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Mãe de 1ª criança diagnosticada com Zika Congênita relembra surto de 2015: 'não são uma geração perdida'

Publicado em 11 novembro 2021

Por João Alfredo Motta*, g1 PB

Casos da síndrome congênita do zika vírus vêm diminuindo na Paraíba. Mesmo com o avanço nas pesquisas, ainda não se tem todas as respostas em relação à síndrome.

Há seis anos, no dia 11 de novembro de 2015, o Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública, por causa do aumento no número de casos de microcefalia no país. A doença em questão, causada pelo vírus da zika, hoje é chamada de síndrome congênita do zika vírus. Dois anos depois, os casos foram diminuindo, chegando a uma baixa de 92% em 2017, mas, em 2021, muitas famílias ainda convivem com as consequências do surto de seis anos atrás e conhecem pouco sobre a síndrome.

Catarina Maria Alcantara, hoje com 5 anos e 9 meses, foi a primeira criança diagnosticada no mundo com zika congênita. Atualmente, ela mora em Juazeirinho, na Paraíba, com a mãe, Maria da Conceição Alcantara, de 40 anos. Para além das limitações do diagnóstico, Maria explica que Catarina vem se desenvolvendo bem e faz tudo o que pode ser feito para uma criança da idade dela.

Sobre o diagnóstico de zika congênita da filha, Maria contou que, na época, também foi pega de surpresa, pois no sétimo mês de gestação, ela percebeu que estava com manchas vermelhas espalhadas pelo corpo inteiro, e que fez um exame de sangue para saber o que poderia ser. O resultado do teste informava que ela estava com o vírus da zika.

Dois meses antes do parto, ela fez uma consulta de rotina com a médica e pesquisadora Adriana Melo, em Campina Grande. Uma ultrassonografia identificou que a criança tinha danos neurológicos, mas ainda não era possível dizer quais.

Depois de alguns meses, foi possível, então, identificar a relação entre a infecção por zika da mãe com os danos neurológicos na filha, no período da gestação. Logo, algumas associações entre os dois fatores foram criadas. Muitas das descobertas em relação à doença foram possíveis através do diagnóstico da Catarina, pois a partir do estado clínico da criança foram sendo identificadas conexões entre o vírus da zika e os danos neurológicos.

“Fico feliz que pudemos contribuir um pouco com as descobertas e ajudar assim outras crianças com o mesmo diagnóstico. Catarina se tornou exemplo. Apesar dessa síndrome, essas crianças recebendo o estímulo correto e precoce, vão conseguindo se superar. As crianças dessa época não são uma geração perdida”, afirmou Maria da Conceição.

Mesmo com o avanço nas pesquisas, nos últimos seis anos, ainda não se tem todas as respostas em relação à síndrome. O medo do futuro se faz presente, mas é preciso seguir um dia de cada vez, como contou Conceição:

“Sempre fica o receio de como será o futuro, medo sempre temos. Mas tentamos viver um dia de cada vez, na certeza de um futuro cheio de bênçãos”, disse.

Apesar de ser a mãe da primeira criança diagnosticada com zika congênita no mundo, Maria sabe que existem vários outros casos de mães em situações parecidas com a dela, ou que precisaram enfrentar adversidades semelhantes. Ela se enxerga em uma batalha, mas ela acredita que foi escolhida para lutar por causa da sua força, coragem e determinação.

“Enfrentar os desafios, continuar firmes, e cumprir a missão. Afinal, as batalhas mais difíceis são dadas aos melhores soldados. Fé, força e coragem todos os dias para prosseguir”, finalizou.

“Enfrentar os desafios, continuar firmes, e cumprir a missão. Afinal, as batalhas mais difíceis são dadas aos melhores soldados. Fé, força e coragem todos os dias para prosseguir”, finalizou.

Novas pesquisa sobre o assunto em 2021

Uma pesquisa inédita mostra que a microcefalia durante uma gravidez provoca mais danos motores e cognitivos para a criança, ao longo prazo, do que infecções causadas por outros fatores, como por exemplo: substâncias químicas, agentes biológicos infecciosos, bactérias e vírus e até radiação.

A pesquisa, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), é do Laboratório de Estudos em Envelhecimento e Neurociências (Laben), do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e foi iniciada em 2019 e deve ser finalizada no ano de 2024 e conta com o envolvimento de cinco pólos em João Pessoa, Campina Grande, Patos, Sousa e São Paulo.

