A imagem projetada no telão foi emblemática. Com a Baía da Guanabara ao fundo, Rolf Weber, professor do Instituto Oceanográfico da USP, apresentou a síntese de sua tese.
Enquanto o local, um dos cartões-postais mais atraentes do Brasil, recebe 1,3 metro cúbico de petróleo ao ano, originário de diversas fontes, as mesmas águas recebem 18 metros cúbicos de esgotos - só que por segundo.
'Não existe dúvida. O petróleo não é o grande vilão da poluição das águas marinhas, como muitos imaginam. Claro que os vazamentos geram mais comoção e realmente são prejudiciais, mas não são o principal problema', disse à Agência Fapesp um dos principais oceanógrafos químicos do Brasil, que esteve em debate sobre poluição das águas, realizado dentro das programações do simpósio Patrimônio Ambiental Brasileiro, encerrado nesta quinta-feira, no anfiteatro do Departamento de Geografia da USP.
A grande quantidade de matéria orgânica, praticamente sem tratamento prévio, despejada nos oceanos todos os dias, não causa transtornos apenas para o equilíbrio ecológico dos ambientes marinhos.
'Isso é um problema de saúde pública. As pessoas em contato com essas águas podem contrair cólera, hepatite, diarréias ou dermatoses', afirmou Weber.
Por causa da circulação oceânica, o impacto das altas quantidades de matéria orgânica é muito maior em locais abrigados, como baías ou enseadas.
'Podemos dizer que praticamente não existe poluição nos oceanos profundos. Em todo o mundo, os problemas se restringem à costa'. Segundo o oceanógrafo, mesmo as praias dos mares Mediterrâneo e Báltico, durante o verão, sofrem com a presença da poluição.
Um dos maiores especialistas em águas doces do Brasil, Aldo Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da USP, defende que o poder público e a sociedade em geral olhem com mais cuidado para os esgotos lançados ao mar.
'O problema da poluição não é científico e nem tecnológico. Essa é uma questão para ser resolvida no âmbito político e econômico', disse.
Também presente no simpósio, Rebouças não poupou críticas aos três níveis governamentais. 'O Brasil não tem problema de água. O que estamos vivendo é uma grave ausência de gestão de recursos hídricos', disse em apresentação realizada diante de um auditório lotado.
O pesquisador utilizou o exemplo da Amazônia para mostrar a ineficiência geral em relação à água. 'Como pode uma região com tamanha quantidade de água ser uma das mais pobres do Brasil?', pergunta.
(Agência Fapesp, 16/4)
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