Notícia

Jornal do Commercio (PE)

Mais um folheto com dicas sobre drogas gera polêmica

Publicado em 19 junho 2007

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) suspendeu ontem a liberação de verbas para o projeto de uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) que incluía a distribuição de folhetos a consumidores de ecstasy, uma droga ilegal. Esses folhetos dão dicas de como reduzir os riscos do consumo da droga - uma delas é tomar metade da dose, esperar os efeitos e só depois decidir se toma ou não a outra metade.

A peça usa uma estratégia da saúde pública que tenta reduzir os danos à saúde decorrentes de práticas de risco. Já que sempre haverá pessoas adotando essas práticas, mesmo que ilegais, a idéia é que os males sejam pelo menos minimizados. É a chamada redução de danos.

Às vésperas da Parada Gay de São Paulo deste ano — ocorrida dia 10 — um panfleto distribuído pela organização do evento gerou polêmica por dar dicas de como utilizar drogas de forma mais segura.

"É um equívoco. A redução de danos não é uma apologia ao uso de drogas", afirma a psicóloga Stella Pereira de Almeida, a responsável pelo programa que distribuiu em boates os folhetos sobre o ecstasy.

Ela faz uma comparação com a distribuição de preservativos anos atrás: "Antigamente, acreditava-se que a distribuição de camisinhas incentivaria a promiscuidade. Não foi isso o que aconteceu." Segundo o psiquiatra Marcelo Niel, esse tipo de campanha é importante porque, em decorrência das informações, leva os viciados a procurar ajuda médica.

O Ministério da Saúde tem e apóia programas de redução de danos. Para defendê-los, cita números decorrentes da distribuição de seringas descartáveis: em 1994, 21,4% dos casos de aids no País tinham relação com o uso de drogas injetáveis; em 2006, o índice foi de 9,8%.

No entanto, para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp, os programas brasileiros de redução de danos são "caricaturais". "Não fazem sentido, já que o governo não faz campanha de prevenção nem oferece locais de tratamento para os dependentes."