Iniciou-se na segunda, 25 de janeiro, o EPICOVID-19 BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência de Acesso Expandido, que representa a quinta e última etapa do projeto EPICOVID-19 BR, conduzido em 133 municípios brasileiros ao longo de 2020. Trata-se da mais abrangente e avançada pesquisa epidemiológica feita no Brasil sobre a Covid-19. O trabalho é coordenado por Marcelo N. Burattini, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também integrante da equipe de coordenação das etapas iniciais do estudo EPICOVID-19 BR.
“Serão avaliados nesta última parte do estudo, aproximadamente 149.280 indivíduos nos 133 municípios pré-selecionados, equivalente a acréscimo de 50% no número de indivíduos testados em relação às quatro fases anteriores conjuntas”, diz Burattini.
O Grupo Pardini, empresa no segmento de medicina diagnóstica do país, é o laboratório referência do estudo. Responsável pela realização dos exames, o grupo contou com a adesão dos seus laboratórios parceiros para atender os 133 municípios participantes do estudo, onde as coletas e os questionários serão realizados.
Balanço – Um país, várias epidemias
Até o momento, a pesquisa estimou que aproximadamente 60% dos casos apresentaram sintomas. Metade dos entrevistados com anticorpos para a covid-19 declarou ter dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%).
Os resultados também demonstraram que, no período coberto pelo inquérito, “várias epidemias” estavam em curso no país. Enquanto no Norte 10% da população, em média, tinha ou já havia contraído o coronavírus, no Sul esse percentual ficava em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. No caso dos indígenas, o risco de contrair a doença mostrou-se cinco vezes maior do que os brancos.
Os três primeiros inquéritos identificaram uma prevalência média de contágio de 3,8% no conjunto da população da amostra. Na calha do Amazonas, no entanto, a média foi de 20%. Na cidade de Breves, no Pará, por exemplo, 24,8% das pessoas testadas apresentaram anticorpos contra o SARS-CoV-2.
Já entre o primeiro e o último levantamento, a prevalência da infecção dobrou na população como um todo: os percentuais passaram de 1,9% (1,7- 2,1%, pela margem de erro), na primeira etapa, para 3,1% (2,8 – 4,4%), na segunda, e alcançaram 3,8% (3,5 – 4,2%), na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social (percentual de pessoas que ficam sempre em casa) caiu de 23,1% para 18,9%.
Nas quatro fases iniciais foram testadas quase 100.000 pessoas. A última parte da pesquisa seguirá a mesma metodologia dos inquéritos anteriores. A diferença é que o número de pessoas testadas nos mesmos 133 municípios brasileiros participantes do estudo será 50% maior. Outra novidade desta fase é que será realizada coleta venosa de sangue total nos moradores dos municípios selecionados. Vale destacar ainda que, esta última e mais importante etapa do trabalho acontece em um momento estratégico: final do primeiro ano da pandemia e antes do início da vacinação em massa. A etapa final do projeto conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo – FAPESP que irá utilizar a rede de laboratórios parceiros do Grupo Pardini – uma das maiores redes de laboratórios do Brasil – para viabilizar as coletas em todo o território nacional.
Como funciona agora
Serão avaliados os níveis de infecção da população nos mesmos 133 municípios. Cada um será dividido em 25 setores censitários, nos quais serão selecionados aleatoriamente 8 domicílios. Em cada um dos domicílios, os participantes da pesquisa, respondem a um questionário com 15 questões sobre escolaridade, cor da pele, atividade econômica e condições de saúde, e todos os moradores serão testados para a identificação de anticorpos contra o SARS-CoV-2. O inquérito utilizará testes sorológico para identificação dos anticorpos SARS CoV-2 da classe IgG presente no soro.
Projetado originalmente em seis etapas, o EPICOVID-19 BR tem como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e letalidade, além de oferecer subsídio para políticas públicas e medidas de isolamento social. Para avançar com a conclusão, a quinta e sexta fase foram unificadas.
Os testes permitirão aos moradores saberem se já tiveram contato com o vírus e se desenvolveram resposta de anticorpos ao mesmo, indicando proteção eventual.