandes parques, mas o nível de radiação solar no estado de São Paulo, pelo menos no momento, ainda não é interessante o suficiente para deslocar investimentos do Nordeste e do Centro-Oeste, onde o potencial é muito mais atrativo.
Já o parque paulista de cogeração com biomassa de cana possui hoje 5.800 MW instalados. Desse total, fora a parte de autoconsumo dessas plantas, somente uma parte da bioeletricidade está disponível para exportação ao SIN. Independentemente do aumento do número de usinas, o que não tem acontecido nos últimos anos devido à falta de atratividade econômica enfrentada pelo setor sucroalcooleiro, a interligação ao sistema elétrico das demais usinas em operação depende, hoje, da iniciativa privada.
Gás natural e biogás
A situação não é muito diferente para as usinas movidas a gás natural. Embora exista um excedente disponível da ordem de 1,2 bilhão de m³, a exploração de novos projetos também depende do apetite dos investidores ante a política de leilões de energia para o mercado regulado, praticada pelo governo federal.
O governo paulista, por meio da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), até se movimentou no sentido de oferecer condições favoráveis para o desenvolvimento de empreendimentos térmicos a gás. Entrou com área e infraestrutura no bairro da Pedreira, na capital paulista, para atrair interessados. Mas a resposta à iniciativa foi fraca, remonta de 2016 e com participação de apenas duas empresas: o consórcio Siemens-Gasen e a AES Tietê.
A ideia é viabilizar no local um cluster com até 1.500 MW de capacidade, mas, até o momento, esses players ainda não viram oportunidade econômica suficientemente atrativa para levar os projetos adiante. A AES Tietê, em particular, revelou que não tem previsão de levar adiante sua parte no projeto porque tem dado prioridade à construção de geração solar em São Paulo.
Do lado da oferta de gás, o potencial de extração na área do pré-sal da Bacia de Santos é considerado muito promissor. Ainda assim, falta articular com empresas capazes de viabilizar o sistema de escoamento.
Já no que se refere ao biogás, Reinaldo Almança destaca que este energético virá, principalmente, da fermentação controlada da vinhaça de cana. A Cosan, por exemplo, será a primeira a colocar em operação uma usina que vai usar esse tipo de combustível. Para se ter uma ideia, estudo do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) aponta que, após a remoção de contaminantes, poderiam ser produzidos 1,975 bilhão de Nm³/ano de biometano a partir da vinhaça da cana em São Paulo, suprindo 16,6% do consumo de gás natural de todo o estado.
Hidrelétricas
Por enquanto, as hidrelétricas seguem como a principal fonte de geração de energia no estado de São Paulo. Em setembro, as grandes usinas produziram 4.158,8 GWh, segundo dados da Secretaria de Energia e Mineração. As hidrelétricas da China Three Gorges (CTG) representaram 57,19 % do total produzido naquele mês. Entretanto, o histórico de produção disponível no site da secretaria revela que esta geração vem sofrendo queda representativa a partir de meados desta década, devido à prolonga crise hídrica que vem impactando praticamente todo o país.