Roupas, alimentos, fitas cassetes, vídeos, preservativos, pilhas, panfletos, moedas e até alimentos que não sofreram decomposição. Estes foram apenas alguns dos materiais encontrados pelo engenheiro químico mogiano André Wagner Ollani, durante os trabalhos de escavação do desativado lixão da Volta Fria. Ollani, que está preparando uma tese de doutorado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP). tem como objetivo retratar os hábitos da população de Mogi das Cruzes. Nos últimos 20 anos. os habitantes da Cidade deixaram no lixão os resíduos que consumiram. Apesar de não ser a intenção principal do projeto, os trabalhos trouxeram benefícios ao Município, como por exemplo, a liberação de gases nocivos através das perfurações feitas pela equipe. As vantagens à sociedade poderão ser ainda maiores. Isto porque o relatório final deverá ajudar a definir diretrizes para um futuro programa de recuperação ambiental.
Ollani explicou que, assim como todo projeto arqueológico, sua tese deverá decifrar comportamentos através da análise de objetos. Futuramente, ele poderá levar o mesmo trabalho para outras cidades. "Podemos descobrir se há uma cultura de desperdício, saber quais são os produtos mais consumidos, por exemplo**, diz. Um dado interessante destacado pelo profissional foi a quantidade de moedas encontradas nas amostras. "O leque de variedades é enorme. Mas as moedas chamaram a atenção da equipe porque revelam uma cultura de extremo desperdício", acredita.
O mesmo desperdício pôde ser detectado quando o engenheiro descobriu alimentos que não sofreram decomposição. Um pedaço inteiro de bisteca, ainda vermelha, milhos e algumas verduras são exemplos. Ollani explica cientificamente o fenômeno. "Nós fizemos perfurações de 13 metros, de onde tiramos o nosso lixo. Nesta camada, como não há oxigênio, não existe possibilidade das bactérias agirem. Daí a explicação para a preservação depois de tanto tempo", informa.
A Prefeitura liberou a entrada do pesquisador na Volta Fria e os trabalhos estão sendo custeados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os buracos abertos durante a escavação beneficiaram a Administração Municipal. "Quando fizemos as perfurações, alguns gases foram liberados, o que diminuiu o risco de alguma explosão ou intoxicação de alguém no lugar", conta o engenheiro.
A pesquisa de Ollani foi dividida em quatro partes: formação da equipe - ele conta com a ajuda de alguns estudantes-, detalhamento geográfico para definir o melhor lugar para abertura dos buracos, escavação - que durou três dias - e análise do material colhido. Na última etapa, o pesquisador, ao lado da equipe, avaliará cada um dos 300 sacos de lixo retirados do local, com o peso de seis quilos cada um. Pode ser que seja necessária mais escavação. "Se as amostras não forem suficientes, vamos a campo novamente", diz.
Ollani, além do relatório que entregará à Universidade, pretende escrever um livro sobre o assunto no futuro.
Notícia
O Diário (Mogi das Cruzes)