Se ainda não está claro o quanto o PT e o PSDB são parecidos em ideologia, pelo menos na política científica as duas legendas já quase não se distinguem. A pedido da Folha, quatro especialistas em gestão na área de ciência e tecnologia leram os programas de governo dos candidatos a presidente Lula e Alckmin. Para eles, as propostas de ambos para o setor não diferem no bojo.
Os dois programas mantêm foco na inovação, a pesquisa para criação e aprimoramento de bens tecnológicos. Como o Brasil tem boa posição no ranking mundial de produção de artigos científicos (é o 17º) mas não no de patentes (27º), é consenso que possui um potencial inexplorado de inovação.
"Essa preocupação dos dois candidatos mostra que houve uma mudança cultural no país nos últimos dez anos", diz José Fernando Perez, ex-diretor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Agora há algo mais próximo de uma política de Estado, com visão de longo prazo, em oposição à política de governo." Para ele, a disputa se dá na prática de gestão e liberação de recursos.
Os cientistas ouvidos pela Folha, porém, foram unânimes em dizer que para atingir as metas propostas o país precisa de todos os recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), que hoje está com 60% da verba retida para engrossar o superávit primário.
"Se começarmos a enxergar que esse tipo de recurso é investimento --porque conhecimento é investimento-- vamos ver que ele vai trabalhar a favor do superávit", diz Jorge Bounassar Filho, presidente do Fórum das Fundações de Amparo à Pesquisa. Ambos os candidatos prometem seguir um cronograma para liberar a verba aos poucos até 2010.
Em seu programa, Lula também prevê maior papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no fomento à ciência. "A inserção do BNDES é fundamental para a ciência não ser uma figura de retórica no governo", diz Ennio Candotti, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Com relação ao foco em inovação, Candotti o considera bom, mas diz que o país tem de se preparar para o risco de uma mecanização maior afetar o nível de emprego.
Para Hugo Resende, presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras), a liberação de verbas não resolve tudo sozinha. É preciso criar incentivos para que a cultura científica cresça nas empresas --e já existem meios para isso. "O principal é a subvenção econômica, que facilita a contratação de equipes de desenvolvimento (...) para permitir criar produtos que atendam às necessidades de mercado", afirma.
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