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Manejo de água no Brasil é crítico, dizem pesquisadores

Publicado em 10 outubro 2013

Por Elton Alisson, da Agência FAPESP

A gestão de recursos hídricos no Brasil representa um problema crítico, devido à falta de mecanismos, tecnologias e, sobretudo, de recursos humanos suficientes para gerir de forma adequada as bacias hidrográficas do País. A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do "Seminário sobre Recursos Hídricos e Agricultura", realizado na última semana na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"O Brasil tem problemas de gestão de recursos hídricos porque não apresenta mecanismos, instrumentos, tecnologias e, acima de tudo, recursos humanos suficientemente treinados para enfrentar e solucionar os problemas de manejo da água", disse José Galizia Tundisi, pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE).

De acordo com Tundisi, é preciso gerar métodos aplicáveis às condições do País. Segundo ele, as bacias hidrográficas brasileiras foram adotadas como unidades prioritárias de gerenciamento do uso da água pela Política Nacional de Recursos Hídricos, sancionada em 1997. Contudo, atualmente, todas as bacias ainda carecem de instrumentos que possibilitem uma gestão adequada.

"É muito difícil encontrar um comitê de bacia hidrográfica que esteja totalmente instrumentalizado em termos de técnicas e de programas para melhorar o desempenho do gerenciamento de uso da água", conta o pesquisador.

Modelagem hidrológica

Tundisi afirma que a adoção de instrumentos computacionais de simulação do comportamento de bacias hidrográficas facilitaria a tomada de decisões em relação ao manejo das águas brasileiras. Como exemplo, o pesquisador cita o modelo criado por Samuel Beskow, professor do Departamento de Engenharia Hídrica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Batizado de Lavras Simulation of Hidrology (Lash), o modelo hidrológico é útil tanto para projetar estruturas hidráulicas - pontes ou reservatórios -, como para fazer previsões em tempo real de cheias e enchentes. A ferramenta ainda é capaz de medir os impactos do desmatamento no entorno de bacias hidrográficas.

Segundo Beskow, a falta de dados fluviométricos (de medição de níveis de água, velocidade e vazão nos rios) das bacias hidrológicas existentes no País o motivou a desenvolver o modelo hidrológico. O professor afirma que há poucas estações fluviométricas cadastradas no Sistema de Informações Hidrológicas (HidroWeb), operado pela Agência Nacional de Águas (ANA).

"No Rio Grande do Sul, por exemplo, existem pouco mais de cem estações fluviométricas cadastradas nesse sistema. Esse número é muito baixo para fazer a gestão de recursos hídricos desse Estado", afirma Beskow.

Uso racional da água

Klaus Reichardt, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a agricultura é o setor que consome a maior parte da água doce disponível no mundo. A partir disso, ele afirma que há a necessidade de se investir em tecnologias que utilizem a água de maneira cada vez mais racional no campo.

De acordo com o pesquisador, do total de 70% da água encontrada na Terra, 97,5% é salgada e 2,5% é doce. Desse percentual ínfimo de água doce, no entanto, 69% estão estocados em geleiras e neves eternas, 29,8% em aquíferos e 0,9% em reservatórios. Do 0,3% prontamente disponível, 65% são utilizados pela agricultura, 22% pelas indústrias, 7% para consumo humano e 6% são perdidos.

Confira a íntegra da matéria de Elton Alisson na Agência Fapesp