No Brasil, pelo menos 86 milhões de pessoas adultas, mais de 50% da população brasileira, apresenta ao menos um dos fatores que caracterizam grupo de risco para a Covid-19. Desconsiderados os idosos a partir de 65 anos, vulneráveis pela idade, a proporção de adultos em risco continua alta (47%).
É o que diz uma pesquisa do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), que analisou todos os fatores de risco em casos de infecção por Sars-Cov-2 identificados até agora por estudos mundiais.
Ou seja, foram incluídos aqueles com idade a partir de 65 anos, com doenças crônicas (cardiovasculares, diabetes, hipertensão e doença pulmonar) e com câncer diagnosticado há menos de cinco anos. Além deles, pacientes em diálise ou outro tratamento para doença renal crônica, com obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo.
Para estimar o tamanho do grupo de risco para Covid-19 no País, os pesquisadores da Unifesp usaram dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Trata-se de um inquérito de âmbito nacional que coletou, em mais de 80 mil domicílios, dados como peso, altura, circunferência da cintura e pressão arterial – além de amostras de sangue e urina para exames laboratoriais de uma parcela dos entrevistados. Em 2019, uma nova edição da PNS teve início, mas ainda não foi concluída.
“O tamanho do grupo de risco estimado pelo nosso estudo está possivelmente subestimado, o que torna ainda mais necessária a manutenção das medidas de distanciamento físico”, explica à Agência Fapesp, Leandro Rezende, professor do EPM-Unifesp e coordenador da pesquisa.
Desigualdade social
A desigualdade social é um dos fatores mais marcantes da pesquisa, já que 80% dos adultos com baixa escolaridade podem ser incluídos no grupo de risco, enquanto entre as pessoas com nível superior a proporção é de 46%.
“A prevalência de doenças é maior justamente na parcela da população mais vulnerável, que mora em locais onde o distanciamento físico é difícil, tem vínculos empregatícios mais frágeis e menos acesso a serviços de saúde. É preocupante”, comenta o pesquisador.
Ao analisar separadamente os dados estaduais, os pesquisadores observaram que a proporção da população no grupo de risco é maior no Rio Grande do Sul (58,4%), em São Paulo (58,2%) e no Rio de Janeiro (55,8%). Já os estados com menor proporção foram Amapá (45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%).
Para Leandro, a diferença pode estar relacionada tanto à maior expectativa de vida nos estados do Sul e Sudeste - ou seja, há mais idosos -, quanto ao menor acesso de diagnóstico médico no Norte e Nordeste. “O que poderia ter enviesado os dados sobre a prevalência de doenças como diabetes e hipertensão, que, muitas vezes, são assintomáticas no início”, analisa o especialista.
Com informações da Agência Fapesp.