Muitas teorias sobre o êxito econômico do Leste da Ásia são controvertidas. Os economistas discutem a importância da política industrial; os críticos culturais debatem a existência de "valores asiáticos". Mas há uma explicação que é acolhida com quase unanimidade: a importância que os governos atribuem ao ensino.
O sucesso que países como a Coréia do Sul e Taiwan conseguem com a educação de suas crianças é freqüentemente tido como um exemplo para países mais pobres rio Sudeste Asiático e na África. Mas as comparações internacionais também mostram regularmente que as crianças do Leste da Ásia possuem melhores conhecimentos de matemática e ciências do que os alunos dos países ocidentais. No Estudo de Competitividade Mundial de 1995, Cingapura e Taiwan foram classificados em primeiro e terceiro lugar, respectivamente, na capacidade de seus sistemas educacionais atenderem "às necessidades de uma economia competitiva".
Uma das características mais notáveis de países como Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul é a ênfase que deram a elevar ò nível educacional de toda a população, em vez de só da elite. Além disso, os países em desenvolvimento que investiram intensamente na educação primária apresentaram um desempenho econômico muito melhor do que os países que se concentraram mais na educação universitária. Em 1960, era aproximadamente igual o nível econômico dos paquistaneses e dos sul-coreanos. Mas apenas 30% das crianças paquistanesas estavam matriculadas em escolas primárias, em comparação com 94% das coreanas. Um quarto de século mais tarde, em meados dos anos 80, o Produto Interno Bruto per capita da Coréia do Sul era três vezes superior ao do Paquistão. Mesmo que seja difícil provar uma relação direta, os dados são certamente sugestivos.
Mas não são apenas os países em desenvolvimento que têm os olhos voltados para os tigres do Leste da Ásia. Especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, os debates sobre a educação foram moldados nos últimos tempos por teses sobre o que os asiáticos estão fazendo corretamente e o que os ocidentais estão fazendo de maneira errada. Os testes de alunos parecem mostrar que os melhores do Ocidente igualam-se aos melhores da Ásia. A grande fraqueza das nações ricas — é um dos motivos de suas notas de testes parecerem tão ruins, comparadas com as dos asiáticos - é que um número muito maior de crianças ocidentais fracassam na escola. Estas, as fracassadas, acabam na periferia do mercado de trabalho, e, não raro, nas filas da previdência social. O declínio constante, no Ocidente, dos salários dos trabalhadores não-especializados sugere que deverão aumentar não só os custos sociais do fracasso educacional como o ônus para os cofres públicos.
VANTAGENS CULTURAIS
Ao contrário dos países do Sul da Ásia e da América Latina, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não podem atribuir a culpa de seu fracasso relativo à falta de educação primária universal. Assim, alguns ocidentais estão inclinados a se resignar, alegando que as crianças da Ásia Oriental são naturalmente mais aplicadas ou/até mais inteligentes (uma conclusão com que muitos asiáticos podem tranqüilamente concordar). Seja como for, as realizações das crianças asiáticas criadas no Ocidente sugerem que os fatores culturais, como o apoio familiar, ajudam a explicar a diferença. Nos Estados Unidos, o sucesso dos filhos de imigrantes asiáticos em conseguir admissão em universidades de elite como Harvard e a Universidade da Califórnia foi marcante a ponto de dar margem a alegações de discriminação contra os asiáticos, à medida que as universidades procuram manter um equilíbrio étnico entre seus estudantes.
Só copiar métodos de ensino pode não compensar as vantagens culturais, como o profundo compromisso dos pais com o ensino. Na Coréia do Sul, em Taiwan e no Japão, muitos pais mandam seus filhos a cursos intensivos à noite para complementar suas lições diurnas. Os exames dominam a vida dos jovens desses países, bem mais do que no Ocidente. Talvez não ajude a tornar a adolescência mais agradável, mas provavelmente eleva as notas.
