Um trabalho multicêntrico liderado por pesquisadores do Hospital A.C.Camargo com participação da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e do Hospital de Câncer de Barretos analisou alterações genômicas e traçou o perfil de expressão gênica de 42 pacientes com diagnóstico de câncer de pênis, sendo a maior amostra para tal análise no mundo, reunindo homens de 24 a 91 anos com média de idade de 55 anos.
Foram utilizados dois métodos de estudo: a hibridação genômica comparativa baseada em arrays (denominada CGH-array e que utiliza DNA tumoral) e a análise da expressão gênica (RNA) nos tumores penianos em comparação com tecidos normais. Observou-se várias alterações genômicas que caracterizaram os tumores HPV (vírus do papiloma humano) positivos e negativos. Estas alterações foram consideradas como potenciais marcadores prognósticos, portanto fundamentais para determinar a forma como cada tratamento será direcionado.
As análises possibilitaram identificar o determinante papel das alterações no cromossomo 3, que foram associadas a características de pior prognóstico, culminando em mais recidivas (retorno da doença pós-tratamento) e tumores mais avançados. O estudo indicou que 30% de todos os tumores analisados eram HPV-positivos. A literatura indica que os pacientes que apresentam diferentes tipos de tumores HPV positivos respondem melhor a tratamentos, entretanto, isso não é conhecido em carcinomas de pênis. Além disso, a literatura também mostra resultados discrepantes quanto ao comportamento dos tumores HPV positivos, ou seja, se eles teriam prognóstico bom ou desfavorável.
O estudo em questão é a tese de doutorado pela Fundação Antônio Prudente/Hospital A.C.Camargo da bióloga Ariane Fidelis Busso, com orientação da bióloga e geneticista do A.C.Camargo e UNESP, Sílvia Regina Rogatto e colaboração dos patologistas Fernando Augusto Soares - que dirige a Anatomia Patológica do A.C.Camargo - e José Vassalo, da UNICAMP.
Segundo Ariane Busso apenas alguns subtipos histológicos são mais frequentemente HPV positivos, são os casos dos condilomatosos e basalóides. O tipo mais comum de HPV associado ao câncer de pênis, segundo o estudo, é o subtipo 16 (85% dos casos), um subtipo de alto risco oncogênico e comum também em tumores de colo do útero e carcinomas de orofaringe. Os pesquisadores também identificaram HPVs do tipo 18, 31, 52 e 59 (alto risco) e 40 e 81 (ambos de baixo risco).
"Observou-se que a presença de HPV está associada a alterações de moléculas específicas do sistema imune e resposta inflamatória. Isso é novidade em câncer de pênis. Relação semelhante foi descrita há mais tempo com câncer de colo do útero, que é quase 100% associado com HPV, principalmente dos subtipos 16 e 18", destaca a pesquisadora.
De acordo com estimativas do INCA, o Brasil registra anualmente quase 5 mil novos casos de câncer de pênis, sendo assim uma das maiores incidência desta doença no mundo e embora seja sabido que os principais fatores de risco sejam falta de higiene, fimose e sexo sem proteção, pouco se sabia, até este estudo, sobre as alterações biológicas que levam ao seu desenvolvimento.
"Nossa pesquisa poderá ajudar a criar estratégias específicas e mais eficazes para o tratamento da doença. Pela característica dos genes, é possível saber quando o tumor é mais ou menos agressivo e partir para do alvo diretamente para a terapia, com drogas com potencial para inibir o seu crescimento", explica Sílvia Rogatto.
Além das descobertas genômicas e da expressão desses genes, os pesquisadores conseguiram selecionar 20 genes alterados centrais, que estão sendo validados como alvos terapêuticos ou marcadores prognósticos. "Todo esse conhecimento permitirá manejar o câncer de pênis da melhor maneira em um futuro próximo. Os participantes do nosso trabalho têm em mente que estão contribuindo para o avanço no conhecimento", orgulha-se a geneticista.
Com o estudo ainda em andamento, os pesquisadores visam ampliar a amostragem para mais de 50 pacientes, consolidando-a como a maior em mapeamento genômico de tumores penianos do mundo. O principal trabalho até então foi publicado por pesquisadores do INCA e da Universidade Jena, na Alemanha, em 2001 no Genes, Chromosomes &Cancer. Na oportunidade, Alves et al analisaram os perfis de 26 pacientes, porém foi utilizada uma técnica menos abrangente de análise genômica.
Sobre o Hospital A.C.Camargo
Instituição filantrópica criada em 1953 por Antônio e Carmen Prudente, o Hospital A.C.Camargo é um dos maiores centros de tratamento oncológico da América Latina. De forma integrada e multidisciplinar, atua na prevenção, diagnóstico e tratamento ambulatorial e cirúrgico dos mais de 800 tipos de câncer identificados pela Medicina, divididos em mais de 40 especialidades. A cada ano identifica e trata 14 mil novos casos da doença, com pacientes de diversas partes do país e exterior, totalizando mais de 950 mil atendimentos (consultas, exames laboratoriais e por imagem, internações, cirurgias, quimioterapia e radioterapia, entre outros). Seu corpo clínico é composto por uma equipe fechada de 403 médicos especialistas, a maior parte com mestrado e doutorado. A dedicação e interação destes profissionais em atividades interdisciplinares resulta em um tratamento com melhores índices de sucesso, só comparáveis aos observados nos maiores centros oncológicos do mundo.
Na área de ensino, o A.C.Camargo criou a 1ª Residência em Oncologia do país, em 1953, tendo formado em 2010 o seu milésimo residente. É também responsável pela formação de um em cada três oncologistas em atividade no Brasil. Sua pós-graduação, criada em 1997, é a única em um hospital privado reconhecida pelo Ministério da Educação e foi avaliada com nota máxima durante toda essa década pela CAPES, tornando-se assim, entre escolas públicas e privadas, a melhor do país em Oncologia e uma das duas melhores em Medicina. Tem a maior produção científica da área, com mais de mil trabalhos publicados na última década nas principais revistas internacionais de alto impacto. Centralizou em 2000 o Genoma do Câncer no Brasil, financiado pela FAPESP e Instituto Ludwig.
Em 2011, o Hospital foi eleito pela terceira vez uma das melhores empresas para Você trabalhar do Guia Você S/A Exame. Em 2009, o Hospital foi apontado pela edição 500 Melhores Empresas da revista Istoé Dinheiro como uma das melhores em Saúde pelo terceiro ano consecutivo e pela segunda vez consecutiva entre as 10 melhores empresas de serviços médicos do Brasil na Gestão de Pessoas, de acordo com o anuário Valor Carreira.
Da Ascom do Hospital AC Camargo