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Maior consumidor de crack no mundo (1 notícias)

Publicado em 06 de setembro de 2012

Por Renata Mariz

Um em cada 100 brasileiros adultos usaram crack no último ano. Se considerada também a forma em pó da cocaína, 6 milhões de pessoas, ou 4% da população com mais de 18 anos, já experimentaram a droga. Dessas, 2,8 milhões fizeram uso nos 12 meses passados. Os números divulgados ontem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que elaborou o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), colocam o Brasil como segundo consumidor mundial de cocaína e derivados, atrás apenas dos Estados Unidos, em números absolutos de usuários. O país é apontado como o maior mercado de crack, com a marca de um milhão de pessoas utilizando a substância.

"Essa constatação de que o Brasil é o maior mercado consumidor de crack vem de uma indução nossa, em função de outros países não terem tanto problema de crack e considerando um milhão de usuários aqui", explica a psicóloga Clarice Madruga, uma das autoras do estudo. Um dos achados mais preocupantes do levantamento - financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - é o de que 45% dos usuários de cocaína, em qualquer forma usada, tiveram o primeiro contato com a droga antes dos 18 anos. "É a idade em que o consumo mais afeta o cérebro, com chances aumentadas de causar dependência e de desencadear doenças psiquiátricas no futuro, como os distúrbios de ansiedade e de humor."

O número de adolescentes de 14 até 18 anos que fizeram uso de cocaína, em qualquer forma de apresentação do entorpecente, no último ano também assusta: 244 mil pessoas (ou 2% da população nessa faixa etária), segundo o Lenad. "Esse índice elevado de usuários jovens nos sugere uma projeção, no futuro, muito sombria no que diz respeito à dependência química. Outro ponto a ser considerado é que o adolescente tem uma percepção de risco muito baixa, em função da pouca maturidade", destaca Carlos Salgado, especialista em dependência química e integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Das 2,8 milhões de pessoas que fizeram uso no último ano de cocaína, crack ou outros derivados, como merla e oxi, 78% utilizaram a droga em pó e 31% na forma fumada. Do total, 48% desenvolveram dependência química, segundo critérios científicos analisados na pesquisa. "É dizermos que a cada dois, um se tornou dependente. Ou seja, uma roleta russa para quem experimenta", afirma Clarice. A pesquisa detectou ainda que 70% dos usuários de cocaína também utilizaram maconha no último ano. "Mas isso não quer dizer que uma leve à outra. Não há dados suficientes para afirmar que a maconha é porta de entrada para outras drogas", diz a pesquisadora. Em um recorte regional, o Centro-Oeste aparece como campeão em uso de cocaína no último ano, com 2,6% entre adolescentes e adultos, seguido pelo Sudeste, com 2,2%.

No plano mundial, em ranking feito com países que dispõem de dados na Organização Mundial da Saúde, o Brasil aparece em nono lugar em proporção da população consumidora de cocaína, com 2% tendo usado no último ano e 4%, na vida. Em termos absolutos, porém, o país passa para o segundo lugar. "2% no Brasil significa muita gente, são 2,8 milhões de pessoas, por isso usamos o dado absoluto", explica Clarice.

Tratamento

Do total, 27% afirmaram usar mais de duas vezes por semana, 30% disseram ter vontade de parar e 10% chegaram a procurar algum tratamento. "Mas sabemos que a cobertura é pequena para essa minoria que chega. Imagine o tamanho do desafio que é ter uma rede preparada para atender a todos", alerta a psicóloga Ilana Pinsky, da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead).

Ela ressalta que países como os Estados Unidos, que conseguiram conter o avanço do crack, utilizaram diferentes mecanismos. "Não existe uma forma de adaptar. Ainda não sabemos exatamente o que funciona. Lá, endureceram a legislação, o que levou a um efeito colateral de lotar as cadeias. Notou-se também uma mudança de comportamento, uma substituição do crack por outras drogas menos devastadoras, como as metanfetaminas", explica Ilana. "Mas sabemos que é preciso investir na política de tratamento, com clínicas particulares e públicas."

"É dizermos que a cada dois, um se tornou dependente. Ou seja, uma roleta russa para quem experimenta"

Clarice Madruga, psicóloga, uma das autoras do estudo

14% Já injetaram a droga alguma vez na vida

Correio Braziliense