Em sua primeira visita oficial ao Brasil, o presidente da França, Emmanuel Macron, chega nesta terça-feira (26) a Belém, onde será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos têm uma agenda bilateral extensa planejada para os próximos dias, abrangendo temas como meio ambiente, defesa e reforma dos organismos multilaterais.
Macron permanecerá no Brasil até quinta-feira (28) e fará visitas às cidades de Itaguaí (RJ), São Paulo e Brasília. “Uma visita de três dias para um chefe de Estado não é comum. Isso reflete a importância da relação entre Brasil e França, bem como o profundo interesse mútuo em diversas áreas”, afirmou a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, em uma conversa com jornalistas na semana passada.
Em Belém, os dois presidentes se encontrarão por volta das 15h30 desta terça-feira e seguirão, a bordo de um barco da Marinha, para a Ilha do Combu, na margem sul do Rio Guamá. Lá, eles terão a oportunidade de observar a produção artesanal e sustentável de cacau em uma região de floresta. A intenção, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, é que o presidente Lula demonstre ao presidente Macron a complexidade da questão amazônica e as alternativas de desenvolvimento econômico sustentável disponíveis. Além disso, o presidente brasileiro deseja ilustrar ao líder francês que a Amazônia não é apenas uma vasta área de floresta, mas também um lugar que abriga uma população imensa, com cerca de 25 milhões de habitantes, que depende diretamente da floresta para sua subsistência. Durante a visita, está previsto um encontro reservado com representantes indígenas, onde o presidente francês deverá conceder uma condecoração ao líder indígena da etnia Kayapó e expoente mundial da causa indígena, Raoni Metuktire.
De Belém, ainda hoje, o presidente brasileiro e Macron seguirão para o Rio de Janeiro, onde passarão a noite. Na quarta-feira (27), partirão de helicóptero do Forte de Copacabana para o município de Itaguaí (RJ), onde inaugurarão o terceiro submarino construído no Complexo Naval da Marinha, como parte do Programa de Submarinos, resultado de um acordo de cooperação entre os governos do Brasil e da França. O programa prevê a construção de cinco submarinos no total, sendo o último, um equipamento de propulsão nuclear, previsto para ser entregue em alguns anos. Além de discutirem a continuidade da parceria, o presidente brasileiro e Macron também deverão abordar um programa para a produção de helicópteros militares e energia nuclear de uso civil.
Após a agenda no Rio, o presidente Lula retornará a Brasília, enquanto Macron viajará para São Paulo, onde dará sequência à sua visita ao Brasil. Na capital paulista, o presidente francês participará do Fórum Econômico Brasil-França, ainda na quarta-feira (27), na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Cerca de 50 empresários franceses estarão presentes. Os dois países registraram um fluxo comercial de US$ 8,4 bilhões em 2023, com US$ 2,9 bilhões em exportações e US$ 5,5 bilhões em importações.
Em relação às exportações brasileiras para a França, predominam produtos como farelo de soja, óleos brutos e petróleo, celulose e minério de ferro. Do lado francês, os principais produtos importados pelo Brasil são motores e máquinas, aeronaves e produtos da indústria de transformação.
Segundo dados do Banco Central, a França é o terceiro maior investidor no Brasil, com mais de US$ 38 bilhões. Além disso, há cerca de 860 empresas francesas atuando no Brasil, com geração de 500 mil empregos. O encontro empresarial contará com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Após o encontro empresarial, Macron deverá participar de um jantar com artistas e personalidades da cultura brasileira, incluindo o cantor e compositor Chico Buarque. Há a possibilidade de o presidente francês fazer um passeio a pé pela Avenida Paulista e visitar o Museu de Arte de São Paulo (Masp). A agenda também inclui um encontro com integrantes da comunidade francesa no Brasil e a inauguração de uma unidade do laboratório Pasteur na Universidade de São Paulo (USP). Macron passará a noite de quarta-feira na capital paulista e, no dia seguinte, embarcará para a última etapa da viagem, que é a visita de Estado a Brasília.
Na capital federal, Macron será recebido com honras de chefe de Estado e se reunirá com Lula no Palácio do Planalto. O encontro terá foco em temas bilaterais e globais, além de aspectos culturais, já que 2025 marca os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Assuntos como a reforma das instituições multilaterais, incluindo o assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além das guerras na Ucrânia e em Gaza, deverão ser abordados por ambos. A situação política na Venezuela e a crise humanitária no Haiti são outros temas que deverão ser tratados.
Está prevista a assinatura de cerca de 30 atos por Lula e Macron, em diversas áreas. Após esta etapa da reunião, os dois presidentes farão uma declaração à imprensa. Em seguida, participarão de um almoço no Itamaraty. Emmanuel Macron ainda deverá ser recebido no Congresso Nacional pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Um tema delicado entre Brasil e França, que deverá ser evitado durante a visita de Macron, é o das negociações em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Isso ocorre devido à declaração do presidente