Trabalho contabilizou 826 espécies que vivem no fundo do mar, em costões rochosos e terrenos arenosos
Pesquisa realizada na Baía do Araçá, no canal de São Sebastião, Litoral Norte, identificou 826 espécies de organismos betônicos (aqueles que vivem no fundo do mar, em costões rochosos e fundos arenosos ou lamosos), sendo 11 delas ainda não documentadas pela ciência.
Oito dessas novas espécies são de anelídeos — animais como as minhocas, importante fonte de alimento para peixes. As outras três são artrópodes. O artigo com o resultado deste estudo foi publicado no último mês na revista “Biota Neotropica” e divulgado pela Agência Bori.
Ao longo da pesquisa, equipes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), USP (Universidade de São Paulo) e de outras instituições brasileiras e estrangeira, coletaram amostras de diferentes habitats da baía, incluindo manguezais e costões rochosos.
Após a coleta, os organismos foram identificados em espécies com base em estudos anteriores e coleções de museus e catalogados em um checklist abrangente sobre a fauna bentônica da baía.
O Museu de Diversidade Biológica, do Instituto de Biologia da Unicamp, serviu como um dos principais repositórios de espécimes coletados durante o projeto.
O artigo destaca os organismos mais prevalentes na Baía do Araçá, sendo eles anelídeos (225 espécies), moluscos (194 espécies) e crustáceos (177 espécies). A riqueza de espécies na baía reforça sua importância ecológica e biodiversidade marinha complexa.
Ação humana
Para pesquisadores, conhecer tais animais é fundamental para formular estratégias de conservação dos ecossistemas marinhos.
Segundo Cecilia Amaral, da Unicamp, autora principal do artigo, os organismos bentônicos desempenham importantes serviços ecossistêmicos, como a reciclagem de nutrientes, e atuam como indicadores de distúrbios e da qualidade do ambiente.
“Como parte fundamental da teia trófica, esses organismos servem de alimento para muitas aves, peixes, crustáceos, como também para alimentação humana, tais como algas, mariscos, siris, camarões e caranguejos”, acrescenta a cientista em nota.
A pesquisa faz parte de um amplo projeto de estudo do local financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) e destaca também o impacto da ação humana sobre a Baía do Araçá. Um exemplo é a proximidade com o porto de São Sebastião.
O recente aparecimento de uma espécie de ascídia nociva para o cultivo de mexilhões e ostras indica o papel do porto na introdução de organismos potencialmente invasores.
As atividades do porto também concorrem com a pesca artesanal da região, realizada tradicionalmente em canoas caiçaras, configurando um conflito socioambiental na baía.
Ainda segundo Cecília, a continuidade dos estudos é fundamental para aprimorar a gestão de oceano e áreas costeiras no país. “Somente dessa forma teremos condições de conhecer de maneira integrada a ampla área marinha de nossa costa, de Norte a Sul, e assim nos tornaremos mais fortes para defender essa nossa imensa extensão de área marinha”, finaliza.
Paula Prado