Os cientistas mostraram que a atividade física aumentou a variabilidade da frequência cardíaca nos pacientes com hipertensão que tomavam a losartana.
“Quanto mais variável for o sistema, mais adaptado ele está às mudanças. Isso mostra uma capacidade de adaptação mais efetiva”, explicou Hugo Celso Dutra de Souza, autor sênior da pesquisa e professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, ao g1.
Isso é importante porque a hipertensão não está relacionada apenas à pressão alta dentro dos vasos, e sim a uma série de problemas no sistema cardiovascular – um deles é, justamente, essa variabilidade da frequência cardíaca.
A losartana é eficaz em reduzir essa pressão, mas, mesmo com uso dela, a variabilidade da frequência continua baixa. No estudo, quando as pessoas que eram hipertensas e tomavam a losartana passaram a fazer exercício físico, a variabilidade aumentou.
“Além de reduzir ainda mais a pressão, a regulação da frequência fica melhor [com o exercício físico] –fica mais próximo da normalidade. Não resolve, mas afasta as comorbidades que possam a vir acompanhar. A hipertensão é uma das principais causas de insuficiência cardíaca – que é uma das principais causas de morte precoce”, explica o pesquisador.
A pesquisa, publicada na “Clinical and Experimental Hypertension”, reuniu 32 voluntários, todos do sexo masculino e com idades entre 40 e 60 anos. Metade deles não tinha hipertensão e não tomava nenhum remédio, e a outra metade era hipertensa e tomava a losartana.
Ambos os grupos fizeram caminhadas de 45 minutos três vezes por semana, por 16 semanas (cerca de 4 meses).
A losartana sozinha foi capaz de reduzir a pressão arterial – levando-a para níveis normais –, mas, sem o exercício físico, o controle autônomo cardíaco – entre outros pontos, a variabilidade da frequência – continuou debilitado.
“A variabilidade da frequência cardíaca não se restabelece adequadamente só com a droga. Reduzir a pressão é necessário e imprescindível, mas só o remédio não é suficiente. O exercício complementa o efeito”, reforçou Hugo Celso de Souza à Agência FAPESP.
Os cientistas também estão trabalhando em um artigo que compara a losartana com o maleato de enalapril para apresentar as diferenças, segundo a agência.
“O exercício físico é importante, e tem sido visto como uma espécie de pílula mágica. Porém, precisamos entender o que ele realmente faz no organismo para até quem sabe no futuro tentar simular farmacologicamente seus efeitos”, lembrou Souza.
Em mulheres
Um estudo separado, com mulheres, também está sendo feito – porque os hormônios ovarianos interferem no funcionamento cardiovascular.
“Em ratas, a gente retirava os ovários e automaticamente aumentava, em semanas, a quantidade de fibrose no coração. Não só esses hormônios ovarianos regulam a estrutura do coração [como] participam, também, da regulação da hemodinâmica como um todo; têm uma influência fundamental”, explicou o pesquisador ao g1.
“Isso faz sentido, porque as mulheres em idade reprodutiva são “protegidas” pelos hormônios ovarianos – tanto é que, antes da menopausa, existem mais homens com doença cardiovascular do que mulheres. Após a menopausa, as mulheres [não só] empatam como também ultrapassam o número de pessoas com doenças cardíacas – por causa dos hormônios”, apontou.