A luva consegue detectar a presença de quatro classes de pesticidas a partir de sensores impressos em seus dedos
A necessidade de maximizar a produtividade agrícola em resposta ao crescimento populacional tem levado ao aumento do uso de agrotóxicos que também podem contaminar a água, alimentos e animais, incluindo humanos. Há, portanto, uma demanda urgente por métodos acessíveis para monitorar a contaminação por pesticidas, o que é feito hoje principalmente com técnicas caras e demoradas.
Pensando nisso, cientistas do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), ambos da Universidade de São Paulo (USP), criaram um dispositivo sensor embutido em uma luva de borracha sintética capaz de detectar resíduos de pesticidas em alimentos. O trabalho resultou no artigo “ Selective and sensitive multiplexed detection of pesticides in food samples using wearable, flexible glove-embedded non-enzymatic sensors ” que foi publicado no periódico Chemical Engineering Journal.
O dispositivo tem três eletrodos, localizados nos dedos indicador, médio e anelar, que permitem a detecção das substâncias carbendazim (fungicida da classe dos carbamatos), diuron (herbicida da classe das fenilamidas), paraquate (herbicida incluído no rol dos compostos de bipiridínio) e fenitrotiona (inseticida do grupo dos organofosforados). No Brasil, carbendazim, diuron e fenitrotiona são empregados em cultivos de cereais (trigo, arroz, milho, soja e feijão), frutas cítricas, café, algodão, cacau, banana, abacaxi, maçã e cana-de-açúcar. Já o uso de paraquate foi banido no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na luva criada pelo grupo, cada dedo é responsável pela detecção eletroquímica de uma classe de pesticida. A análise pode ser feita diretamente em líquidos, apenas mergulhando a ponta do dedo contendo o sensor na amostra, e também em frutas, verduras e legumes, bastando tocar na superfície da amostra.
Segundo o pesquisador, o custo do dispositivo é basicamente o custo da luva, sem o sensor. “Os sensores custam menos de US$ 0,1″. Outro destaque do dispositivo está na possibilidade de detecção direta, sem exigir preparo de amostra, o que torna o processo rápido. Além disso, o método preserva o alimento, permitindo o consumo após a análise.
Confira o trabalho completo aqui.