O ano de 1989 foi histórico para a comunicação na cidade. A Universidade Estadual de Maringá (UEM), que na época contava com apenas um computador, estabeleceu o 1º contato feito pelo município por meio de correio eletrônico com pessoas de outros países. Para isso, foi utilizada uma rede de comunicação que se popularizou entre centros de ensino de todo o mundo: a bitnet, considerada por muitos a precursora da internet.
A ideia de trazer a bitnet para o campus da UEM foi do professor Paulo Cezar de Freitas Mathias, que havia conhecido a tecnologia enquanto esteve afastado para um pós-doutorado no National Institutes of Health, nos Estados Unidos. Em dezembro de 1988, de férias no Brasil, ele narrou a experiência ao pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (PPG), professor Nelson Martins Garcia. Logo o assunto chegou aos ouvidos do reitor, professor Fernando Ponte de Sousa (1986-1990), que autorizou o início dos experimentos para que a UEM fizesse parte desta rede acadêmica.
De acordo com Júlio Cesar Wunderlich, que era “post master” da UEM – profissional responsável pela administração do correio eletrônico - o principal contato sobre o sistema no Brasil era a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que desenvolvia a estrutura da Rede Acadêmica do Estado de São Paulo e já contava com uma conexão internacional.
O mainframe – computador responsável pelo processamento de um grande número de informações – da UEM era da marca International Business Machines (IBM), compatível com a conexão com a bitnet. “No período de janeiro a julho de 1989 foram realizadas várias reuniões entre os representantes da UEM, Fapesp e da Embratel de Maringá (que faria a ligação física entre os centros de ensino) para viabilizar tecnicamente a conexão, mas havia muitas dificuldades, pois faltava pessoal especializado em teleprocessamento”, lembra Wunderlich.
Ele explica que o avanço na situação veio com o retorno definitivo do professor Mathias, que havia adquirido experiência no assunto enquanto estivera ausente. “Graças a ele e aos demais envolvidos, a UEM finalmente entrou na era do teleprocessamento, através de uma ligação provisória com a Fapesp.”
Não há registros do dia exato em que a primeira mensagem foi recebida. No entanto, Gilmar Leal Santos, que era analista de suporte da IBM e participou do processo de implantação, lembra do conteúdo que a mensagem trazia. “Enquanto fazíamos alguns testes, a tela começou a piscar. Era uma mensagem da Universidad de Monterrey, do México, nos cumprimentando por termos ingressado na rede.”
Somente no mês de abril de 1990, a Embratel conseguiu a tecnologia necessária para ligar a UEM à Fapesp e, consequentemente, ao mundo todo em tempo integral.
A universidade podia ser encontrada no mundo virtual através do endereço brfuem.bitnet, uma espécie de site para a rede. “Foi uma revolução para o meio acadêmico. Passamos a ter contato em tempo integral com o planeta todo. Os professores podiam trocar artigos e experiências com pessoas dos mais diversos países sem ter que viajar. Hoje, parece algo simples, mas foi uma mudança e tanto”, explica Hélcio do Prado, que na época deu suporte técnico para o projeto.
A tecnologia permitia a troca apenas de mensagens de texto e cada usuário podia ter um e-mail particular. Ferramentas de bate-papo online em tempo real também estavam disponíveis.
A comunicação, então, evoluiu a passos largos, até que em 1996 a bitnet foi extinta. “Muito devemos à bitnet, que dentro das limitações oferecia praticamente tudo o que a internet nos possibilita”, finaliza do Prado.