A declaração sobre a produção da vacina foi feita ao lado da ex-ministra da Saúde, aplaudida de pé pelos presentes, enquanto o presidente ainda avaliava mudanças em sua equipe ministerial
Na tarde desta terça-feira (25), durante uma cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Lula anunciou um investimento de R$1,26 bilhão, financiado pelo BNDES, para a produção de uma vacina 100% nacional de dose única contra a dengue. A expectativa é que o imunizante comece a ser disponibilizado em 2026.
O projeto resulta de uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa WuXi Biologics, com previsão de produção de mais de 60 milhões de doses anuais. O público-alvo inclui pessoas de 2 a 59 anos, conforme os critérios do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Durante o evento, a então ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou que o desenvolvimento acelerado da vacina é um reflexo da experiência adquirida durante a pandemia e é um marco da capacidade da comunidade científica brasileira.
Ampliar a cobertura vacinal no Brasil tem sido uma das bandeiras defendidas pelo presidente Lula, que, em 2023, lançou o Movimento Nacional pela Vacinação. A iniciativa busca fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e recuperar a confiança da população nos imunizantes.
No entanto, poucas horas após o anúncio, o governo confirmou a demissão de Nísia Trindade, substituindo-a por Alexandre Padilha, que assumirá o cargo no dia 6 de março. A justificativa oficial foi a insatisfação com sua gestão e sua falta de alinhamento com o “perfil mais político” desejado pelo governo.
A fala oficial chegou no ápice do desgaste de Nísia perante os apoiadores do presidente devido a sua resistência em compartilhar o comando do ministério, não cedendo às pressões internas que objetivavam estabelecer controle sobre a saúde pública nacional.
Ao buscar novos políticos, o presidente cede às indicações do centrão, numa tentativa de adquirir mais apoio dos demais partidos, e dá mais um passo na cobrança para que os ministros defendam as pautas do governo.
A saída da ministra ocorre em meio a pressões políticas. Em fevereiro de 2024, Nísia foi alvo de cobranças por parte do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para liberar emendas parlamentares que favoreciam deputados e senadores.
Com a demissão, Nísia se torna a oitava substituição ministerial no governo Lula e a terceira troca envolvendo uma mulher. A escolha contraria as promessas de campanha do presidente de ampliar a representatividade feminina no governo, que agora conta com apenas nove ministras.
Atual ministro das Relações Institucionais, Padilha já havia ocupado o cargo de ministro da Saúde durante o primeiro governo de Dilma Rousseff (2011-2014) (Divulgação)
A nomeação de Nísia Trindade, logo após a vitória de Lula nas eleições, havia sido vista como um gesto de valorização da ciência, em contraposição ao negacionismo da gestão anterior de Jair Bolsonaro.
Reagindo à decisão, aliados criticam saída de Nísia Trindade. Durante a sessão do plenário, ainda na terça-feira, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) aponta que o cargo de ministro da Saúde é cobiçado pelo Centrão, principalmente devido ao orçamento atualizado detido — R$200 bilhões.
O regime presidencialista dá ao presidente da República a atribuição de escolher seus ministros e demiti-los. Mas, não me impede de dizer que lamento e acho errada a demissão da ministra Nísia
Chico Alencar (Psol-RJ)
A troca também representa uma busca por maior visibilidade na pasta diante do aumento das pressões ao presidente devido à queda acentuada da popularidade, que já alcançou 60% de rejeição nos três maiores colégios eleitorais do país,