AGÊNCIA FAPESP
O mico-leão-dourado é um símbolo da luta pela preservação das espécies brasileiras ameaçadas de extinção. No Norte Fluminense, um projeto aposta na preservação do pequeno primata como instrumento para conservar outras espécies que vivem na Área de Proteção Ambiental da bacia do rio São João, e para promover o desenvolvimento sustentável local.
Essa bacia abriga quase toda a população de micosleõesdourados que ainda existem na natureza e também é a principal fonte de abastecimen to de água de importantes municípios da Região dos Lagos, co mo Ca bo Frio e Arraial do Cabo.
De acordo com o coordenador do estudo e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Carlos Ramon Ruiz-Miranda, o mico-leãodourado é considerado uma "espécie bandeira" para a conservação da Mata Atlântica, vegetação predominante na bacia hidrográfica do rio São João e de inigualável biodiversidade.
- Ao protegermos o micoleãodourado, favorecemos todas as espécies da região. Isso porque ele reúne características ecológicas de vários grupos, entre elas alimentação diversificada, com insetos, frutas e pequenos vertebrados, e necessidade de diversos habitats para viver, como encostas e baixadas - explica Miranda.
Criado em 1983, o projeto leva em conta a preservação global - da terra, da água, da flora e da fauna. A proposta é consolidar a paisagem florestal, aumentando o número de áreas protegidas e a conectividade entre elas, para tornar viável a existência das populações de micosleõesdourados e de inúmeras outras espécies.
Os micos estão distribuídos em uma paisagem muito fragmentada da Mata Atlântica. As populações estão espalhadas por duas reservas biológicas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a da União e a Poço das Antas, e em 28 reservas particulares ou fazendas, todas localizadas na bacia do rio São João - a região é uma Área de Proteção Ambiental federal chamada de São João/MicoLeão-Dourado. Eles formam uma "metapopulação" de cerca de 1.600 micos para 13 mil hectares.
- Os animais não vivem todos juntos em uma comunidade - explica Miranda.
- É como se habitassem em diferentes bairros, separados entre si, e de diferentes tamanhos. No estudo demográfico, temos uma estimativa da população de cada bairro. O conjunto das populações desses bairros é chamado de metapopulação.
Boa parte das populações de micos-leões-dourados foi reintroduzida na natureza pelos pesquisadores, especialmente na década de 90.
Outros animais que viviam isolados em determinada área foram removidos para outra, para evitar a extinção.
Carlos destaca que nenhuma população tem capacidade de viver a longo prazo se for manejada individualmente, pois populações pequenas e isoladas são vulneráveis à extinção.
Os micos-leões-dourados evitam caminhar em áreas desmatadas, como os pastos. Para estimular a conexão entre eles nesses locais, o projeto - coordenado até recentemente por Ana Maria Godoy e Rosan Fernandez, da AMLD - tem criado corredores ecológicos.
A meta até 2025 é fazer com que os micosleões-dourados cheguem a um número mínimo de 2 mil para 25 mil hectares de florestas protegidas e interconectadas.
? Quando começamos o projeto, só existiam 300 micos-leões-dourados na bacia hidrográfica do rio São João. Hoje, temos cinco vezes mais micos na área verde - avalia Miranda.