Presidente anuncia antecipação da campanha de combate à doença; Ministério da Saúde aguarda aprovação de vacinas pela Anvisa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que, se tudo ocorrer conforme o planejado pelo governo, o Brasil pode ter o verão com menos casos de dengue de sua história. A declaração foi feita durante uma coletiva no Palácio do Planalto, ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, em que o governo anunciou uma série de ações para o combate à doença nos próximos meses.
“Se Deus ajudar, a gente quer ter o verão com menos dengue na história desse país”, disse Lula. O presidente ressaltou que a dengue é uma doença que atinge o Brasil de forma recorrente, especialmente durante o verão, e que, diante do aquecimento global e das mudanças climáticas, o governo decidiu antecipar a campanha de combate à doença neste ano.
“Todo verão, somos vitimados pelo crescimento da dengue e de outras doenças. Dessa vez, com o planeta ficando mais aquecido, resolvemos antecipar o lançamento da nossa campanha para que tenhamos tempo de preparar não só o Ministério da Saúde, mas toda a sociedade brasileira”, explicou.
Combate ao mosquito em todos os lares Lula enfatizou a importância da colaboração da população no combate à dengue, lembrando que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, se prolifera em ambientes com água parada, que podem ser encontrados em qualquer tipo de residência, independentemente da classe social. Ele destacou que todos os cidadãos devem estar atentos e agir preventivamente.
“Cada um deve ser seu próprio médico”, disse Lula, reforçando a necessidade de cuidar de quintais, caixas d’água e qualquer espaço que possa acumular água. “A gente não quer que ninguém brigue com o vizinho, mas que alerte o sistema de saúde se perceber que alguém não está cuidando”, sugeriu.
Lula destacou que, para que a campanha seja bem-sucedida, é fundamental o engajamento diário dos agentes comunitários de saúde, que deverão visitar as ruas e conscientizar a população. “Se for preciso, usar megafone para chamar a atenção das pessoas, porque a gente tem que provar para nós mesmos que podemos vencer a dengue”, enfatizou.
O presidente sublinhou que o foco das ações de combate à dengue será em medidas de curto e médio prazo, que possam trazer resultados ainda durante seu mandato. Ele disse isso ao mencionar que existem pesquisas para desenvolver um mosquito estéril, que reduza a população dos vetores, no longo prazo. Seu objetivo, disse Lula, é garantir que o país tenha uma estrutura sólida e eficaz para combater a dengue e evitar que as estatísticas de mortes e contaminações aumentem como nos anos anteriores.
Investimento de R$ 1,5 bilhão e vacina O Ministério da Saúde, com a coordenação de Rivaldo Venâncio, especialista em dengue há 40 anos, apresentou um plano robusto com seis eixos principais, que envolvem prevenção, vigilância, controle do vetor, organização da rede assistencial, resposta a emergências e comunicação. Nísia destacou que em 2024 já foram notificados 6 milhões de casos prováveis de dengue, um aumento alarmante de três vezes em relação a 2023.
Durante a coletiva, a ministra Nísia Trindade anunciou que o governo federal vai destinar R$ 1,5 bilhão para as ações de combate à dengue nos próximos meses. Entre as iniciativas, estão programas de conscientização, ações de fiscalização e a compra de vacinas.
No eixo de vigilância, Nísia ressaltou que o governo federal está reforçando a vigilância ativa dos vírus e sorotipos circulantes, além de investir em novas tecnologias para o controle vetorial. “Estamos ampliando o uso das estações disseminadoras de larvicidas e o método Wolbachia, que reduz a capacidade dos mosquitos de transmitir o vírus”, afirmou a ministra, destacando a criação de uma biofábrica de Aedes aegypti no Ceará.
O Brasil já incorporou a vacina Takeda no sistema público de saúde e espera que o Instituto Butantan entregue, no próximo ano, 1 milhão de doses de uma nova vacina em dose única. “Precisamos de vacinas e estamos investindo fortemente no Complexo Econômico Industrial da Saúde para aumentar a produção”, garantiu Nísia.
A ministra também destacou que o governo aguarda a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o uso da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. Segundo Nísia, se aprovado, o governo espera disponibilizar um milhão de doses dessa vacina de dose única no próximo ano. “Temos uma estimativa para o ano que vem, tudo dando certo, de um milhão de doses do Instituto Butantan, que será de dose única”, afirmou.
Além disso, o governo está negociando a compra de vacinas da farmacêutica japonesa Takeda, com previsão de 9 milhões de doses a serem distribuídas entre os estados. A ministra informou que a pactuação para distribuição deverá ser concluída nos próximos 15 dias.
Recorde de mortes e preocupação nacional O anúncio de medidas preventivas ocorre meses após o Brasil ter registrado um recorde de mortes por dengue no último ciclo da doença. Segundo dados do Ministério da Saúde, 2023 foi um dos anos mais letais desde que a dengue começou a ser monitorada no país, o que aumentou a pressão sobre o governo para adotar medidas emergenciais antes da chegada do próximo verão.
Com o aumento das temperaturas e a previsão de chuvas intensas em várias regiões, especialistas alertam para o risco de um novo surto de dengue, zika e chikungunya, doenças transmitidas pelo mesmo vetor. As ações anunciadas pelo governo federal, portanto, serão cruciais para mitigar os efeitos da doença e reduzir o número de óbitos.
O discurso de Lula, focado na mobilização da população e nas medidas rápidas do governo, reflete a urgência em se combater a dengue de maneira eficaz e abrangente.
Cezar Xavier