O objetivo principal da pesquisa é traçar o perfil dos mecanismos inflamatórios, genéticos, imunológicos de crianças expostas durante a gestação ao ZIKV. Ao todo, devem participar 550 crianças com microcefalia associada ou não associada à infecção por zika vírus, além de grupo de controle formado por crianças sem o ZIKV.

Dado preliminar da pesquisa aponta que a infecção viral é determinante para uma piora em longo prazo, demandando observação e acompanhamento clínico dessas crianças por mais tempo do que a primeira infância, mais especificamente da gestação aos seis anos de idade.

Camila Raquel, de 27 anos, é mãe de Maria Lys, que está perto de completar 6 anos e atualmente e mora em Mangabeira 8, em João Pessoa. Ela explica como, ao longo dos anos, observa o crescimento da filha.

Com o passar dos anos, Camila percebeu que Maria desenvolveu uma maior dificuldade para se locomover e as atividades diárias, também, ficaram mais trabalhosas. Ela contou que conforme Maria vai crescendo, sempre vai aparecendo algo novo.

“Já não posso sair sem cadeira de rodas. Não posso passar o dia fora [de casa] pois para dar o banho é bem difícil’, contou.

Porém, desanimar não é uma opção para Camila, pois ela sabe que por mais que pareça difícil, tudo é curado com o amor que ela recebe da filha e com o sorriso que vem junto.

“Sei que às vezes é difícil e não temos tanto apoio. Por vezes, achamos que estamos só. Olho pra minha filha, ela recarrega minhas energias. Ela só transmite amor”, finalizou.

“Sei que às vezes é difícil e não temos tanto apoio. Por vezes, achamos que estamos só. Olho pra minha filha, ela recarrega minhas energias. Ela só transmite amor”, finalizou.

Casos de arboviroses em 2021 na Paraíba

Em 2021, foram notificados 5 casos de gestantes confirmadas por vírus zika, por critério laboratorial, uma no município de Cabedelo e quatro em Itapororoca. Até a 17ª Semana Epidemiológica, este ano, foram testadas pelo Lacen-PB, 565 pessoas. Sendo 224 reagentes, 277 não reagentes e 64 indeterminadas.

De acordo com a técnica da Secretaria Estado da Saúde (SES) responsável pelas arboviroses, Carla Jaciara, existe um número preocupante de casos confirmados do vírus da zika. São 24 casos confirmados até o mês de outubro deste ano.

“Uma notícia até tranquila é que não temos casos de microcefalia, porém são casos que precisam ser avaliados e acompanhados pela equipe de saúde”, alerta.

“Uma notícia até tranquila é que não temos casos de microcefalia, porém são casos que precisam ser avaliados e acompanhados pela equipe de saúde”, alerta.

Ainda de acordo com a SES, apesar do cenário atual do Covid-19, as atividades de Controle das arboviroses continuam ativas e campanhas para sensibilizar a população quanto ao autocuidado para eliminação de criadouros do mosquito aedes aegypti, contribuindo assim, para o controle das arboviroses dengue, zika e chikungunya estão sendo realizadas.

Emergência em Saúde Pública em novembro de 2015

Na época, o Ministério da Saúde foi acionado pela Secretaria de Estado da Saúde de Pernambuco, que observou o aumento drástico no número de casos. Segundo o ministro, a média de casos para o estado era de 10 por ano, o que representa um aumento incomum. Além da situação de Pernambuco, os casos aumentaram, também, na Paraíba e no Rio Grande do Norte

Segundo o ministério, o estado de emergência em saúde pública garantia que os serviços de saúde tratariam a questão da microcefalia com prioridade. O vírus já tinha sido confirmado em 14 estados brasileiros, segundo informação divulgada pelo Ministério da Saúde, em 2015.

Entenda o que é a microcefalia

Microcefalia é uma condição médica que se caracteriza por um crânio menor do que o tamanho médio, geralmente por causa de uma falha no desenvolvimento do cérebro. O problema pode estar associado a síndromes genéticas ou a outros fatores como abuso de álcool e drogas durante a gravidez ou a infecção da gestante por rubéola, catapora, citomegalovirus e o vírus da zika.

*Sob supervisão de Krys Carneiro

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