Pesquisadora de Sorocaba, que já foi convidada para substituir aula do renomado Jorge Coli, dá palestra hoje na Grande Otelo
Ela é do mesmo grupo de pesquisas de Luiz Marques, ex-curador-chefe do Masp, e já substituiu, em uma aula, ninguém menos que Jorge Coli, um dos mais importantes historiadores da arte do Brasil (que medo! era muita responsabilidade, mas correu tudo bem). Em suas diversas pesquisas já viajou, com bolsas de estudo, para Londres, Pisa, Pádua e Ferrara, e chegou a conhecer Ernst Gombrich, um dos maiores historiadores da arte no mundo, autor de livros que compõem a bibliografia básica da área.
Esse é um breve currículo da pós-doutorada Nancy Kaplan, de Sorocaba, que faz palestra gratuita hoje, às 19h, na Oficina Cultural Grande Otelo (Praça Frei Baraúna, s/nº). Pesquisadora da Unicamp e membro da Academia Sorocabana de Letras, Nancy Kaplan é, sem dúvida, uma das grandes intelectuais da cidade. De fala mansa e delicada, ela está sempre disposta a uma conversa interessantíssima sobre a História da Arte. Num bate-papo rápido com Nancy é possível se deixar levar pelos séculos XV e XVI. Costumo brincar com meus amigos que o pessoal mais atual que conheço é do século XV. Grande parte da minha vida foi vivida dentro desse período, explica a pesquisadora.
Na palestra de hoje ela discorrerá sobre a Arte como representação de poder no século XV. Segundo o material de divulgação, a palestrante analisará o tema através de imagens de um objeto artístico, no caso, a sala de representação, conhecida como Câmera Picta (Sala Pintada) do Palácio Ducal de Mântua (em italiano Mantova). Apesar da especificidade do tema, o interessado em conhecer um pouco do trabalho de Nancy não deve se assustar, pois a pesquisadora é bastante didática em suas explanações e, em sua aula, traz informações curiosas e poéticas da história . Gosto muito de dar aulas, um contraponto bom ao trabalho de pesquisa, sendo enriquecedor o contato com os alunos, comenta.
Para entender o belo
E foi para entender o belo que Nancy resolveu iniciar suas pesquisas em História da Arte. Essa coisa de ser pesquisador, como em qualquer profissão, é uma mistura de vocação, paixão e muito, muito trabalho. Pessoalmente, o momento mágico foi quando entrei pela primeira vez no Masp, ainda na sua forma antiga, em que todas as obras se encontravam na mesma sala nos cavaletes de vidro da Lina Bo Bardi. Foi um deslumbramento, mas eu não sabia o que estava vendo, só que era bonito demais. Ali, ficou decidido o que faria na vida: entender o que era tão belo. Pretensão dos meus 16 anos. Não sabia que o que eu desejava tem um nome: fruição artística.
Atualmente, Nancy se dedica, principalmente, a pesquisas relativas a Giorgio Vasari (considerado o primeiro historiador da arte, que viveu no século XVI), e às imagens das cartas de tarô. Pesquiso a origem e desenvolvimento das imagens dos maços históricos de cartas do tarô, belíssimos, todos do século XV, explica.
Em relação a Vasari, Nancy, junto a um grupo coordenado por Luiz Marques, está trabalhando na tradução da obra Vidas, que traz 120 biografias dos maiores artistas italianos. É o texto fundador da historiografia da Arte, importante para os estudantes da matéria. O trabalho é lento, meticuloso, praticamente palavra por palavra, já que é o toscano do século XVI e muitos termos precisam ser desvendados. Trata-se de uma tradução anotada e comentada, o que implica em muita pesquisa, revela.
Além disso, Nancy participa de um projeto temático apoiado pela Fapesp coordenado por Luciano Migliaccio, italiano que conhece arte e literatura brasileiras melhor que muitos de nós.
Mesmo envolvida em tantas pesquisas e estudos, aos 55 anos, Nancy diz que se considera cada vez mais ignorante. A gente vai estudando e abrindo mais portas e vendo que ainda tem muita coisa a aprender. Considero que ainda estou começando. Mas a pesquisadora não se deixa afligir e mira-se no exemplo de Gombrich, que pôde conhecer em Londres quando o historiador já tinha 88 anos e continua completamente envolvido com os estudos. Tive a imensa sorte de assistir a uma conferência dele. A sala estava lotada, tinha gente do mundo inteiro, todos encantados em ouvir o historiador de 88 anos discorrer sobre a sua pesquisa. Quando acabou, passei na secretaria e perguntei se tinha o texto da palestra. A resposta foi: mas ele ainda está pesquisando! O que é alentador porque significa que o trabalho continua. Isso foi em 1997 e Gombrich morreu 4 anos depois, sempre pesquisando. Portanto, vamos concluir que a idade só melhora o pesquisador ..., finaliza.