É improvável que o Ocidente adquira, de repente, os valores culturais dos asiáticos. Mas isso não impede que ele aprenda com os tigres. A característica mais impressionante de seus sistemas educacionais é a crença de que todos podem e devem ser bem-sucedidos. Em Taiwan, por exemplo, espera-se de cada aluno que alcance um nível básico de realização até a idade de 12 anos. As classes nos primeiros três ou quatro anos são de capacidade mista. Os alunos que ficam para trás recebem aulas especiais em classes de recuperação. As escolas primárias tendem a ser muito mais iguais entre si, do que no Ocidente, em termos da verba por aluno, o número de alunos por classe e a proporção de alunos que se classificam nos exames. A "escola de reprovados", comum na Inglaterra, inexiste em Taiwan.
CARGA HORÁRIA
Outros fatores também podem contribuir para o sucesso dos tigres. Seus alunos têm uma carga horária maior, com mais dias no ano letivo e mais horas de aulas por dia. Os objetivos educacionais são reduzidos ao mínimo: debate-se pouco sobre a natureza das matérias, enquanto os professores concentram-se na absorção de fatos por seus alunos. Um relatório diário sobre o progresso de cada aluno é fornecido aos pais e o diretor da escola fiscaliza aleatoriamente os deveres de casa, tanto para acompanhar o progresso do aluno como para monitorar o desempenho do professor da turma. Os professores desfrutam considerável respeito e prestígio e são relativamente bem pagos, comparados com seus colegas no Ocidente.
O exemplo asiático está começando a influenciar a política educacional dos governos ocidentais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, esse exemplo contribuiu para um retorno aos hábitos antigos de se realizarem testes regulares e de se ensinarem as mesmas lições à classe inteira.
Ironicamente, entretanto, alguns educadores asiáticos começam a manifestar dúvidas sobre seus próprios métodos. A força de seu sistema educacional, com destaque para disciplina, fatos e aprendizado por repetição, também pode ser sua fraqueza. Alguns países asiáticos mais avançados, como o Japão e Taiwan, receiam que seus métodos didáticos atuais estejam tolhendo a criatividade e engenhosidade dos alunos, o que poderá ter, no futuro, um preço econômico. O setor industrial, com a ênfase que dá aos sistemas e ao trabalho em equipe, recompensa o tipo de aluno disciplinado e abarrotado de conhecimentos factuais que é o produto típico do sistema educacional dos tigres. Mas o que se diz dos setores de serviços, mais criativos, em que os países asiáticos estão hoje atrasados em relação aos Estados Unidos - como a criação de software ou o entretenimento?
Yuan-Tseh Lee, que preside uma comissão encarregada de estudar a reforma educacional em Taiwan, critica em termos ásperos o sistema de exames e sua incapacidade de identificar e estimular o talento original. Da mesma maneira, Hiroyaki Yoshikawa, o reitor da Universidade de Tóquio observa que os empregadores japoneses estão se queixando cada vez mais de que os novos diplomados não conseguem pensar por si. Ele lamenta que os estudantes que retornam ao país do Ocidente mostram-se inicialmente cheios de entusiasmo e idéias, mas que essa efervescência logo se dissipa sob a pressão do sistema japonês: A criatividade e a independência, entretanto, não são qualidades que podem ser prontamente manufaturadas. Uma grande mudança pode levar décadas.
DOUTORADOS NOS EUA
Enquanto isso, os tigres de mais longa data estão redirecionando suas prioridades educacionais para a educação universitária. Nos Estados Unidos, em 1990, estudantes procedentes de Taiwan, China e Coréia do Sul representaram mais de 10% dos doutorados em ciências e engenharia nas universidades dos Estados Unidos, o que é um legítimo motivo de orgulho asiático, mas também um comentário sobre a situação das universidades de seus próprios países. Em 1991, em um levantamento comparativo dá percentagem de jovens entre 20 e 24 anos de idade que estavam matriculados em cursos superiores, a Coréia do Sul ficou em décimo lugar, Cingapura em décimo primeiro e Taiwan em Vigésimo, com o Canadá e os Estados Unidos no topo do "ranking". Mas mudanças estão a caminho. Taiwan espera elevar a proporção de seus jovens que ingressam em universidades dos atuais 18% para 30% em 2000. Como nos países ocidentais, está em andamento uma enorme expansão do ensino universitário. Com o Oriente e o Ocidente reformulando seus sistemas educacionais, as lições fluirão em ambos os sentidos.
Notícia
Gazeta Mercantil