A COVID-19 continua intrigando médicos e pesquisadores mundo afora, e na semana passada, um inusitado sinal da doença chamou a atenção de cientistas na Espanha. Trata-se de uma nova afecção da mucosa oral, mais especificamente no dorso da língua, que aparentemente está ligada ao coronavírus. Já apelidada de "língua de COVID-19", as manifestações que surgem nos pacientes lembram ulcerações por despapilação (o que causa um aspecto liso, sem as papilas da língua, avermelhado).
Publicado na revista especializada British Journal of Dermatology, o estudo sobre a língua de pacientes diagnosticados com a COVID-19 foi liderado pela dermatologista Almudena Nuño González, do Hospital Universitário La Paz, em Madri, na Espanha.
"É uma língua dilatada, como se estivesse inchada, na qual se veem as marcas dos dentes [como na imagem A], e também pode estar despapilada [como na imagem B], com áreas de seu dorso com pequenas crateras formadas onde as papilas estão achatadas. Vê-se como uma língua com manchas rosadas”, afirma González.
Para que o achado fosse documentado, 666 pacientes foram acompanhados na pesquisa em abril do ano passado. Todos apresentavam casos de pneumonias leves ou moderadas e tinham, em média, 56 anos. Mais de 25% dos voluntários internados apresentavam alguma alteração na mucosa oral, como a papilite lingual transitória (11%) — uma doença inflamatória que causa pequenas protuberâncias na língua —, úlceras bucais (7%), língua dilatada com marcas dos dentes nos laterais (7%), sensação de ardência (5%) e inflamação da língua com a despapilação (4%).
“É uma descoberta que pode auxiliar no diagnóstico, como a perda do olfato ou do paladar. São sintomas muito característicos”, explica a médica que encabeçou o estudo.
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Entra COVID-19, sai câncer: um caso inusitado
Nosso sistema imune é uma máquina poderosa e, também, surpreendente. Uma notícia que bombou na semana passada envolve um caso clínico de um homem que, portador de linfoma de Hodgkin clássico em estágio III (um tipo de câncer que infecta os gânglios na região do diafragma), acabou por contrair COVID-19 e viu seus tumores regredirem até a total remissão da neoplasia.
Pouco depois de ter sido diagnosticado com o coronavírus, o homem precisou ser internado por estar sofrendo de falta de ar e pneumonia, consequências da infecção pelo SARS-CoV-2. Onze dias depois, ele recebeu alta para se recuperar em casa, sem se tratar com imunoterapia ou com o uso de corticosteroides, drogas receitadas tanto para o câncer quanto para auxiliar no tratamento da COVID-19.
Para a surpresa do paciente e dos médicos que o acompanhavam, após quatro meses de recuperação, o inchaço dos nódulos do linfoma havia sido reduzido, o que foi confirmado através de uma tomografia. Mas, qual a explicação?
Assim como acontece com outras doenças, muito provavelmente, o sistema imune do paciente trabalhou pesado para combater os agentes infectantes e gerou uma resposta mais agressiva, que acabou por contra-atacar o câncer. Segundo a pesquisa, a presença do coronavírus no organismo ativou uma espécie de resposta imune antitumoral, que consiste na ativação de células T específicas com antígenos tumorais e de células que reagiram contra o tumor.
E isso não é uma novidade na medicina: apesar de a COVID-19 ser uma doença nova, casos semelhantes já foram registrados anteriormente em outros tipos de linfomas, que tiveram remissão espontânea após casos de pneumonia infecciosa e inflamação intestinal, por exemplo.
Primeiros casos de coinfecção com duas cepas diferentes de coronavírus no Brasil
Depois que o coronavírus ganhou o mundo e a pandemia se instaurou, várias mutações já aconteceram — o que é normal, aliás, de região para região. Mas três das mais recentes têm chamado a atenção das autoridades no mundo todo: a do Reino Unido; a da África do Sul; e a do Amazonas. E, aqui no Brasil, já temos casos de pessoas infectadas com dois tipos de coronavírus diferentes. Sim, isso mesmo: duas variações, do mesmo vírus, causando COVID-19 em uma só pessoa.
Aí você deve estar se perguntando: puxa, se tem uma doença instalada no organismo com dois patógenos geneticamente diferentes, o paciente desenvolve sintomas mais graves? Não exatamente. Em específico, a coinfecção foi observada em dois adultos, de 30 e 32 anos, moradores de cidades diferentes do Rio Grande do Sul. Ambos desenvolveram um quadro de leve a moderado da infecção por coronavírus, não precisando de internação hospitalar.
Uma das linhagens presentes nos dois casos é a P.2, identificada pela primeira vez no Rio de Janeiro e que carrega a mutação E484K. Essa mutação pode permitir que coronavírus escape, com mais eficiência, do ataque de anticorpos e também foi encontrada na variante da África do Sul. Além da variante P.2, o levantamento também encontrou uma variante gaúcha do coronavírus, chamada VUI-NP13L.
