O legado do músico David Bowie, que morreu em janeiro de 2016, vai mais longe do que se imaginava. Entre 70 e 87 milhões de anos atrás, fim da era Mesozoica, no lugar que hoje é conhecido como fazenda buriti, na cidade de General Salgado, noroeste do estado de São Paulo.
Foi lá que viver o Brasilestes stardusti, o mais antigo mamífero do Brasil e único brasileiro que conviveu com os dinossauros. Pelo menos até onde se sabe.
Tampouco se sabe muito sobre o animal. Tudo que a ciência conhece foi graças a um dente pequeno, com 3,5 milímetros, e incompleto, por estar sem as raízes, conforme recém publicado em estudo na Royal Society Open Science.
“Pequeno mas nem tanto. O dente do Brasilestes é três vezes maior do que quase todos os dentes conhecidos de mamíferos do Mesozoico”, afirmou Mariela de Castro, paleontóloga da USP, à agência FAPESP.
“No tempo dos dinossauros, a maioria dos mamíferos tinha o tamanho de camundongos. Brasilestes era bem maior: do tamanho de um gambá.”
A descoberta foi quase um acidente. O grupo de pesquisadores estavam vasculhando os campos de General Salgado, onde são comuns encontrar fósseis de dinossauros e outros répteis antigos quando um dos pesquisadores se deparou com um pedaço diferente.
“O afloramento onde achei Brasilestes é interessante, com dezenas de fragmentos de cascas de ovos decrocodilos. Ao me debruçar em uma parte do afloramento para ver o que possivelmente tinha de cascas de ovos, me deparei com o dentinho”, disse o autor da descoberta, Júlio Marsola.
“Quando penso que alguns grupos de pesquisa chegam a peneirar uma tonelada de sedimento pra achar um único fragmento de mamífero do Mesozoico, acredito que eu tenha de fato gastado toda minha sorte. Mas espero sinceramente que não.”
Muitas espécies extintas de mamíferos, inclusive de ancestrais do ser humano, descritas com base em um único canino ou molar. Com base em análises de laboratório, os cientistas concluíram se tratar de um tério, um grande grupo que engloba todos os mamíferos que não põe ovo.
Já a influência do David Bowie veio por gosto de Júlio Marsola e dos demais pesquisadores mesmo. O fóssil do dente foi encontrado no final de 2015 e, no meio do processo de classificação, o cantor virou “poeira estelar”. Em acordo, resolveram homenagear Ziggy Stardust, personagem que veio do espaço criado por Bowie em 1973.
Além Brasilestes stardusti, existem outras incursões do músico inglês pela biologia. Em 2009, uma aranha grande e amarela encontrada na Malásia ganhou o nome de Heteropoda davidbowie, pois o autor da descoberta encontrou semelhanças entre o bichho e a fase marciana de Bowie.