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Correio Popular (Campinas, SP) online

Líderes honram a memória de Rogério Cerqueira Leite (29 notícias)

Publicado em 03 de dezembro de 2024

Um dos físicos mais respeitados do país, professor teve papel decisivo para viabilizar a construção da primeira fonte de luz síncrotron do Hemisfério Sul

Autoridades do meio político e entidades ligadas à ciência destacaram as contribuições do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite para a consolidação e avanço do conhecimento científico, tecnologia e inovação no Brasil. Ele foi um dos físicos mais respeitados do País, com uma longa história ligada à Unicamp e ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Cerqueira Leite teve um papel decisivo para viabilizar o projeto e a construção da primeira fonte de luz síncrotron do Hemisfério Sul, que veio a se tornar o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). O acadêmico faleceu em Campinas na madrugada do último domingo, dia 1, aos 93 anos de idade.

Graduado em Engenharia Eletrônica e Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1958, o professor fez doutorado em Física de Sólidos pela Universidade de Paris (Sorbonne) em 1962 e trabalhou como pesquisador nos Laboratórios Bell nos EUA entre 1962 e 1970. Ele lecionou no ITA, na Universidade de Paris e na Unicamp, onde dirigiu o Instituto de Física e o Instituto de Artes da universidade na década de 1970.

Em nota assinada pela reitoria, a Unicamp lamentou profundamente o falecimento do professor Cerqueira Leite. A universidade destacou a dedicação dele durante a vida para a pesquisa e o ensino. "Sua trajetória, marcada por uma intensa atividade acadêmica e um profundo engajamento com o desenvolvimento do país, deixou contribuições inestimáveis para a Unicamp, da qual é professor emérito, e para a ciência brasileira", informou.

O CNPEM, instituição que teve o cientista como presidente de honra e presidente do Conselho de Administração, ressaltou o papel dele como um dos principais defensores do Projeto Sirius. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) também se manifestou a respeito do falecimento do professor, integrante do Conselho Superior da entidade entre os anos de 1976 e 1982. Segundo o presidente da FAPESP, o ex-reitor da USP Marco Antonio Zago, a morte do cientista "deixa a ciência brasileira menor".

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos) lamentou a partida do professor Cerqueira Leite. "Perdemos hoje um dos principais cientistas do País". O presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) também se manifestou à respeito da morte do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite. Ele classificou o acadêmico como "um dos nossos maiores cientistas e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da pesquisa e avanços da ciência no Brasil.

BIOGRAFIA

Cerqueira Leite nasceu em Santo Anastácio (SP), em 14 de julho de 1931, descendente de uma família de fortuna arruinada. Filho de uma poetisa e de um advogado, delegado de polícia do interior de São Paulo, ele contava ter crescido entre soldados e detentos e adolescido no palacete da avó, na Avenida Angélica, em São Paulo. Do passado aristocrático, herdou o gosto por arte, cinema, música clássica e, sobretudo, pela ópera.

O ingresso de Cerqueira Leite no ITA, em 1953, foi um desvio de rota. Craque em matemática, preparava-se para o vestibular da Escola Politécnica da USP quando um tio, capitão da Aeronáutica, o levou para conhecer o ITA. Descobriu que os alunos recebiam uma bolsa de estudos e uma pequena ajuda de custo do Ministério da Aeronáutica. Fez as contas e preteriu a Poli.

Em 1960, já professor assistente no ITA, deixou o Brasil para um doutoramento na Sorbonne, Paris, com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na Sorbonne, teve como orientador Pierre Aigrain, pioneiro da física de estado sólido e de estudos com semicondutores. Defendida a tese voltou ao ITA em 1962, pelo período de um semestre. Após uma passagem por uma empresa localizada nos Estados Unidos, retornou ao Brasil em 1970 a convite do professor Zeferino Vaz, então reitor da Unicamp, para assumir a direção do Departamento de Física do Estado Sólido da universidade campineira.

Já no final da década de 1970, Cerqueira Leite habitava "um país chamado ostracismo", conforme ele dizia, e aceitou o convite de Octávio Frias de Oliveira, dono da Folha de S.Paulo, para editar a página de Opinião do jornal. Foram dois anos de viagens diárias entre Campinas e São Paulo até ser surpreendido com a indicação para o cargo de vice-presidente da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), estatal paulista distribuidora de energia para o interior do Estado. Em cinco anos de gestão (1983-1987), transformou a distribuidora numa empresa de energia com a instalação de um centro de P&D em biomassa.

No início dos anos 1980, o Brasil iniciou o projeto de construção da primeira fonte brasileira de luz síncrotron do hemisfério Sul. O empreendimento, orçado em US$ 70 milhões, era o maior investimento já realizado em um único equipamento de pesquisa no país e encontrou forte resistência da comunidade científica à época. O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, inaugurado em 1997.

Em meados de 2000, por solicitação do então ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, Cerqueira Leite coordenou projeto de avaliação da produção do etanol no Brasil e das perspectivas de expansão. Foi Secretário da Cultura da Prefeitura Municipal de Campinas em 2005.