Investigadores liderados pelo romeno Dan Valentin Palcu, pós-doutorando no IO/USP usaram uma técnica chamada magneto-estratigrafia – que aplica o registro das inversões de polaridade do campo magnético da Terra nas rochas como ferramenta de datação – e reconstruções paleogeográficas digitalizadas para determinar o tamanho e o volume do Paratethys.
Segundo o estudo, no auge da sua vivência, há cerca de 10 milhões de anos, estima-se que esse lago tenha coberto uma área de 2,8 milhões de quilômetros quadrados – um pouco maior do que o atual Mar Mediterrâneo – e detinha um volume de mais de 1,77 milhão de quilômetros cúbicos de água salobra.
Durante muito tempo acreditou-se que ali existia um mar pré-histórico, conhecido como Mar Sármata, mas agora temos evidências claras de que durante cerca de 5 milhões de anos este mar tornou-se um lago – isolado do oceano e cheio de animais nunca vistos em outros lugares ao redor do globo.
Este megalago Paratethys foi caracterizado por uma fauna endémica única, incluindo a Cetotherium riabinini – a menor baleia já encontrada.
O estudo também revela a história tumultuada do Paratethys, marcada por múltiplas crises hidrológicas e períodos de seca.
Durante a crise mais grave, o megalago perdeu mais de dois terços da sua superfície e um terço do seu volume, com o nível da água caindo até 250 metros. Isso teve um impacto devastador na fauna, e muitas espécies foram extintas.
Para Palcu, as investigações vão além da simples curiosidade, já que, “Elas revelam um ecossistema que responde de forma extremamente aguda às flutuações climáticas. Ao explorar os cataclismos que este antigo megalago sofreu como resultado das alterações climáticas, obtemos informações valiosas que podem elucidar potenciais crises ecológicas desencadeadas pelas alterações climáticas que o nosso planeta atravessa atualmente, especialmente esclarecimentos sobre a estabilidade de bacias de águas tóxicas como o Mar Negro”.
Joffre Justino