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Jornal de Piracicaba

Mackenzie investe R$ 20 milhões em centro de estudo de grafeno (1 notícias)

Publicado em 30 de outubro de 2013

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está desembolsando R$ 20 milhões, em uma prova de que instituições de ensino superior privadas podem e devem fazer pesquisa. Pesquisa com ‘p’ maiúsculo: o maior investimento com recursos próprios do país, na fronteira dos novos materiais.

Os R$ 20 milhões vão para construir o prédio e contratar cientistas para o MackGraphe (Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologia), pioneiro desse campo no Brasil.

A obra do edifício de seis andares e 4.230m de área útil já começou no campus da rua Consolação, em São Paulo. Como não havia mais espaço no quarteirão superlotado, um prédio foi demolido para dar lugar ao novo.

No centro de tudo está o material produzido pela primeira vez em 2004, que deu em 2010 o Prêmio Nobel de Física a Andre Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester.

É uma folha cristalina de átomos de carbono organizados em forma hexagonal, com apenas um átomo de espessura. Empilhadas em inúmeras camadas, compõem o grafite que recheia os lápis.

Esfoliada do grafite – o que pode ser feito até com fita adesiva–, a película transparente e flexível é também o material mais resistente que se conhece.

O grafeno tem propriedades ópticas e elétricas bem exóticas. Elas incendeiam a imaginação de físicos e engenheiros, a ponto de eles falarem numa revolução tecnológica. Cabos de fibra óptica para transmitir dados com velocidade até cem vezes maior que a atual estão entre as aplicações com que eles sonham para o grafeno.

CINGAPURA-SÃO PAULO – A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) também aposta no MackGraphe. Mais precisamente, R$ 9,8 milhões, para custear equipamentos, materiais e bolsas de estudo – e criar condições para repatriar, por três meses ao ano, o brasileiro Antonio Helio de Castro Neto.

Castro é o diretor do Centro de Pesquisa de Grafeno na Universidade Nacional de Cingapura. Em matéria de estudos sobre o tema, seu instituto – com 232 dos mais de 10 mil artigos publicados até maio de 2011 – só perde para a Academia de Ciências da China (440 trabalhos). O brasileiro foi decisivo para o MackGraphe brotar do chão com rapidez.

Foi após uma visita a Cingapura organizada pelo físico Eunézio Antônio de Souza, o Thoroh, que o reitor do Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto, decidiu turbinar a pesquisa com o novo material e criar o centro para integrar trabalhos de químicos, engenheiros de materiais e especialistas em dispositivos optoeletrônicos de telecomunicações.

“Ficamos impressionados com a visibilidade que (o grafeno) daria para o Mackenzie”, diz o reitor.

A viagem a Cingapura ocorreu em janeiro de 2012. Em dezembro, o prédio que deu lugar para o MackGraphe estava demolido. O centro será aberto até julho de 2014.

"Além da excelência científica, (Castro Neto) já mobilizou várias de suas conexões internacionais para apoiarem as atividades no MackGraphe”, afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.

Antonio Helio de Castro Neto elogia, desde Cingapura, a ‘atitude visionária’ do reitor Aguiar Neto. “Esperamos que seja um primeiro passo para o Brasil ficar competitivo numa área de pesquisa de ponta.”

(Folhapress)

Transmissão de dados será alvo de pesquisa em São Paulo

Os centros de pesquisa em grafeno em Cingapura e São Paulo têm vocações complementares. O da Ásia estuda aplicações do material na eletrônica e nanoeletrônica – chips e componentes para miniaturizar e tornar mais rápidos computadores e tablets.

Já o MackGraphe nasce com os pés na fotônica, especialidade do físico Eunézio Antônio de Souza, o Thoroh, coordenador do centro. Esse campo de pesquisa busca desenvolver processadores que usem fótons (partículas de luz) em vez dos elétrons que materializam bits de informação nos semicondutores.

Nas comunicações, os fótons já predominam. São eles – na forma de pulsos de luz – os portadores da informação nos cabos de fibra óptica, mas essa tecnologia esbarra nas limitações dos dispositivos semicondutores convencionais integrados ao sistema. Está cada vez mais difícil transmitir mais informação, em menos tempo, com eles.

O grafeno pode substituir os semicondutores convencionais. Sua malha de hexágonos com átomos de carbono nos vértices permite o avanço de elétrons com agilidade comparável à das partículas de luz.

O material é transparente, mas absorve luz. Quando se aplica voltagem nele, a transparência pode ser controlada para que transmita mais ou menos luz numa certa faixa de frequência (“cor”).

O grupo de Thoroh quer explorar essas propriedades para multiplicar até cem vezes a taxa de transmissão de informações nas fibras ópticas.

Na visão dele, o centro encadeará quatro elos: químicos trabalharão em processos para fabricar grafeno; engenheiros de materiais estudarão como transferir filmes de grafeno para substratos adequados a diferentes aplicações; físicos e engenheiros eletricistas criarão dispositivos fotônicos e optoeletrônicos e o setor de inovação criará startups para levar protótipos ao mercado.

(Folhapress)