A Mannesmann Florestal (Mafla) quer produzir mais carvão vegetal com a mesma quantidade de lenha. Para efetivar essa estratégia, a subsidiária - voltada exclusivamente para o suprimento dos altos-fornos da siderúrgica mineira e segunda maior companhia do setor no País - vai investir até o final da década R$ 10 milhões. A empresa, em reestruturação, aposta na tecnologia inédita dos fornos retangulares, que deverão substituir todos os tradicionais modelos circulares. Por outro lado, um rendimento maior da área reflorestada será garantido por técnicas que permitem manejo mais eficiente. Até o final deste ano, a empresa planeja construir 78 fornos do tipo retangular. O protótipo inaugural está funcionando na fazenda Pindaíba, em Bocaiúva, no norte mineiro.
Entre as vantagens do novo modo de fazer carvão, destacadas pelo superintendente da Mafla, Marco Antônio Castello Branco, está a possibilidade de mecanização dos trabalhos de carga de lenha e descarga de carvão. Ele calcula que a adoção do forno retangular permitirá a empresa, que produz 300 mil toneladas de carvão por ano, obter 275 quilos por tonelada de lenha seca, ante 350 quilos do processo tradicional. Isso equivale a uma economia anual de 50 milhões de metros quadrados de lenha. A Mafla possui 127 mil hectares de florestas espalhadas pelas regiões centro, norte e noroeste de Minas.
O forno de alvenaria retangular produz até sete vezes mais que os circulares, dependendo do seu comprimento, que pode ser de 16 a 22 metros. O tempo gasto entre a carga de lenha e a retirada do carvão é de doze dias em média, dos quais a metade para o resfriamento. Nessas operações, um único empregado pode manipular 130 toneladas de lenha e carvão por semana. Por outro lado, o processo tem uma garantia de qualidade adicional por ser controlado por medidores térmicos, que, se tornam economicamente viáveis para substituir o método "subjetivo" centrado apenas na observação da cor da fumaça.
O novo forno para produção do energético foi desenvolvido por uma pesquisa pioneira da Mannesmann iniciado em 1989. Neste, a lenha chega à carvoaria por caminhões, sendo descarregada de ré na porta do forno e, em seguida, carregada manualmente para carbonização em seu interior. No sentido inverso, um trator de pá-carregadeira entra no forno e descarrega o carvão no pátio de estocagem. A produtividade desse sistema é favorecida pelo tamanho da lenha, superior ao do modelo circular, que está limitado entre 1,8 e 2,2 metros, o que favorece ganhos no corte, transporte e enfornamento.
Segundo Castelo Branco, pouco mais de 30% do ferro-gusa produzido no País é fabricado a carvão vegetal. "Com sua extensão territorial, o Brasil pode compatibilizar sua grande demanda pelo energético com o reflorestamento em solos pobres e onde predominam clima adverso à atividade agropastoril", diz. Ele ressalta ainda o papel da atividade florestal como forma de conter o êxodo rural e evitar os gastos com a importação do carvão mineral ou coque. Além disso, informa, as partículas da biomassa lançadas ao ar não contribuem para os fenômenos da chuva ácida e do efeito estufa, por não conterem enxofre e por terem o gás carbônico absorvido pelas próprias florestas envolvidas na sua produção, durante a fotossíntese.
A Mafla produziu ano passado 1,1 milhão de toneladas, com um faturamento médio mensal de US$ 2,5 milhões. O primeiro passo de seu plano de reestruturação foi a transferência, em dezembro último, de sua sede de Belo Horizonte para Curvelo, a 150 quilômetros da capital. Atualmente, a companhia, que terceirizou a maioria de seus serviços, possui 3,6 mil funcionários e produz 120 mil toneladas de carvão por mês.
BENEFÍCIOS DO CARVÃO VEGETAL
O mestre em energia da Universidade de São Paulo (USP), Estanislau Luczynski, acredita que o incentivo ao refloresta mento traz benefícios ao meio ambiente, baseado nos seus estudos sobre os combustíveis utilizados na produção de ferrogusa no País. Para ele, a biomassa possui muitas vantagens sobre o carvão mineral (coque), entre as quais um melhor coeficiente calorífero e o estímulo ao plantio de florestas em áreas devastadas.
Quanto maior a de manda por carvão vegetal, explica Luczynski, maior será o plantio de árvores para corte. "Enquanto crescem, estas florestas funcionam como receptoras naturais do gás carbônico (CO2) presente na atmosfera", informou o professor à Agência Brasil. Ele destaca ainda o papel da floresta como reguladora da temperatura e umidade da região em que está plantada.
Embora para as grandes siderúrgicas o uso do carvão mineral seja mais atraente do ponto de vista econômico, esse energético exclusivamente importado de países como a Polônia, Austrália e Colômbia só é mais caro que o carvão de floresta nativa. Utilizado em todo o País, o carvão vegetal ainda é 65% proveniente da queima de madeira nativa, devastando grandes áreas.
Segundo ele, esse é um dos principais fatores que garantem um preço competitivo do produto nacional no mercado externo, além da baixa remuneração do pessoal empregado no processo de carbonização. "Destruir a floresta nativa é bem mais fácil e barato do que esperar sete anos para que um eucalipto esteja pronto para ser derrubado", diz. O mestre acrescenta que o uso exclusivo de carvão vegetal de áreas reflorestadas ele varia o preço de produção da tonelada do aço dos atuais US$ 116 para cerca de US$ 125.
Notícia
Gazeta Mercantil