Notícia

Gazeta Info (Limeira,SP)

Limeira ajuda Unicamp a ser líder em patentes (1 notícias)

Publicado em 09 de novembro de 2011

Por Daíza Lacerda

Duas das mais importantes invenções do mundo têm brasileiros entre as controversas autorias das ideias. Enquanto o patriotismo leva à defesa de Santos Dumont como o inventor do avião e do padre Landell de Moura como o pioneiro nas transmissões radiofônicas, as literaturas trazem como concorrentes os irmãos Whright e Guglielmo Marconi, respectivamente. Mas, afinal, como definir o autor de uma invenção?

Mais de um século após ideias que mudaram a comunicação e o transporte, necessidades contemporâneas primordiais, o Brasil continua cheio de inventores. E a maioria deles está na Petrobras e Unicamp que, entre as universidades, lidera o registro de patentes, com 272 entre 2004 e 2008, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em julho. Entre elas estão projetos de pesquisadores da Faculdade de Tecnologia (FT/Unicamp).

Para ser "pai" de uma ideia com pretensões de registrá-la, a primeira pergunta a ser feita é se o que está se propondo é inovador, explica Rangel Arthur, professor de Tecnologia em Telecomunicações, da FT. "O início já é um grande desafio, pois é necessário fazer pesquisas para saber se já existe algo igual ou parecido com o que se planeja desenvolver. Às vezes isso demora mais do que a execução do projeto em si", explica.

A universidade conta, desde 2003, com a Agência de Inovação Inova Unicamp, que otimizou e alavancou o número de patentes. Nos cursos da FT, desde o primeiro ano o aluno é incentivado a pensar no projeto que desenvolverá no final de sua graduação. "Os alunos motivam-se bastante. A teoria é importante, mas quando chegam à parte prática, muitos passam noites desenvolvendo seus protótipos. Esse é um diferencial do curso de tecnologia, pode-se criar algo aplicável", salienta Arthur.

"MADE IN" LIMEIRA

Entre os pesquisadores que lecionam na unidade de Limeira, Cristiano Gallep, da área de comunicações ópticas e dispositivos fotônicos, registrou sua primeira patente em 2002, que teve desdobramentos em seu doutorado.

O primeiro projeto foi um método de controle de chaves ópticas. "É como um interruptor, mas para redes ópticas, que reduz o tempo de comutação em até dez vezes". O método desenvolvido possui grande importância nas redes ópticas desenvolvidas para as próximas gerações, para as quais será necessário o chaveamento direto dos pacotes ópticos, uma vez que apresentam a necessidade de aplicações em altas taxas. O invento é aplicável em data centers, como grandes centros de processamento, no controle do caminho de circuitos ópticos

Outro estudo em andamento para uma nova patente é o apagamento de informação nas redes ópticas para reúso de canais em redes como de TV e telefone. "Isso proporciona economia de recursos materiais, com demanda de menos componentes", salienta.

Ele avalia que aumento muito o suporte para pesquisadores. "Hoje temos maior amparo técnico e jurídico, com análise se os projetos são pertinentes e documentação da parte legal".

TV DIGITAL

O próprio professor Arthur é autor de uma patente, registrada em 2010, e está finalizando uma outra. A já consolidada é uma nova técnica utilizada para compressão de vídeo digital. "A banda do sinal digital é maior do que a de sinal analógico, e precisa ser comprimida antes da transmissão, sendo realizado o processo inverso no receptor do usuário", explica. O firmware, que é o programa desenvolvido para o chip do receptor, torna a transmissão mais rápida e menos complexa, com economia de 70% no processamento. A "sobra" poderia ser utilizada para interatividade, o que ainda é promessa na transmissão digital no Brasil e otimiza o uso do equipamento, que o governo prevê popularizar.

A patente que Arthur está finalizando trata-se de um receptor digital de TV digital inteligente, que "ajuda" o usuário na hora da instalação para a recepção digital. Se o problema for de posicionamento da antena ou cabeamento, o equipamento emite avisos e agiliza o processo. Outra funcionalidade é enviar, por meio de um canal de retorno, uma medida da qualidade do sinal recebido em casa, o que é útil tanto para as emissoras quanto para as agências reguladoras. Dessa vez o trabalho não foi só na programação de microchips, mas com a modificação a partir de um aparelho convencional.

O invento já teve a patente pedida, mas o processo ainda é demorado. "O Brasil não tem a cultura de criar patentes, mas a Agência de Inovação tem incentivado", relata Arthur.

Além de auxílio ao pesquisador, a maioria dos projetos das universidades do Estado é patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de órgãos de fomento à pesquisa que concedem bolsas como CAPES e CNPq.

Apesar do tempo exigido, o processo já foi mais difícil. "As universidades estão mais preparadas e os pesquisadores, com mais orientações". Há também regras. Durante o processo, o projeto não pode ser publicado como artigo científico. "Isso pode criar uma tendência de maior cobrança de patentes", opina, como forma de os projetos "saírem do papel".