Estudo liderado por pesquisador da USP revela o grau de ameaça a árvores exclusivas da Mata Atlântica
Estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado neste mês de janeiro na revista Science aponta que 82% das mais de 2 mil espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica sofrem algum grau de ameaça de extinção.
A Mata Atlântica é um dos principais biomas do Vale do Paraíba e do país, que já ocupou mais de 1 milhão de quilômetros quadrados espalhados por 17 estados brasileiros, e que agora se reduz a manchas florestais de cerca de 50 hectares cada.
Do total de 4.950 espécies arbóreas presentes no bioma, incluindo as que ocorrem também em outros domínios, 65% estão com suas populações ameaçadas, de acordo com o estudo.
É a primeira vez que todas as populações das quase 5 mil espécies arbóreas da Mata Atlântica têm seu grau de ameaça avaliado segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), maior referência global em espécies ameaçadas.
“O número [de 82% de espécies endêmicas ameaçadas] foi um susto para nós, porque usamos uma abordagem conservadora. Levamos em conta se as espécies tinham ou não floresta disponível, independentemente de ser ou não uma floresta saudável, por exemplo”, disse Renato Lima, professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do estudo.
“Mas nem todas as espécies conseguem se manter em fragmentos degradados. É possível, portanto, que a realidade seja ainda mais preocupante”, completou Lima, em entrevista à Agência Fapesp.
Parte do trabalho é fruto do pós-doutorado do pesquisador no Instituto de Biociências da USP, financiado com bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
PESQUISA
O levantamento foi realizado em mais de 3 milhões de registros de herbários e inventários florestais. Os pesquisadores adicionaram ainda o maior número possível de informações, como usos comerciais das espécies e séries temporais de perdas de hábitat, entre outros. Os dados dos inventários florestais foram armazenados no repositório TreeCo, administrado por Lima.
Outro dado preocupante é que apenas 7% das espécies endêmicas tiveram declínio populacional abaixo de 30% nas últimas três gerações. A IUCN considera que, acima desse patamar, a espécie já pode ser considerada “Vulnerável”, a primeira categoria de ameaça de extinção. Acima dessa estão “Em Perigo” e “Criticamente em Perigo”.
“Quando preenchemos menos critérios da IUCN nas avaliações, o que geralmente tem sido feito até então, temos seis vezes menos espécies ameaçadas. O uso de critérios que incorporam os impactos do desmatamento aumenta drasticamente o nosso entendimento sobre o grau de ameaça das espécies da Mata Atlântica, que é bem maior do que pensávamos anteriormente”, explicou Lima.
“Informações desse tipo são primordiais para a criação de políticas públicas de conservação e reflorestamento. Pode-se priorizar áreas mais degradadas e espécies mais ameaçadas, sem deixar de considerar locais em que há florestas que podem não ser mais viáveis no longo prazo se algo não for feito agora”, completou o pesquisador.
ESPÉCIES
Entre as árvores ameaçadas, 75% estão na categoria ‘em perigo'. O emblemático pau-brasil foi listado como ‘criticamente em perigo', dada a redução estimada de 84% das suas populações selvagens.
Árvores antes comuns, como a araucária, o palmito-juçara e a erva-mate, tiveram declínios de pelo menos 50% e por isso foram classificadas como ‘em perigo', segundo estudo conduzido por professor da USP.
Espécies exclusivas da Mata Atlântica, entre elas a canela (espécies como Ocotea odorifera e O. porosa), sofreram reduções de 53% a 89%, sendo classificadas como “Em Perigo” ou “Criticamente em Perigo”.
Estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado neste mês de janeiro na revista Science aponta que 82% das mais de 2 mil espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica sofrem algum grau de ameaça de extinção.
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