Está concluído o seqüenciamento genético de uma linhagem da bactéria Xylella fastidiosa que causa a doença de Pierce em plantações de uva na região da Califórnia, forte pólo vinícola dos EUA. O estudo foi publicado em fevereiro deste ano e o banco de dados está publicamente disponível desde dezembro de 2002.
O projeto foi coordenado pelas biólogas Mariana Cabral de Oliveira e Marie-Anne Van Sluys, professoras do Instituto de Biociências (IB) da USP e pelo professor João Setúbal, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Laboratório de Biologia Molecular de Plantas, do IB, integra um grupo de 20 laboratórios do estado de São Paulo, chamado Agronomical and Enviromental Genomes. O estudo teve inicio por meio de um convênio estabelecido entre o grupo e entidades norte-americanas que auxiliaram no financiamento da pesquisa.
A Xylella é transmitida por um inseto hospedeiro e pode bloquear os vasos que transportam água e sais pela planta, que definha e possivelmente morre. A bactéria tem diversas linhagens, classificadas como parte da mesma espécie, que atingem cultivos específicos, como amora, laranja, café e amêndoa.
A seqüência completa da Xylella da doença de Pierce demorou dois anos para ser finalizada. Em três meses, 95% do seqüenciamento já estava pronto. "Os 5% restantes são sempre muito difíceis de seqüenciar. Foi preciso preencher os 'buracos' e montar os 'pedaços' em ordem", explica Mariana.
Com o seqüenciamento finalizado, os pesquisadores se concentraram na fase da anotação, ou seja, foram identificados os 'pedaços' que codificavam cada proteína. A pesquisadora ressalta que essa etapa é minuciosa; cada gene foi visto por três ou quatro pessoas, para conferir que não existiam erros de interpretação.
SEGUINDO PASSOS
Os estudos começaram em 2000 e seguiram os passos do seqüenciamento de genes da bactéria Xylella fastidiosa brasileira, concluído pela rede ONSA (sigla em inglês de Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no mesmo ano. No Brasil, essa variação da bactéria causa a praga do amarelinho - principal doença que atinge as plantações cítricas.
A bióloga explica que a "Xylella do amarelinho" era praticamente desconhecida antes do seu seqüenciamento, apesar de ser, há muito tempo, um importante problema para a agricultura brasileira. "O nome fastidiosa indica que a bactéria cresce muito lentamente em condições laboratoriais, por isso era muito difícil estudá-la até então." Com a seqüência genética decifrada, foi possível desenvolver um meio de cultura mais eficiente para acompanhar a Xylella brasileira em laboratório.
A análise dos resultados da Xylella que ataca as uvas ainda está em andamento. Chamada de genoma funcional, essa etapa final é a mais demorada da pesquisa. Nela, procura-se explicar como a bactéria utiliza sua informação genética. Poderão ser esclarecidos alguns processos: como se dá a interação com a planta, a interação com o inseto e as maneiras de impedir que a praga se instale no cultivo, entre outros.
Mariana acredita que as semelhanças entre as duas linhagens da Xylella facilitam o trabalho de pesquisa para conhecer e controlar a praga das videiras. "Utilizamos o mesmo método desenvolvido no estudo da Xylella causadora do amarelinho, com a vantagem de saber o que funcionava melhor. Além disso, estamos constantemente trocando informações com os laboratórios norte-americanos, o que agiliza a evolução dos estudos", diz.
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Agência USP de Notícias