Corte de verba do governo federal faz Centro Avançado de Pesquisa da Malária da USP diminuir atendimento e acompanhamento de pessoas infectadas pela doença em Rondônia.
Corte de verbas dificulta estudos sobre a malária
A desativação do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) a partir do próximo ano, anunciada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e os cortes orçamentários feitos pelo governo federal na área de saúde deixará em dificuldades financeiras o Centro Avançado de Doenças Tropicais da USP, localizado em Rondônia. Este núcleo de pesquisa estuda a malária desde 1989. "O problema da malária na região amazônica é complicado porque o mosquito transmissor está em seu habitat natural, por isso tratar esta doença em Rondônia é muito mais difícil do que tratá-la em São Paulo", explica Erney Plessmann Camargo, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e um dos articuladores do programa desde seu nascimento.
O campus avançado da USP, localizado em Porto Velho, iniciou-se com incentivos da Finep e da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesses dez anos de trabalho foram realizadas pesquisas sobre diversas doenças tropicais. Mas o alvo principal destas pesquisas foi a malária. "É o maior problema da região e precisávamos dar prioridade a ele. Só em 1988 a doença havia assolado o estado com 250 mil vítimas", considera Erney.
A partir de 1997, o Centro Avançado de Doenças Tropicais passou a contar com o Pronex como principal fonte de recursos. "Com o incentivo do Pronex foi possível montar um laboratório de primeiro mundo, semelhante ao que temos no campus de São Paulo", afirma Erney. "Atualmente atuamos em quatro municípios do estado: Porto Velho, Colina, Portochuelo e Montenegro, onde procuramos atender a população local. Para isso precisamos de transporte, remédios e equipamento".
Desde o ano passado, no entanto, os recursos do Pronex vem sendo reduzidos. "Inicialmente recebemos R$ 600 mil. Em 1998, recebemos R$ 125 mil, e neste ano não sabemos com quanto contar".
O Campus Avançado da USP trabalhava em conjunto com a Fundação Nacional de Saúde (FNS), que é responsável pelo diagnóstico primário de malária, febre amarela e outras doenças infecciosas na região amazônica. Mas este ano a FNS sofreu cortes drásticos inclusive no pagamento do pessoal, e "nossa situação é de incerteza".
Com o corte no orçamento, o Centro Avançado de Doenças Tropicais terá que diminuir o atendimento e acompanhamento de pessoas infectadas pela malária. Para solucionar este problema, os coordenadores do projeto estão procurando recursos no exterior, sobretudo no Japão e na Inglaterra. "Para combater a malária na região amazônica, é fundamental este acompanhamento. Precisamos encontrar soluções pontuais para quebrar o ciclo de infecções, e para isso precisamos de médicos em atividade", comenta Erney.
De acordo com o professor, a reitoria está interessada no projeto e a USP tem contribuído na área de recursos humanos. Algumas pesquisas tem sido feitas com recursos da Fapesp, mas para manter a infra-estrutura são necessárias outras fontes de renda.
Dez anos após o início do projeto, a malária em Rondônia é bem menor. "A malária explosiva, que invadiu o estado no início da década, ocorreu justamente porque Rondônia era um pólo atrativo de migrantes, que não possuíam nenhuma defesa contra a doença, e por isso a epidemia alastrou-se. Hoje, que Rondônia já não recebe tantos migrantes, o problema está em Roraima. Mas não há porque expandirmos nosso campus avançado até lá, pois a malária explosiva já foi suficientemente estudada", conta Erney.
No entanto, o professor considera fundamental o prosseguimento das pesquisas em Rondônia. "A malária foi sempre, em todos os tempos, um grande algoz da humanidade. Algumas epidemias, como a da peste do século XIV, podem ter tido maior dramaticidade pela agudez de sua ocorrência, mas nenhuma outra doença se compara à malária pela tenacidade e perenidade com que flagela a humanidade. Por isso não podemos ignorar a presença desta doença no Brasil. Devemos estudá-la e buscar soluções", afirma.
Mais informações: (011): 818-7208 e-mail: erney@usp.br.
Notícia
Agência USP de Notícias