SÃO PAULO, São Paulo - Escrever um artigo, o chamado paper, é uma etapa importante do processo de produção da ciência. Desse ponto de vista, a lógica e a metodologia são tão imprescindíveis para a redação científica como para a própria pesquisa. Essa é a ideia que sustenta as propostas do livro Método lógico para redação científica, de Gilson Volpato, lançado no fim de janeiro.
Convicto de que a redação científica deve se pautar pela lógica da pesquisa e não por costumes acadêmicos, Volpato, que é professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), sistematizou na publicação o conhecimento acumulado ao longo de mais de 25 anos de dedicação ao tema.
``A proposta de um método lógico pressupõe que exista um `método ilógico`. Isso pode parecer inusitado, mas foi o que constatei a partir da experiência com a pesquisa e o ensino da redação científica. Todas as decisões do autor de um artigo devem ser produto da lógica científica e não de pequenas regras extraídas dos costumes, que reproduzem e perpetuam equívocos conceituais``, disse à Agência FAPESP.
Volpato, que há anos apresenta cursos sobre redação científica em todo o país, publicou sete livros sobre o assunto, incluindo Bases teóricas da redação científica ... por que seu artigo foi negado, Pérolas da redação científica (2010) e Dicas para redação científica (2010).
``Ao escrever sobre o assunto, ao longo do tempo percebi que havia chegado a um método lógico para a redação científica e decidi sistematizar essas ideias de forma que elas se tornassem uma espécie de manual prático para a redação científica. O livro é um resultado dessa visão de conjunto sobre minha trajetória``, contou.
O livro é voltado para interessados de todos os patamares da produção de artigos, desde iniciação científica até a pesquisa internacional de alto nível. ``A proposta se aplica a todo tipo de ciência empírica, isto é, aquela cuja conclusão exige evidências. Portanto, não se aplica tanto à filosofia, mas serve para praticamente todas as áreas``, disse.
A própria forma de apresentação segue uma organização lógica coerente com os objetivos. O livro tem 147 pranchas nas páginas da direita, que são brevemente explicadas nas páginas da esquerda. ``Ao seguir essa sequência, o leitor aprende a base da ciência e como revertê-la em um artigo científico internacional``, disse.
``Procurei mostrar como usar a lógica não apenas na concepção e execução da pesquisa, mas também na produção do artigo, desde o título e a introdução, até o uso de gráficos e conclusões. A proposta é que o autor busque a lógica científica quando tiver uma dúvida de redação. A lógica da ciência vem em primeiro lugar e, em seguida, vêm os atributos de comunicação do artigo``, disse.
O livro apresenta também algumas novidades teóricas, como a definição de revista científica internacional e uma classificação dos periódicos com base no método lógico.
``Não basta que uma revista seja publicada em língua inglesa para que se caracterize como revista internacional. Ela precisa ter necessariamente dois atributos: deve publicar artigos de pesquisadores de várias nacionalidades e ser citada em vários países``, explicou.
As revistas científicas, segundo o método de Volpato, dividem-se em quatro níveis. O primeiro corresponde às revistas de baixo impacto, que são conhecidas apenas dentro dos institutos onde são publicadas. O segundo nível abrange as revistas que têm mais impacto, mas não se encaixam na definição de revistas internacionais, limitando-se à sua região.
``Os outros são os das revistas internacionais. O terceiro corresponde às revistas que são conhecidas em sua área. Uma revista sobre biologia dos peixes, por exemplo, que pode ter excelente nível e ser muito conhecida, mas apenas entre os que trabalham com peixes. O quarto nível é o das revistas que extrapolam especialidades, seja por abarcar todas elas ou por ter um impacto tão alto que extrapola sua área``, disse.
As revistas do quarto nível, segundo Volpato, se caracterizam por ter preocupação não apenas com a qualidade científica do artigo, mas também com a qualidade da comunicação.
``As revistas do terceiro nível se preocupam com a robustez científica do conteúdo, mas são ingênuas do ponto de vista da comunicação. Atraem os especialistas, mas têm um texto bastante feio e desagradável. No entanto, essas revistas estão começando a importar conceitos de comunicação do nível mais alto. Os cientistas devem ficar atentos a essa transformação``, afirmou.
Livro: Método lógico para redação científica
Autor: Gilson Luiz Volpato
Lançamento: 2011
Preço: R$ 60
Páginas: 320
Mais informações: www.bestwriting.com.br
Fonte: Agência FAPESP - Fábio de Castro