Fazer com que o conhecimento gerado na academia e instituições públicas de pesquisa chegue à indústria sempre foi um dos grandes desafios da ciência e tecnologia brasileira. Considerando sua missão e em sintonia com os planos estratégicos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), há mais de cinco anos o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/MCT), de Campinas (SP), vem se aproximando da indústria, buscando parcerias que culminem no fortalecimento das instituições nacionais.
Em outubro o LNLS deu mais um passo para a superação desse desafio. No dia 21 o Laboratório assinou o primeiro contrato de transferência de tecnologia com o objetivo final de elaborar um produto apto à comercialização e inédito no mercado nacional. O contrato firmado com a Adest, uma empresa campineira criada em função desta parceria, consiste na nacionalização da tecnologia de soldagem de Tela Premium.
A dificuldade maior na relação academia-indústria, mais do que gerar patentes, é realizar ações que realmente tenham impacto direto no setor produtivo, analisa Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS. Gerar patente é um passo importante, mas se não houver uma estratégia que a transforme em riquezas para o País, o esforço pode ser em vão. Acredito que o contrato entre o LNLS e a Adest é interessante principalmente porque é um caso concreto no qual o desenvolvimento de uma tecnologia consegue motivar a abertura de empresas, gerar empregos e trazer boas perspectivas de negócios para o Brasil, acrescenta.
Parceria
O projeto que deu origem ao acordo de transferência de tecnologia assinado recebeu R$ 800 mil de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT) em 2007 via Fundo Setorial do Petróleo (CT-Petro). Outros R$ 200 mil foram investidos pela Adest e houve ainda um financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao Laboratório coube a alocação de profissionais especializados e infraestrutura.
Caso a Tela Premium brasileira seja aprovada nos testes finais e seja efetivada a comercialização, o LNLS receberá nos próximos cinco anos um percentual financeiro sobre as vendas (royalties), valor que será aplicado em pesquisa e desenvolvimento.
Tela Premium
A Tela Premium é um equipamento utilizado pela indústria petrolífera para extrair petróleo do fundo do mar. Ela contém um material filtrante que possibilita a obtenção de um óleo livre de terreno arenoso. Entretanto, este composto é produzido por apenas três empresas em todo o mundo, nenhuma brasileira. O que o LNLS fez foi nacionalizar a técnica, possibilitando que empresas brasileiras, como a Petrobras, possam optar por fornecedores locais. Isto, entretanto, não impede que o produto desenvolvido também seja exportado.
A grande dificuldade para produzir a Tela Premium reside no sofisticado processo de soldagem envolvido na fabricação. Desenvolvemos um material por um processo chamado de Soldagem por Difusão, em meio a vácuo, em que átomos de um material migram para outro e vice-versa, num trabalho feito em altas temperaturas, explica Osmar Bagnato, coordenador do Grupo de Materiais do LNLS. Esta tecnologia de soldagem (protegida por um acordo de confidencialidade entre a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) e a Adest) une telas metálicas que formam o filtro da Tela Premium.
Testes de corrosão, resistência mecânica e análise microestrutural foram feitos no LNLS para qualificar amostras e protótipos. Todos foram positivos. Para que o material possa ser comercializado novos testes serão realizados, primeiro em poços terrestres e depois em alto mar.