Ao jornal O Globo, Fernando Spilki, um dos pesquisadores do estudo gaúcho explicou que a coinfecção serve de alerta, pois mostra que a recombinação de genomas virais pode ocorrer, e daí, gerar novas cepas, inéditas. "Possivelmente, teria sido assim que o SARS-CoV-2 passou de morcegos para o ser humano", idealiza, ressaltando a importância de vacinar o maior número de pessoas possível o quanto antes.
Vacinação dá certo em Israel
E por falar em vacinação... em Israel, os resultados da campanha de vacinação são bastante promissores: segundo as autoridades locais, o país já administrou pelo menos uma dose de vacina contra COVID-19 em mais de 2,5 milhões de cidadãos (ao todo, o país conta com nove milhões de habitantes). Por lá, o imunizante utilizado é o da Pfizer/BioNTech. A segunda dose já foi aplicada em mais de um milhão de pessoas.
Os números impressionam: de acordo com uma análise de dados coletados pela Maccabi Healthcare Services, de um grupo de 128,6 mil pessoas que receberam as duas doses da vacina (o que representa uma imunização completa), apenas 20 foram contaminadas pelo coronavírus. O número representa 0,01% de contaminações. E, mesmo que o número seja baixíssimo, essas pessoas não desenvolveram sintomas moderados ou graves, e sim um quadro leve da doença, que não demandou internação.
Com isso, Israel espera retomar suas atividades, de maneira significativa, no mês que vem. Vale comentar que, desde o último domingo (24), o país começou a imunizar jovens de 16 a 18 anos — com permissão dos pais — com a vacina da Pfizer, ampliando ainda mais o acesso à vacina contra a COVID-19. Além do mais, a população israelense já demonstrava mais aceitação em matéria de distanciamento social e medidas preventivas.
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Variante de Manaus pode estar circulando em todo o Brasil
Na terça-feira passada (26), o governo de São Paulo confirmou três casos diagnosticados da variante P.1, encontrada originalmente em Manaus (AM) — o primeiro registro oficial de que a mutação teria chegado a outro estado brasileiro. E pesquisadores já estão alertando para a alta circulação do vírus, que provavelmente já está "rodando" em todo o país, embora não tenha sido, ainda, identificada em cada região.
É o caso do epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia). Para ele, a variante já está, certamente, circulando em todo o Brasil. "Não é possível que tenham achado em outros continentes e não tenha chegado a outros Estados", afirmou o pesquisador para a BBC Brasil.
O profissional, aliás, já enxerga indícios de que essa nova variante seja mais infecciosa e mais mortal que muitas linhagens já conhecidas. "Estamos começando a achar que essa variante pode realmente causar danos maiores que as outras", defendeu.
Sobre a variante de Manaus, cabe lembrar que, antes do Brasil, quem a identificou primeiro foi o Japão — após quatro pessoas terem passado por Manaus e desembarcado em Tóquio, carreando o vírus. Os Estados Unidos também identificaram pacientes contaminados com a nova cepa. A origem é a mesma, já que essas pessoas estiveram no Brasil e viajaram para lá.
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Prática de atividade física pode não ter relação com casos menos graves de COVID-19
Uma pesquisa recente realizada pela USP colocou em xeque o chamado "histórico de atleta" de pacientes contaminados pelo coronavírus e o tipo de reação do organismo em relação à doença. De uma maneira lógica, pessoas que praticam atividade física regularmente têm respostas imunes mais rápidas e precisas contra patógenos, mas no caso da COVID-19, isso pode não ser bem assim.
Foram avaliados 209 pacientes diagnosticados com casos graves da COVID-19, internados no Hospital das Clínicas da USP e no hospital de campanha do Ibirapuera. A conclusão do estudo (ainda não avaliado por outros pesquisadores), é de que o hábito de se exercitar não foi determinante para o melhor enfrentamento da doença em pacientes internados.
“Esse estudo serve como um sinal amarelo para a população que se exercita com regularidade e, por isso, acredita estar totalmente protegida. Não encontramos diferença de prognóstico e desfecho da doença entre os pacientes graves mais ou menos ativos. Isso mostra que os benefícios da atividade física existem, mas aparentemente vão só até um ponto da gravidade da doença”, explicou o professor da FM-USP e autor do estudo, Bruno Gualano, para a Agência Fapesp.
Segundo Gualano, apesar dos efeitos benéficos da prática de exercícios físicos na imunidade humana, outras variáveis podem determinar a gravidade da doença em pacientes, independentemente do histórico de atleta ou de praticante de esportes. “O exercício físico tem um efeito sistêmico. Melhora a resposta imune e as condições metabólicas e cardiovasculares do indivíduo. Esses fatores podem trazer proteção contra diversos tipos de doenças crônicas e algumas infecciosas, também. Mas, quando o quadro se agrava, outros preditores podem ser mais decisivos para o desfecho clínico”, explica.
Mas, que preditores seriam esses? É preciso avaliar o quadro clínico completo do paciente internado e definir se ele sofre de comorbidades, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, e/ou idade avançada. Ao levar todos esses fatores em consideração, a prática de atividade física, sozinha, não alcança o potencial desejado, já que o sistema imune desses pacientes já se encontra sobrecarregado por outras patologias, por exemplo.