De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mais de 50% dos adultos possuem fator de risco para ter coronavírus grave, o equivalente a 86 milhões de pessoas.
Além disso, entre os adultos que concluíram somente a primeira etapa do ensino fundamental, representando na pesquisa a parcela da população com menor nível socioeconômico, esse índice chega a 80,2%.
Foram considerados fatores risco ter mais de 65 anos, doenças crônicas – cardiovasculares, diabetes, hipertensão e doença pulmonar obstrutiva crônica -, cânceres diagnosticados há menos de cinco anos, realização de diálise ou outro tratamento para doença renal crônica, obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo.
Se considerados apenas os brasileiros com menos de 65 anos, essa proporção ainda é alta e chega a 47%.
Entre os brasileiros com mais de 65 anos, 75,9% apresentaram pelo menos outro fator de risco para os casos graves da doença.
Os pesquisadores usaram dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diante dos resultados, o coordenador da pesquisa Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), avalia que o isolamento social é a melhor medida para este momento.
“Ainda temos poucas informações da parcela da população que já foi infectada pelo vírus e, portanto, quando observamos em um estudo populacional, de amostra representativa da população brasileira, que mais de 50% dos adultos apresenta pelo menos um fator de risco para covid-19 – desses que tem sido relatados na literatura – é bastante preocupante a tentativa de flexibilização, não nos parece a melhor alternativa para esse momento”, disse.
População mais vulnerável
Entre os adultos que concluíram somente a primeira etapa do ensino fundamental, a presença dos fatores de risco para o coronavírus g rave foi muito maior do que entre os adultos com nível superior completo.
A parcela de 80,2% dos adultos com a primeira etapa do ensino fundamental se encaixou no grupo de risco com pelo menos um fator de risco relacionado com quadros graves da covid-19, enquanto entre as pessoas com nível superior essa proporção foi de 46%.
“Já conhecemos as desigualdades em saúde no Brasil, vários estudos têm relatado isso em outras perspectivas e, dentro da covid-19, temos visto uma discussão muito grande da dificuldade das medidas de isolamento em pessoas em vulnerabilidade social alta, morando, por exemplo, em comunidades, com muitas pessoas por domicílio. Isso já é uma dificuldade para esse grupo e o nosso estudo mostrou que, ainda por cima, pessoas com baixa escolaridade, ou menor nível socioeconômico, também tendem a acumular maior proporção da população no grupo de risco”, disse Rezende.
Outra preocupação do pesquisador é que o grupo com menor escolaridade e mais pobre tende a ser menos diagnosticado sobre condições que são fatores de risco para a covid-19 grave.
“É possível que esse grupo ainda tenha um menor diagnóstico de doenças comuns como, por exemplo, diabetes, hipertensão e, portanto, ficamos bastante preocupado com esse resultado, o que sugere que a medida de isolamento social, especialmente para esse grupo, é bastante importante”.
Dados por estados
Os pesquisadores analisaram separadamente os dados estaduais e observaram que a proporção da população no grupo de risco é maior no Rio Grande do Sul (58,4%), em São Paulo (58,2%) e no Rio de Janeiro (55,8%).
Já os estados com menor proporção foram Amapá (45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%).
Edição:
Renata Nicolli Nasrala
* com informações da Agência Brasil